PARA UMA GATTA LARANJA [1882]

Mamãe tinha uma gatta alaranjada.
Chamava-se Garfilda e nunca vinha
"amassar pão" no colo nem, por nada,
nas pernas se esfregar: era mesquinha...

Neurótica, irascível, estressada,
a gatta nem ligava para a minha
carícia, ou tentativa... E quem agrada
um bicho que só foge e se abespinha?

Apenas si mamãe sentada estava
em frente da tevê, Garfilda brava
ficava um pouco menos, della ao lado...

Talvez por ser castrada, assim a gatta
ficou... E, nesse caso, acho que chata
é a vida de quem vive sem pecado...

              Glauco Mattoso

Do livro: Sonetos de Pessoa, Lumme editor, 2013, SP


Leilagatos