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NOZARTE,  JORNALISMO LITERÁRIO E LIBERTÁRIO.

Ao rever em Blocos Online os excelentes depoimentos de Leila Míccolis, Marli Berg, Linaldo Guedes, Raymundo Silveira, sobre o tema "Jornalismo e Literatura", inevitavelmente recordei-me de minha própria experiência de mais de 20 anos lidando com o assunto.

Sou formado em Comunicação Social, com especialização em Jornalismo, pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso.  Comecei escrevendo resenhas para um "house organ" da Fundação Getúlio Vargas, depois passei a fazer reportagem e redigi-las para o tablóide "Perspectiva Universitária", da Fundação Mudes (Fundação Movimento Universitário para o Desenvolvimento Econômico e Social). Isso, que acabei de fazer, é o tipo da coisa que se aprende quando se faz um bom curso de Jornalismo:  sempre esclarecer o sentido de uma sigla.

Aprende-se isso, aprendem-se muitas coisas semelhantes. Como já citou um dos articulistas anteriores, habitua-se, por exemplo, à eliminação sumária dos adjetivos. Outras aprendizagens: clareza e objetividade.  Escrever o texto preferencialmente sempre em sua ordem direta.  Evitar períodos longos, intercalados por orações subordinadas entre vírgulas. Cuidar para que não ocorram inversões de termos da oração. Nada de expressões emotivas. O vocabulário deve ser temperado ao paladar mediano, conforme também lembrou outro articulista.  Naturalmente, nada de piadas. Deveriam acrescentar: nada de afetações.  Porém, esse é um dos poucos "toques de estilo" que se permite em abundância nos jornais da grande imprensa, sobretudo nas matérias dos cadernos culturais e de entretenimento, nas quais repórtes e redatores dão vazão a toda sorte de expressões estrangeiradas, como "point", "in", "out", "tour", "top", "clean", "light", etc.

Por certo existem muitas outras regras e pontos a observar.  Muniz Sodré escreveu a respeito um excelente manual, que na minha época de estudante universitário era leitura obrigatória.  Porém, além das que mencionei e das inúmeras ainda não citadas, uma que é fundamental: a redação impessoal, em terceira pessoa. O chamado discurso "referencial" ou "denotativo", adotado também pela ciência.  Pela ciência...

Fugiria aos propósitos deste trabalho enveredar por uma análise da ideologia implícita na questão.  Porém, é sempre bom lembrar que toda essa metodologia da redação jornalística no que ela tem de mais "oficial" se acha impregnada de ideologia política.  Naturalmente, no caso brasileiro, a serviço das pessoas e instituições que se acham no chamado "topo da pirâmide".

Sem dúvida, o curso implica num adestramento. Não que o estudante de jornalismo seja conduzido às cegas, submetido a um treinamento sem que seja alertado sobre o que está acontecendo. Não, a bem da verdade, isso não. O que aliás já constitui em si um excelente argumento em favor da existência e manutenção de cursos de jornalismo. Os melhores professores, como o foram para mim, entre outros,  André Valente e Nilson Lage, ensinarão a técnica, revelando a ideologia implícita.

Alguém já mencionou que seguir o jornalismo está longe de ser o melhor treinamento para quem pretenda ser literato.  Chegava mesmo a dizer que quanto melhor se saísse na atividade jornalística, maior o risco para sua atividade literária. O argumento era forte: o exercício da redação jornalística tem por objetivo atingir a excelência da padronização e do enquadramento.  Implica numa certa "morte do eu". O sujeito abriria mão de sua escrita para incorporar essa entidade fantasmática chamada "estilo jornalístico".

Como se vê, o objetivo se mostra inteiramente diverso do pretendido pelo literato. No caso do escritor, quanto mais ele for capaz de transmitir sua mensagem num estilo pessoal, quanto mais se distinguir dos outros, mais pontos ele ganha junto à crítica e, também, ao público.  Em seu requinte, o crítico falará de "estilo".  Em seu coloquialismo, o público dirá que aprecia o "jeito" de Fulano, "sua maneira de ser".  Seja munido de arcabouço intelectual e teórico, seja orientado pela percepção intuitiva, a verdade é que todos apreciam aquele que se singulariza, que consegue desenvolver um estilo próprio. Esse, não raro, passa a ser imitado.

