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NOZARTE, JORNALISMO LITERÁRIO E LIBERTÁRIO.
Ao rever em Blocos Online os excelentes depoimentos de Leila Míccolis,
Marli Berg, Linaldo Guedes, Raymundo Silveira, sobre o tema "Jornalismo
e Literatura", inevitavelmente recordei-me de minha própria
experiência de mais de 20 anos lidando com o assunto.
Sou formado em Comunicação Social, com especialização
em Jornalismo, pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso.
Comecei escrevendo resenhas para um "house organ" da Fundação
Getúlio Vargas, depois passei a fazer reportagem e redigi-las
para o tablóide "Perspectiva Universitária", da Fundação
Mudes (Fundação Movimento Universitário para
o Desenvolvimento Econômico e Social). Isso, que acabei de
fazer, é o tipo da coisa que se aprende quando se faz um
bom curso de Jornalismo: sempre esclarecer o sentido de uma
sigla.
Aprende-se isso, aprendem-se muitas coisas semelhantes. Como já
citou um dos articulistas anteriores, habitua-se, por exemplo, à
eliminação sumária dos adjetivos. Outras aprendizagens:
clareza e objetividade. Escrever o texto preferencialmente
sempre em sua ordem direta. Evitar períodos longos,
intercalados por orações subordinadas entre vírgulas.
Cuidar para que não ocorram inversões de termos da
oração. Nada de expressões emotivas. O vocabulário
deve ser temperado ao paladar mediano, conforme também lembrou
outro articulista. Naturalmente, nada de piadas. Deveriam
acrescentar: nada de afetações. Porém,
esse é um dos poucos "toques de estilo" que se permite em
abundância nos jornais da grande imprensa, sobretudo nas matérias
dos cadernos culturais e de entretenimento, nas quais repórtes
e redatores dão vazão a toda sorte de expressões
estrangeiradas, como "point", "in", "out", "tour", "top", "clean",
"light", etc.
Por certo existem muitas outras regras e pontos a observar.
Muniz Sodré escreveu a respeito um excelente manual, que
na minha época de estudante universitário era leitura
obrigatória. Porém, além das que mencionei
e das inúmeras ainda não citadas, uma que é
fundamental: a redação impessoal, em terceira pessoa.
O chamado discurso "referencial" ou "denotativo", adotado também
pela ciência. Pela ciência...
Fugiria aos propósitos deste trabalho enveredar por uma
análise da ideologia implícita na questão.
Porém, é sempre bom lembrar que toda essa metodologia
da redação jornalística no que ela tem de mais
"oficial" se acha impregnada de ideologia política.
Naturalmente, no caso brasileiro, a serviço das pessoas e
instituições que se acham no chamado "topo da pirâmide".
Sem dúvida, o curso implica num adestramento. Não
que o estudante de jornalismo seja conduzido às cegas, submetido
a um treinamento sem que seja alertado sobre o que está acontecendo.
Não, a bem da verdade, isso não. O que aliás
já constitui em si um excelente argumento em favor da existência
e manutenção de cursos de jornalismo. Os melhores
professores, como o foram para mim, entre outros, André
Valente e Nilson Lage, ensinarão a técnica, revelando
a ideologia implícita.
Alguém já mencionou que seguir o jornalismo está
longe de ser o melhor treinamento para quem pretenda ser literato.
Chegava mesmo a dizer que quanto melhor se saísse na atividade
jornalística, maior o risco para sua atividade literária.
O argumento era forte: o exercício da redação
jornalística tem por objetivo atingir a excelência
da padronização e do enquadramento. Implica
numa certa "morte do eu". O sujeito abriria mão de sua escrita
para incorporar essa entidade fantasmática chamada "estilo
jornalístico".
Como se vê, o objetivo se mostra inteiramente diverso do
pretendido pelo literato. No caso do escritor, quanto mais ele for
capaz de transmitir sua mensagem num estilo pessoal, quanto mais
se distinguir dos outros, mais pontos ele ganha junto à crítica
e, também, ao público. Em seu requinte, o crítico
falará de "estilo". Em seu coloquialismo, o público
dirá que aprecia o "jeito" de Fulano, "sua maneira de ser".
