Os amigos de nossos gatos

Dimitri e Lola, o amor em forma felina

           Não nos conhecemos num momento muito bom... pelo menos nada bom para ele.
           Vi-o numa clínica veterinária e soube, no dia seguinte, que ele havia sido deixado pelo casal que o adotara, por motivo de separação.
           Há três dias ali, já não estava comendo e dormia dentro da caixinha de areia.
           Seu semblante triste, sua magreza e as costas tosadas, delatavam o infeliz histórico daquele persa, há dois meses de completar dois anos.
           Foi-me pedido, então, que eu ficasse com ele, pois diante daquele quadro, ele precisaria de alguém que lhe oferecesse muito mais que uma casa e comida.
           Eu convivi com animais desde minha infância e gatos sempre foram minha paixão. No entanto, atualmente fico pouco tempo em casa e moro sozinha.
           Levei uma tarde pensando... e a decisão veio como algo irreversível.
           Fui até a clínica, visitei-o novamente e ficou combinado que no sábado eu o levaria, com todas as recomendações inerentes a quem adota um persa. Cuidados com pelo, olhos, alimentação...
           Vi-me muito disposta e ao mesmo tempo apreensiva, afinal, e se ele não se adaptasse?
           Após dias sem sair debaixo da última cama do último quarto (a não ser quando eu estava ausente), aos poucos ele foi mostrando a cara. Corria quando me via e reaparecia como que querendo fazer contato.
           Eu estava aliviada, pois ele estava comendo.
           Na sexta-feira à noite, enfim, sentei no chão da sala e ele tentou se aproximar, uma, duas, três vezes... até que chegou perto, eu estiquei a mão e ele cheirou. Nunca mais perdemos o contato!
           Tenho impressão que Dimitri é o gato mais feliz do mundo e eu, a mãe igualmente mais feliz.
           No início estranhei seu nome, mas ele sempre atendeu de pronto. Com o tempo, claro, acostumei, e hoje não o vejo com outro nome.
           Um pouco mais de um ano depois, acompanhando a assistência que uma amiga dá aos gatos abandonados de sua rua, sempre em meio a histórias tristes, como de uma gravidez atrás da outra de gatas que não é possível capturarmos, envenenamentos e coisas do gênero, eis que duas dessas fêmeas engravidaram e tiveram seus filhotes uma na sequência da outra, no intervalo de uma semana. Ao todo, sete gatinhos.
           Minha amiga e eu conseguimos adoção para seis, restando uma gatinha que, a princípio, era a primeira que seria adotada e já a haviam reservado. Porém... como é muito comum na história de adoção de animais, devolveram-na.
           Ficamos com o coração partido e algumas pessoas me perguntavam porque eu não a adotava para fazer companhia ao Dimi. Eu tinha receio em adotar mais um, pois não conseguiria tomar tal atitude e depois não dar conta. Sem dizer no receio que tinha da reação do Dimitri.
           Enfim, adotei!
           Todos aqueles preparativos de isolá-los num primeiro momento durou poucas horas. Lá estava Dimitri se aproximando de Lola (dei este nome em homenagem à mãe, que chamamos de Lolita) com a placidez que lhe é familiar.
           Lola começou a querer mamar no irmão. Ele deixava e ronronava, pois entendia aquilo como carinho.
           Com o tempo tive que impedi-la, caso contrário ali onde ela mamava deixaria de nascer pelos, além de não ser algo muito legal.
           Lola se revelou da pá virada. Eles são a água e o vinho. Ela faz dele o que quer, enquanto ele simplesmente não reage.
           Muito carinhosa, mas extremamente travessa, Lola foi castrada aos seis meses e agora está uma moça. Continua enfiando o focinho no pote de comida e de água quando o irmão vai comer; continua pulando em cima dele naquela hora do sono mais profundo; continua saltando em suas costas e mordendo-o com força; mas continua sendo muito amorosa e companheira.
           Quando estou em casa eles me acompanham pelos cômodos, gostam de me fazer companhia quando tomo banho e são muito comportados quando faço minhas refeições.
           Lola está aprendendo a deixar eu pentear o Dimitri. Hoje ela consegue ficar observando sem pular em cima dele.
           Tenho impressão que um vem ensinando ao outro o que sabem: ele está mais brincalhão e ela vem se mostrando mais calma. E conviver com eles, sem dúvida, me faz mais humana. Acho que essa é a receita para nos tornarmos mais humanos: convivermos com animais!

Renata Iacovino