Claro que os problemas decorrentes da necessidade de enquadramento não dizem respeito àqueles que se tornam colunistas ou que freqüentemente colaboram com matérias assinadas de caráter opinativo. Em semelhantes casos elimina-se o conflito, permite-se a expressão do estilo literário do articulista. Mesmo porque nem todo colaborador é um jornalista, mas sim um especialista em sua área, a comentar sobre assunto em que é experto.

E há que considerar ainda casos particulares, como a Tribuna da Imprensa, do Rio de Janeiro, um jornal de estilo próprio no qual a presença de seu editor, Hélio Fernandes, bem como de seus principais articulistas, se faz humanamente perceptível ao longo das páginas.  Na verdade uma forma de fazer jornalismo que se aproxima das origens da atividade. No início, muito mais personalizada e opinativa.  Entretanto,  com o passar do tempo, infiltrou-se na prática jornalística o mito da "neutralidade". A partir daí, e cada vez mais, o jornalismo pretendeu revestir-se de um discurso supostamente "isento", "objetivo", "realista".  Trata-se  da superposição de um mito sobre outro. A crença ilusória da neutralidade ideológica e política, fundamentada  no mito maior e filosoficamente mais perigoso, da objetividade e certeza da "verdade científica".

Por sinal, eis aí um outro ponto de conflito entre jornalismo e literatura.  Enquanto o jornalismo se pretende "verdade", a literatura constitui, assumidamente, ficção. A literatura dá-se ao luxo, intolerável para a ideologia jornalística, de não ter compromisso para com a realidade, sobretudo no sentido de mimese.

Paradoxalmente, a literatura, em seu significado profundo, ensina muito mais sobre a realidade do que a "tanta notícia'' (Caetano Veloso, "Alegria, Alegria") acumulada nas inúmeras páginas dos jornais diários. Enquanto a boa obra literária terá a dizer por muitos anos, é conhecido o jargão: "Nada mais velho do que o jornal de ontem".

Claro que nada disso é exatamente assim.  Existem obras literárias tão ruins que, passado o sucesso efêmero (quando o há), desaparecem.  Entretanto os jornais possuem valor como documento histórico, constituindo-se em preciosa fonte de consulta.

Como se vê, o assunto é complexo.  Haveria ainda muito que considerar tanto no que existe de influência literária no estilo jornalístico quanto da influência do estilo jornalístico na literatura de nosso tempo.  Um dos poemas de minha autoria que Leila Míccolis mais aprecia chama-se "Edição Extraordinária", de 1982, e começa com dizeres que parodiam o estilo das notícias de rádio que tantas vezes ouvi, sobretudo em minha infância: "Coração da Humanidade, / Urgente!".

Inúmeros escritores têm-se permitido incidências da liguagem jornalística em sua literatura.  Drummond, Ignácio Loyola Brandão, José Louzeiro, Uilcon Pereira, apenas para citar alguns.  Na verdade, por trás de todo cometimento poético-espacial de Mallarmé acha-se a influência do cartaz, da manchete jornalística, do novo "design" gráfico que surge com o advento da indústria cultural.  Isso fica bem claro quando estudamos o assunto na poesia de Sá Carneiro, e também em sua correspondência com Fernando Pessoa.  Lembrando ainda que o romance moderno começa nos folhetins, distribuídos em capítulos pelos jornais do passado.

A rigor, a linguagem jornalística constitui uma forma de literatura. Assim, por mais que se possa falar em conflitos, essas duas linguagens possuem um grau de ligação muito forte.  Uma diz da outra, uma penetra na outra. Existe entre ambas uma força de atração irrecusável.

O avanço da tecnologia permitiu, no mundo democrático, a ocorrência de um fenômeno importante. Ter o poder de difundir a palavra deixou de ser privilégio exclusivo de poderosas empresas jornalísticas e de grandes editoras para se tornar uma possibilidade concreta para o homem comum. Começou com a geração mimeógrafo, avançou para os sistemas de xerografia, depois informatizou-se e, por fim, atingiu esse fenômeno extraordinário que é a divulgação literária e jornalística via Internet.

Por outro lado, não se pode ser utópico ou ter grandes ilusões.  Se o sistema permitiu a eclosão dos fenômenos acima relacionados,  manteve no ar procedimentos que têm inviabilizado tanto para o escritor quanto para o pequeno editor a difusão de seu trabalho em larga escala. Não chegarei a dizer que se trata de ação deliberada. O que acontece parece mais ser fruto espontâneo das dificuldades inerentes à competitividade do regime capitalista, em que todos estão inseridos.