Seja munido de arcabouço intelectual e teórico, seja
orientado pela percepção intuitiva, a verdade é
que todos apreciam aquele que se singulariza, que consegue desenvolver
um estilo próprio. Esse, não raro, passa a ser imitado.
Claro que os problemas decorrentes da necessidade de enquadramento
não dizem respeito àqueles que se tornam colunistas
ou que freqüentemente colaboram com matérias assinadas
de caráter opinativo. Em semelhantes casos elimina-se o conflito,
permite-se a expressão do estilo literário do articulista.
Mesmo porque nem todo colaborador é um jornalista, mas sim
um especialista em sua área, a comentar sobre assunto em
que é experto.
E há que considerar ainda casos particulares, como a Tribuna
da Imprensa, do Rio de Janeiro, um jornal de estilo próprio
no qual a presença de seu editor, Hélio Fernandes,
bem como de seus principais articulistas, se faz humanamente perceptível
ao longo das páginas. Na verdade uma forma de fazer
jornalismo que se aproxima das origens da atividade. No início,
muito mais personalizada e opinativa. Entretanto, com
o passar do tempo, infiltrou-se na prática jornalística
o mito da "neutralidade". A partir daí, e cada vez mais,
o jornalismo pretendeu revestir-se de um discurso supostamente "isento",
"objetivo", "realista". Trata-se da superposição
de um mito sobre outro. A crença ilusória da neutralidade
ideológica e política, fundamentada no mito
maior e filosoficamente mais perigoso, da objetividade e certeza
da "verdade científica".
Por sinal, eis aí um outro ponto de conflito entre jornalismo
e literatura. Enquanto o jornalismo se pretende "verdade",
a literatura constitui, assumidamente, ficção. A literatura
dá-se ao luxo, intolerável para a ideologia jornalística,
de não ter compromisso para com a realidade, sobretudo no
sentido de mimese.
Paradoxalmente, a literatura, em seu significado profundo, ensina
muito mais sobre a realidade do que a "tanta notícia'' (Caetano
Veloso, "Alegria, Alegria") acumulada nas inúmeras páginas
dos jornais diários. Enquanto a boa obra literária
terá a dizer por muitos anos, é conhecido o jargão:
"Nada mais velho do que o jornal de ontem".
Claro que nada disso é exatamente assim. Existem obras
literárias tão ruins que, passado o sucesso efêmero
(quando o há), desaparecem. Entretanto os jornais possuem
valor como documento histórico, constituindo-se em preciosa
fonte de consulta.
Como se vê, o assunto é complexo. Haveria ainda
muito que considerar tanto no que existe de influência literária
no estilo jornalístico quanto da influência do estilo
jornalístico na literatura de nosso tempo. Um dos poemas
de minha autoria que Leila Míccolis mais aprecia chama-se
"Edição Extraordinária", de 1982, e começa
com dizeres que parodiam o estilo das notícias de rádio
que tantas vezes ouvi, sobretudo em minha infância: "Coração
da Humanidade, / Urgente!".
Inúmeros escritores têm-se permitido incidências
da liguagem jornalística em sua literatura. Drummond,
Ignácio Loyola Brandão, José Louzeiro, Uilcon
Pereira, apenas para citar alguns. Na verdade, por trás
de todo cometimento poético-espacial de Mallarmé acha-se
a influência do cartaz, da manchete jornalística, do
novo "design" gráfico que surge com o advento da indústria
cultural. Isso fica bem claro quando estudamos o assunto na
poesia de Sá Carneiro, e também em sua correspondência
com Fernando Pessoa. Lembrando ainda que o romance moderno
começa nos folhetins, distribuídos em capítulos
pelos jornais do passado.
A rigor, a linguagem jornalística constitui uma forma de
literatura. Assim, por mais que se possa falar em conflitos, essas
duas linguagens possuem um grau de ligação muito forte.
