Texto:
 
O que você faria se, depois de dez anos de casada, seu marido uma noite chegasse em casa e lhe dissesse, abertamente, que preferia muito mais variar de mulheres, em vez de ficar preso a uma só, monotonamente? Você ficaria arrasada e se refugiaria no passado, lembrando os bons tempos de lua-de-mel? Assumiria toda a culpa e se autoflagelaria na frigidez? Arrumaria também outros homens, antes que ele a trocasse? Ignoraria o comentário e fingiria que tudo estava bem? Ou resolveria mudar, como num passe de mágica?
“Se o casamento vai mal... pimenta alquimia e sal”, com muito bom humor, mergulha na relação comportamental em crise de um casal, que se utiliza o jogo de sedução para resolver seus conflitos pessoais mais imediatos, sem repetir que apenas repetem erros, reiterando falidos valores sociais. É, portanto, uma comédia satírica que aborda o relacionamento humano, o casamento, a monogamia, a poligamia, a culpa, o ciúme, os estereótipos, os preconceitos, o moralismo, o sexo, o prazer e a magia da mulher — fada, bruxa, feiticeira — com infinitos poderes de transformação. A partir do desgaste emocional conjugal, o texto acaba por embrenhar-se por uma situação inteiramente insólita: um crime, sem vitima ou culpado, sem sinal de corpo ou prova de sua existência (qualquer semelhança com a política de massacre corporal não é mera coincidência). No fundo, uma crítica de costumes — inteligente e ferina — a padrões arraigados, que perpetuam sutilmente os mecanismos do poder, e  um convite a descoberta de novos rumos numa vida a dois.
 
Depoimento de Ana Rosa, constante do programa da peça:

Primeiro surgiu a idéia. Começaram as pesquisas. O texto? Nessa busca, novos conhecimentos, novos horizontes: Ronaldo, trabalhando conosco no "Trair e coçar", foi quem nos apresentou a Leila e foi também nossa primeira aquisição. Leila com sua sensibilidade e capacidade intelectual captou e colocou no papel exatamente o que eu queria: um texto leve e divertido, uma forma agradável e bem humorada de se questionar problemas profundos como sejam: a nossa procura interior, quem somos, o que fazemos, como fazemos e por que? Urhacy veio contribuir de uma forma gratificante e decisiva nessa primeira etapa e posteriormente trazendo o concurso criativo de Eliézer.
Somamos a isso a capacidade e o empenho de Luiza Marília, e em seguida Fernando veio ampliar e enriquecer nossa equipe. Com a aquisição de Maria Leone e Marcos, juntamos todos os ingredientes para essa alquimia e, finalmente, mais um filho veio a luz. Eu ofereço este trabalho ao Guilherme, meu companheiro, amigo, pai das minhas duas últimas filhas (Pai postiço dos outros cinco) para homenageá-lo pelos seus 40 anos de teatro completados no dia 2 de outubro de 1993.
Não poderia deixar de citar o concurso gentil de tantos amigos, cuja colaboração foi imprescindível para que a idéia se tornasse realidade. A todos vocês, muito obrigada.