Assim, enquanto grandes empresas jornalísticas e editoras, pela força de seu capital, criam verdadeiras redes interligadas, nas quais não raro se utilizam de todos os meios de comunicação e distribuiçao disponíveis, os que se aventuram pelo caminho independente encontram nos altos custos para divulgação de seu produto, atividade ou serviço o maior obstáculo para expansão.

Para quem possui computador,  nele produzir um jornal literário, do ponto de vista técnico,  é tarefa relativamente fácil.  Eu mesmo, com o auxílio de minha esposa, Amelinda Alves, também formada em jornalismo, tenho realizado, desde 1995, o Nozarte, Informativo Impresso e Eletrônico. Fazê-lo, em si, é gratificante.

Os problemas, no entanto, começam a partir daí. Um jornal, revista ou informativo de fato  atraente e com bom conteúdo necessita, em geral, de um certo número de páginas. Nozarte tem de oito a 20 páginas, dependendo da época, da edição, do material a divulgar.  As chamadas impressoras matriciais, cujas fitas são as de preço mais acessível, não têm uma impressão vistosa.  Nas que funcionam a jato de tinta rapidamente acaba o cartucho, caríssimo. As impressoras a laser, apesar de mais onerosas para aquisição, são as que oferecem melhor qualidade e quantidade de impressão, apresentando, no fim das contas, a melhor relação custo-benefício. Entretanto, ainda assim seria bem mais estimulante se o  "toner" saísse por um preço mais baixo.

Uma solução que venho adotando é imprimir um original e levar a uma loja especializada em cópia xerográfica para reproduzi-lo.  Existem, aqui e ali, lugares em que se oferecem cópias a R$ 0,04, mas nem sempre a qualidade é satisfatória.  Negociar um preço diferenciado, porém dentro da faixa de mercado ainda é o que garante melhor qualidade. Claro que sai dispendioso para um produtor independente.

Há ainda gastos com envelope, etiqueta e, sobretudo, com os correios. Por sinal, algumas vezes, os custos com as taxas de correio se revelam mais elevados do que todos os itens anteriormente apontados. O que, convenhamos, constitui verdadeiro absurdo.

Esse é um drama periódico com o qual convivem praticamente todos os editores de publicações literárias alternativas. Sem qualquer apoio material ou legislativo do Governo, boicotados pela lógica competitiva de mercado por parte dos órgãos da grande mídia, ficam na dependência do apoio de seus leitores ou do eventual patrocínio da iniciativa privada.

Aí, nova dificuldade. Em razão da literatura, por uma série de motivos, ter sido deslocada do foco central de interesse do público comum alfabetizado, resulta que  muitos de seus consumidores são também seus produtores. Isto é, poetas e ficcionistas que escrevem para poetas e ficcionistas. Amiúde, muitos deles são também editores de publicações, ou vivem juntando cada moeda com o intuito de financiar suas próprias obras, uma vez que as grandes editoras não o fazem.

Por sua vez, os poucos que conseguem romper esse cerco e que por isso logram projetar seu nome, com raras e honrosas exceções, tendem a isolar-se em suas ilusórias torres de marfim, pouco se importando com o que acontece "com o resto do mundo".  Mesmo porque, logicamente, esse "resto" constitui uma espécie de concorrência potencial, na corrida às escassas vagas à tão sonhada  "imortalidade".  Some-se a isso ainda as eternas brigas de escolas e correntes literárias, panelinhas, equívocos, partidarismos políticos, vaidades e outros pormenores mais ou menos interessantes desse teor, e teremos um retrato bem real sobre as dificuldades enfrentadas por qualquer editor de alternativo literário para fazer com que seu "público alvo" desembolse de três a cinco pratas por edição para que se garanta a existência  do periódico.

De minha experiência como editor de Nozarte, posso garantir: toda fortuna que se consegue por se produzir um alternativo bem feito e premiado é a chamada fortuna crítica. Falo por mim, mas creio poder afirmar com segurança que isso ocorre com quase todos os jornais e revistas culturais alternativos. A maior evidência é que seus nomes nunca aparecem na grande imprensa.  Para os grandes meios, essa produção inexiste. Nem mesmo reportá-la como matéria exótica, acontecimento bizarro, sandice ou sinal de excentricidade social mobiliza os grandes veículos. Para a grande mídia e para o público não iniciado, somos mais inexistentes do que ovnis, chupa-cabras, espíritos do mato e casas mal-assombradas.