Uma diz da outra, uma penetra na outra. Existe entre ambas uma força
de atração irrecusável.
O avanço da tecnologia permitiu, no mundo democrático,
a ocorrência de um fenômeno importante. Ter o poder
de difundir a palavra deixou de ser privilégio exclusivo
de poderosas empresas jornalísticas e de grandes editoras
para se tornar uma possibilidade concreta para o homem comum. Começou
com a geração mimeógrafo, avançou para
os sistemas de xerografia, depois informatizou-se e, por fim, atingiu
esse fenômeno extraordinário que é a divulgação
literária e jornalística via Internet.
Por outro lado, não se pode ser utópico ou ter grandes
ilusões. Se o sistema permitiu a eclosão dos
fenômenos acima relacionados, manteve no ar procedimentos
que têm inviabilizado tanto para o escritor quanto para o
pequeno editor a difusão de seu trabalho em larga escala.
Não chegarei a dizer que se trata de ação deliberada.
O que acontece parece mais ser fruto espontâneo das dificuldades
inerentes à competitividade do regime capitalista, em que
todos estão inseridos.
Assim, enquanto grandes empresas jornalísticas e editoras,
pela força de seu capital, criam verdadeiras redes interligadas,
nas quais não raro se utilizam de todos os meios de comunicação
e distribuiçao disponíveis, os que se aventuram pelo
caminho independente encontram nos altos custos para divulgação
de seu produto, atividade ou serviço o maior obstáculo
para expansão.
Para quem possui computador, nele produzir um jornal literário,
do ponto de vista técnico, é tarefa relativamente
fácil. Eu mesmo, com o auxílio de minha esposa,
Amelinda Alves, também formada em jornalismo, tenho realizado,
desde 1995, o Nozarte, Informativo Impresso e Eletrônico.
Fazê-lo, em si, é gratificante.
Os problemas, no entanto, começam a partir daí. Um
jornal, revista ou informativo de fato atraente e com bom
conteúdo necessita, em geral, de um certo número de
páginas. Nozarte tem de oito a 20 páginas, dependendo
da época, da edição, do material a divulgar.
As chamadas impressoras matriciais, cujas fitas são as de
preço mais acessível, não têm uma impressão
vistosa. Nas que funcionam a jato de tinta rapidamente acaba
o cartucho, caríssimo. As impressoras a laser, apesar de
mais onerosas para aquisição, são as que oferecem
melhor qualidade e quantidade de impressão, apresentando,
no fim das contas, a melhor relação custo-benefício.
Entretanto, ainda assim seria bem mais estimulante se o "toner"
saísse por um preço mais baixo.
Uma solução que venho adotando é imprimir
um original e levar a uma loja especializada em cópia xerográfica
para reproduzi-lo. Existem, aqui e ali, lugares em que se
oferecem cópias a R$ 0,04, mas nem sempre a qualidade é
satisfatória. Negociar um preço diferenciado,
porém dentro da faixa de mercado ainda é o que garante
melhor qualidade. Claro que sai dispendioso para um produtor independente.
Há ainda gastos com envelope, etiqueta e, sobretudo, com
os correios. Por sinal, algumas vezes, os custos com as taxas de
correio se revelam mais elevados do que todos os itens anteriormente
apontados. O que, convenhamos, constitui verdadeiro absurdo.
Esse é um drama periódico com o qual convivem praticamente
todos os editores de publicações literárias
alternativas. Sem qualquer apoio material ou legislativo do Governo,
boicotados pela lógica competitiva de mercado por parte dos
órgãos da grande mídia, ficam na dependência
do apoio de seus leitores ou do eventual patrocínio da iniciativa
privada.
Aí, nova dificuldade. Em razão da literatura, por
uma série de motivos, ter sido deslocada do foco central
de interesse do público comum alfabetizado, resulta que
muitos de seus consumidores são também seus produtores.
Isto é, poetas e ficcionistas que escrevem para poetas e
ficcionistas. Amiúde, muitos deles são também
editores de publicações, ou vivem juntando cada moeda
com o intuito de financiar suas próprias obras, uma vez que
as grandes editoras não o fazem.
Por sua vez, os poucos que conseguem romper esse cerco e que por
isso logram projetar seu nome, com raras e honrosas exceções,
tendem a isolar-se em suas ilusórias torres de marfim, pouco
se importando com o que acontece "com o resto do mundo". Mesmo
porque, logicamente, esse "resto" constitui uma espécie de
concorrência potencial, na corrida às escassas vagas
à tão sonhada "imortalidade". Some-se
a isso ainda as eternas brigas de escolas e correntes literárias,
panelinhas, equívocos, partidarismos políticos, vaidades
e outros pormenores mais ou menos interessantes desse teor, e teremos
um retrato bem real sobre as dificuldades enfrentadas por qualquer
editor de alternativo literário para fazer com que seu "público
alvo" desembolse de três a cinco pratas por edição
para que se garanta a existência do periódico.
De minha experiência como editor de Nozarte, posso garantir:
toda fortuna que se consegue por se produzir um alternativo bem
feito e premiado é a chamada fortuna crítica. Falo
por mim, mas creio poder afirmar com segurança que isso ocorre
com quase todos os jornais e revistas culturais alternativos. A
maior evidência é que seus nomes nunca aparecem na
grande imprensa. Para os grandes meios, essa produção
inexiste. Nem mesmo reportá-la como matéria exótica,
acontecimento bizarro, sandice ou sinal de excentricidade social
mobiliza os grandes veículos. Para a grande mídia
e para o público não iniciado, somos mais inexistentes
do que ovnis, chupa-cabras, espíritos do mato e casas mal-assombradas.
Ainda assim, falamos para um certo número de pessoas e,
como ressaltou uma vez Urhacy Faustino, o que conta é a importância
e o valor dessas pessoas. De fato. Tenho um enorme carinho
pelos 500 nomes que constam do cadastro atual de leitores de Nozarte
ou que já passaram por sua páginas. Muitos
se acham dentre os mais expressivos da literatura brasileira de
nosso tempo e me honraram remetendo livros e comentários
ao trabalho que vimos fazendo. Há os que colaboraram com
textos avulsos ou emitiram notas favoráveis em seus respectivos
periódicos ou colunas. Outros produzem ou produziram
importantes publicações impressas, com as quais mantivemos
intercâmbio e que nos divulgaram. De todos esses, e sempre
correndo o inevitável risco de uma omissão indevida,
posso citar:
Abel B. Pereira, Abílio Pacheco, Adélia Maria Woellner,
Ademir Bacca, Adair Carvalhais Jr., Adriana Zapparoli, Alberto Vilela
Chaer (Al-Chaer), Alcides Buss, Almandrade, Álvaro de Sá,
Álvaro Pacheco, Ana Caritas, Ana Luísa Peluso, Anderson
Braga Horta, Andrea Augusto, Andityas Soares de Moura, Antônio
Carlos Secchin, Antônio Luiz Lopes, Antonio Mariano de Lima,
Antônio Soares, Araci Barreto da Costa, Ari Lins Pedrosa,
Aricy Curvello, Arlindo Nóbrega, Arthur Filho, Artur
Gomes, Artur Soares, Artur da Távola, Ascendino Leite,
Assis Brasil, Asta Vonzodas, Astolfo Lima Sandy, Áureo Ramos,