Ainda assim, falamos para um certo número de pessoas e, como ressaltou uma vez Urhacy Faustino, o que conta é a importância e o valor dessas pessoas.  De fato.  Tenho um enorme carinho pelos 500 nomes que constam do cadastro atual de leitores de Nozarte ou que já passaram por sua páginas.   Muitos se acham dentre os mais expressivos da literatura brasileira de nosso tempo e me honraram remetendo livros e comentários ao trabalho que vimos fazendo. Há os que colaboraram com textos avulsos ou emitiram notas favoráveis em seus respectivos periódicos ou colunas. Outros produzem ou  produziram importantes publicações impressas, com as quais mantivemos intercâmbio e que nos divulgaram. De todos esses, e sempre correndo o inevitável risco de uma omissão indevida, posso citar:

Abel B. Pereira, Abílio Pacheco, Adélia Maria Woellner, Ademir Bacca, Adair Carvalhais Jr., Adriana Zapparoli, Alberto Vilela Chaer (Al-Chaer), Alcides Buss, Almandrade, Álvaro de Sá, Álvaro Pacheco, Ana Caritas, Ana Luísa Peluso, Anderson Braga Horta, Andrea Augusto, Andityas Soares de Moura, Antônio Carlos Secchin, Antônio Luiz Lopes, Antonio Mariano de Lima, Antônio Soares, Araci Barreto da Costa, Ari Lins Pedrosa,  Aricy Curvello, Arlindo Nóbrega,  Arthur Filho, Artur Gomes, Artur Soares,  Artur da Távola, Ascendino Leite, Assis Brasil, Asta Vonzodas, Astolfo Lima Sandy, Áureo Ramos, Avelino de Araújo, Aymar Mendonça Lopes, Beatriz Escórcio Chacon de Assis,  Bianor Paulino, Branca Bakaj, Bruno Ramalho, Caco de Oliveira, Cairo de Assis Trindade, Carlos Alberto P. Rosa, Carlos Furlan,  Carlos Moraes Júnior, Cármem Rocha, Catarina Maul, Cecília Fidelli, Cecy Barbosa Campos, Cheila Stumpf, Cida Jappe,  Cláudia Penna (kk Blue), Cláudio Feldman, Cláudio Willer, Dalila Teles Veras, Denise Teixeira Viana, Deslanieve Daspet, Dieter Roos,  Dilson Lages Monteiro, Djanira Pio,  Douglas Lara, Edgard Guimarães, Edir Meirelles, Eduardo Waack, Elaine Pauvolid, Eliana Mora, Enéas Athanázio, Eno Theodoro Wanke, Erorci Santana, Eunice Bueno, Fabiano Calixto,  Fabio Rocha, Falves Silva, Fernando Cereja,   Fernando T. Menezes, Flávio Machado, Flávio Rubens,  Francisco Filardi, Floriano Martins, Francisco José Lins do Rego Santos, Francisco Marcelo Cabral, Francisco Simões, Franklim Capistrano, Geraldo Coelho Vaz, Geraldo Magela, Gessy Carísio de Paula, Gilberto Mendonça Teles, Glenda Maier, Goulart Gomes, Greta Benitez, Guido Bilharinho, Guilherme Scalzilli, Harley Meireles, Helena Ortiz, Heleninha de Oliveira, Hugo Pontes, Humberto Del Maestro,  Iacyr Anderson Freitas, Idalina de Carvalho, Ilma Fontes, Irineu Volpato, Ivone Vebber, Izacyl Guimarães Ferreira, J. Cardias, Jack Rubens, Jairo Batista Pereira, Jiddu Saldanha, Joanyr de Oliveira, João Carlos Taveira, João de Abreu Borges, João dos Santos,  João Scortecci de Paula, João Weber Griebeler, Joaquim Branco, Jomard Muniz Britto, Jorge Domingos, Jorge Sanglard, José Antonio Martino, José Geraldo Neres, José Medeiros, José Peixoto Jr., Jovino Machado, Jurema Barreto de Souza, Lau Siqueira, Leila Míccolis, Leontino Filho,  Lina Tâmega del Peloso, Lourival Farias Sodré, Luís Rosemberg (cineasta), Luiz Alberto Machado, Luiz Fernandes da Silva,  Luiz Otávio Oliani, Mano Melo, Marcelo Dolabela, Maynand Sobral,  Mercedez Vasconcellos, Márcia Maia, Márcio Almeida, Márcio Catunda, Marcos Dias, Maria Esther Tourinho, Maria Thereza Cavalheiro, Marina de Fátima Dias, Marise de Sousa, Marta Gonçalves, Maurício Carneiro, Maynand Sobral,  Miguel J. Malty, Moacy Cirne, Mônica Banderas, Newton de Lucca, Neide Sá, Nilto Maciel, Nilza Menezes, Nina de Almeida, Olga Amorim,  Omar Pereira, Otávio Ramos, P.J. Ribeiro, Pat Kowacz, Paulo Bruscky, Pedro Diniz de Araújo Franco, Pedro Rodrigues Salgueiro, Raquel Naveira, Regina Lyra, Regina Pouchain, Ricardo Fíngolo, Ricardo Mainieri, Rita Maria de Lacerda,  Robson Achiamé,  Rodrigo de Souza Leão, Rogel Samuel, Rogério Salgado, Ronaldo Cagiano,  Ronaldo Werneck, Rosemary Lopes Pereira, Rosy Feros, Rozelia Scheifler Rasia, Salomão Souza, Samaral, Sammis Reachers, Sebastião Nunes, Sebastião Teles Pereira, Selmo Vasconcellos, Sérgio Gerônimo, Sérgio Monteiro de Almeida, Shirley Benedicto, Silas Correa Leite, Silva Barreto, Silvana Guimarães, Silvério da Costa, Soares Feitosa, Tânia Diniz,  Tânia Gabrielli-Pohlmann, Tanussi Cardoso,  Teresinka Pereira, Thereza Christina Rocque da Motta,  Tony Gray Cavalheiro, Ulisses Tavares,  Urhacy Faustino, Vânia Moreira Diniz, Whisner Fraga Mamede, Yêda Schmaltz, Zacarias Martins, Zanoto,  Zhô Bertolini, Ziney Santos Moreira.