Avelino de Araújo, Aymar Mendonça Lopes, Beatriz Escórcio
Chacon de Assis, Bianor Paulino, Branca Bakaj, Bruno Ramalho,
Caco de Oliveira, Cairo de Assis Trindade, Carlos Alberto P. Rosa,
Carlos Furlan, Carlos Moraes Júnior, Cármem
Rocha, Catarina Maul, Cecília Fidelli, Cecy Barbosa Campos,
Cheila Stumpf, Cida Jappe, Cláudia Penna (kk Blue),
Cláudio Feldman, Cláudio Willer, Dalila Teles Veras,
Denise Teixeira Viana, Deslanieve Daspet, Dieter Roos, Dilson
Lages Monteiro, Djanira Pio, Douglas Lara, Edgard Guimarães,
Edir Meirelles, Eduardo Waack, Elaine Pauvolid, Eliana Mora, Enéas
Athanázio, Eno Theodoro Wanke, Erorci Santana, Eunice Bueno,
Fabiano Calixto, Fabio Rocha, Falves Silva, Fernando Cereja,
Fernando T. Menezes, Flávio Machado, Flávio Rubens,
Francisco Filardi, Floriano Martins, Francisco José Lins
do Rego Santos, Francisco Marcelo Cabral, Francisco Simões,
Franklim Capistrano, Geraldo Coelho Vaz, Geraldo Magela, Gessy Carísio
de Paula, Gilberto Mendonça Teles, Glenda Maier, Goulart
Gomes, Greta Benitez, Guido Bilharinho, Guilherme Scalzilli, Harley
Meireles, Helena Ortiz, Heleninha de Oliveira, Hugo Pontes, Humberto
Del Maestro, Iacyr Anderson Freitas, Idalina de Carvalho,
Ilma Fontes, Irineu Volpato, Ivone Vebber, Izacyl Guimarães
Ferreira, J. Cardias, Jack Rubens, Jairo Batista Pereira, Jiddu
Saldanha, Joanyr de Oliveira, João Carlos Taveira, João
de Abreu Borges, João dos Santos, João Scortecci
de Paula, João Weber Griebeler, Joaquim Branco, Jomard Muniz
Britto, Jorge Domingos, Jorge Sanglard, José Antonio Martino,
José Geraldo Neres, José Medeiros, José Peixoto
Jr., Jovino Machado, Jurema Barreto de Souza, Lau Siqueira, Leila
Míccolis, Leontino Filho, Lina Tâmega del Peloso,
Lourival Farias Sodré, Luís Rosemberg (cineasta),
Luiz Alberto Machado, Luiz Fernandes da Silva, Luiz Otávio
Oliani, Mano Melo, Marcelo Dolabela, Maynand Sobral, Mercedez
Vasconcellos, Márcia Maia, Márcio Almeida, Márcio
Catunda, Marcos Dias, Maria Esther Tourinho, Maria Thereza Cavalheiro,
Marina de Fátima Dias, Marise de Sousa, Marta Gonçalves,
Maurício Carneiro, Maynand Sobral, Miguel J. Malty,
Moacy Cirne, Mônica Banderas, Newton de Lucca, Neide Sá,
Nilto Maciel, Nilza Menezes, Nina de Almeida, Olga Amorim,
Omar Pereira, Otávio Ramos, P.J. Ribeiro, Pat Kowacz, Paulo
Bruscky, Pedro Diniz de Araújo Franco, Pedro Rodrigues Salgueiro,
Raquel Naveira, Regina Lyra, Regina Pouchain, Ricardo Fíngolo,
Ricardo Mainieri, Rita Maria de Lacerda, Robson Achiamé,
Rodrigo de Souza Leão, Rogel Samuel, Rogério Salgado,
Ronaldo Cagiano, Ronaldo Werneck, Rosemary Lopes Pereira,
Rosy Feros, Rozelia Scheifler Rasia, Salomão Souza, Samaral,
Sammis Reachers, Sebastião Nunes, Sebastião Teles
Pereira, Selmo Vasconcellos, Sérgio Gerônimo, Sérgio
Monteiro de Almeida, Shirley Benedicto, Silas Correa Leite, Silva
Barreto, Silvana Guimarães, Silvério da Costa, Soares
Feitosa, Tânia Diniz, Tânia Gabrielli-Pohlmann,
Tanussi Cardoso, Teresinka Pereira, Thereza Christina Rocque
da Motta, Tony Gray Cavalheiro, Ulisses Tavares, Urhacy
Faustino, Vânia Moreira Diniz, Whisner Fraga Mamede, Yêda
Schmaltz, Zacarias Martins, Zanoto, Zhô Bertolini, Ziney
Santos Moreira.
Creio que a lista fala por si, no que diz respeito à importância
desses autores. Também é de se observar o variado
estilo e as diferentes escolas literárias a que muitos deles
se acham ligados. Nozarte tem sido publicação aberta
a todos os gêneros e tendências, numa atitude típica,
em maior ou menor grau, das gerações de meados dos
anos 70 para cá. Das que pude conhecer, entre as publicações
que defendem ou que defenderam linha editorial próxima à
seguida por Nozarte, citaria: Blocos Cultural, O Capital,
O Radar, Tudo É Poesia, Pensaminto, A Cigarra, Tal &
Qual, Panorama, Mulheres Emergentes, Meio Tom Poesia e Prosa, Telescópio,
Arlequinal, Letralivre, Balaio Incomum, Fronte Cultural, Garatuja,
Momento Lítero-cultural, Nascente Poético, O Boêmio,
Urbana. Ressalte-se que estou aqui reportando publicações
que nunca contaram com subsídio ou apoio de instituições
públicas ou particulares, mantidas heroicamente pelos seus
editores.
Outro aspecto relevante é o papel libertário e combativo
exercido pela ala feminina da poesia brasileira. Assinalo
acima 19 alternativos impressos. Desses 19, em nada menos
do que 10 havia pelo menos uma mullher no papel de editora.
Senão vejamos: Blocos Cultural, tablóide impresso
do Rio de Janeiro-RJ, era feito por Leila Míccolis e Urhacy
Faustino. O Capital, de Aracaju-SE, tem como editora Ilma Fontes.
Já "O Radar", tablóide de Apucarana-PR, conta com
a dedicação de Rosemary Lopes Pereira.
"A Cigarra", elogiadíssima revista de Santo André-SP,
tem em Jurema Barreto de Souza e Zhô Bertolini o seu esteio.
Em "Tal & Qual", jornal de Porto Alegre-RS, está
Nina de Almeida. "Panorama", jornal do Rio de Janeiro-RJ,
é editado por Helena Ortiz. "Meio Tom Poesia e Prosa",
boletim informatizado de Atibaia-SP, é uma criação
de Carlos Alberto Pessoa Rosa e Lúcia Rosa. "Pensaminto",
revista de Cataguases-MG, era veiculada por Idalina de Carvalho.
"Mulheres Emergentes", de Belo Horizonte-MG, por Tânia Diniz.
Por fim, "Tudo É Poesia", revista de Campo Grande-MS, era
feita com muito carinho por Marina de Fátima Dias, falecida
este ano. Quanto aos outros nove, "Telescópio", antigo e
premiado tablóide impresso, atualmente é uma coluna
virtual, realizada por Everi Rudnei Carrara, Araçatuba-SP.
Arlequinal, de Atibaia-SP, era uma revista feita em computador por
José Martino. "Letralivre", do Rio de Janeiro-RJ, publicação
libertária mantida por Robson Achiamé. "Balaio
Incomum", folhas tamanho ofício xerografadas por Moacy Cirne,
Rio de Janeiro-RJ. "Fronte Cultural", era revista de Chapecó-SC,
mantida por Silvério da Costa. Garatuja, jornal tablóide,
depois revista, de Ademir Bacca, Bento Gonçalves-RS.
"Momento Lítero-cultural", suplemento inserido no jornal
do Alto Madeira, Porto Velho-RO, de Selmo Vasconcellos. "Nascente
Poético", de Luiz Alberto Machado, atualmente um informe
virtual, Maceió-AL. "O Boêmio" jornal de Matão-SP,
editado por Eduardo Waack, com várias páginas dedicadas
à literatura. Por fim, "Urbana", do Rio de Janeiro-RJ, criada
por Samaral e que continua a circular após seu falecimento,
editada agora por João de Abreu Borges, que também
produz a virtual Ano Um e abriu uma página na Internet para
a revista Urbana.
Aliás, com o advento da Internet, muitas publicações
que circulavam impressas passaram a existir apenas virtualmente.
É o caso de Blocos, Garatuja, Meio Tom Poesia e Prosa, Nascente
Poético, Telescópio. Outras, como Nozarte, A Cigarra,
Urbana, Panorama e Balaio Incomum, continuam a existir nas duas
mídias. Há as que se mantiveram apenas impressas,
caso de O Capital, O Radar, O Boêmio, Momento Lítero-Cultural,
Tal & Qual. Algumas desapareceram por variados motivos: Pensaminto,
Tudo É Poesia, Fronte Cultural.
Por outro lado, a existência da Rede permitiu o surgimento
de inúmeros sites, publicações e páginas
literárias. Impossível ainda fazer um levantamento
completo, mas no momento se têm destacado: Blocos Online (Leila
Míccolis e Urhacy Faustino); Jornal da Poesia (Soares Feitosa);
PD-Literatura (Asta Vonzodas e outros); Palavreiros (José
Geraldo Neres e Grupo Diadema-SP); Oficina Editores e APPERJ (Sérgio
Gerônimo e Glenda Maier); Officina do Pensamento (Ana Luísa
Peluso); Nave da Palavra (Esther P S Rosado e Érica Antunes),
Usina de Letras (do Sindicato de Escritores de Brasília-DF),
Balacobaco (Rodrigo de Souza Leão), Revista Agulha (Cláudio
Willer e Floriano Martins); Aliás e Dimproviso (ambos de
Elaine Pauvolid); Nozarte Informativo Impresso e Eletrônico
(Ricardo Alfaya e Amelinda Alves); Alma de Poeta (portal criado
por Luiz Fernando Prôa); Luna e Amigos (Delasnieve Daspet);
A Ilha (portal de Luiz Carlos Amorim); Escritor Rogel Samuel; Site
de Sarah Fazib; VMD/Nascente (Vânia Moreira Diniz e Luiz Alberto
Machado); Revista Poética Social (José Geraldo Neres
e outros); Ano Um (João de Abreu Borges); Portal da Poesia
(Adriana Zapparoli); Verdes Trigos (Henrique Chagas); Magia da Poesia
(Fabio Rocha); Poesias e Reflexões (Romy Bastos). Há
que considerar ainda os bons sites e páginas pessoais
de poetas e escritores, como os espaços dedicados a Affonso
Romano de Sant'Anna, Frederico Barbosa, Alberto da Cunha Mello,
Flávio Machado, Márcia Maia, Yêda Schmaltz,
Vinícius de Morais e tantos outros, às vezes criados
e patrocinados pelos próprios escritores, às vezes
por seus admiradores. Espaços que vamos descobrindo gradativamente.
Em termos de linguagem jornalística, o que se pode observar
é que com freqüência as regras de padronização
do "jornalismo oficial" vão para o espaço na imprensa
literária alternativa. Recordo-me que logo na primeira ou
na segunda edição de Nozarte informei ao público
que seguiria uma linguagem personalizada. Por que não? Comecei
falando para 100 pessoas, todo mundo conhecia todo mundo, que sentido
teria ficar adotando uma postura impessoal, distante, de quem está
escrevendo para milhões? Questionava, com outras palavras,
o aspecto, frisando que alguma vantagem haveria por se estar à
margem, excluído do grande processo editorial. E essa
vantagem, logicamente, era uma liberdade de palavra e de ação
num grau que raramente existe na grande imprensa, salvo nas já
citadas colunas e matérias opinativas assinadas. A realização
teórica e prática de um jornalismo literário
e libertário.
Ricardo Alfaya (*)
_______
(*) Jornalista, poeta, escritor, professor
carioca. Produz poesia escrita, poesia visual, conto, crônica,
ensaio, resenha e artigo. Bacharel em Direito e Comunicação
Social, com especialização em Jornalismo, tem site
individual dentro de Blocos Online.
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