Creio que a lista fala por si, no que diz respeito à importância desses autores.  Também é de se observar o variado estilo e as diferentes escolas literárias a que muitos deles se acham ligados. Nozarte tem sido publicação aberta a todos os gêneros e tendências, numa atitude típica, em maior ou menor grau, das gerações de meados dos anos 70 para cá. Das que pude conhecer, entre as publicações que defendem ou que defenderam linha editorial próxima à seguida por Nozarte, citaria:  Blocos Cultural, O Capital, O Radar, Tudo É Poesia, Pensaminto, A Cigarra, Tal & Qual, Panorama, Mulheres Emergentes, Meio Tom Poesia e Prosa, Telescópio, Arlequinal, Letralivre, Balaio Incomum, Fronte Cultural, Garatuja, Momento Lítero-cultural, Nascente Poético, O Boêmio, Urbana. Ressalte-se que estou aqui reportando publicações que nunca contaram com subsídio ou apoio de instituições públicas ou particulares, mantidas heroicamente pelos seus editores.

Outro aspecto relevante é o papel libertário e combativo exercido pela ala feminina da poesia brasileira.  Assinalo acima 19 alternativos impressos.  Desses 19, em nada menos do que 10 havia  pelo menos uma mullher no papel de editora. Senão vejamos:  Blocos Cultural, tablóide impresso do Rio de Janeiro-RJ, era feito por Leila Míccolis e Urhacy Faustino. O Capital, de Aracaju-SE, tem como editora Ilma Fontes.  Já "O Radar", tablóide de Apucarana-PR, conta com a dedicação de Rosemary Lopes Pereira.   "A Cigarra", elogiadíssima revista de Santo André-SP, tem em Jurema Barreto de Souza e Zhô Bertolini o seu esteio. Em  "Tal & Qual", jornal de Porto Alegre-RS, está Nina de Almeida.  "Panorama", jornal do Rio de Janeiro-RJ, é editado por Helena Ortiz.  "Meio Tom Poesia e Prosa", boletim informatizado de Atibaia-SP, é uma criação de Carlos Alberto Pessoa Rosa e Lúcia Rosa.  "Pensaminto", revista de Cataguases-MG, era veiculada por Idalina de Carvalho. "Mulheres Emergentes", de Belo Horizonte-MG, por Tânia Diniz. Por fim, "Tudo É Poesia", revista de Campo Grande-MS, era feita com muito carinho por Marina de Fátima Dias, falecida este ano. Quanto aos outros nove, "Telescópio", antigo e premiado tablóide impresso, atualmente é uma coluna virtual, realizada por Everi Rudnei Carrara, Araçatuba-SP. Arlequinal, de Atibaia-SP, era uma revista feita em computador por José Martino. "Letralivre", do Rio de Janeiro-RJ, publicação libertária mantida por Robson Achiamé.  "Balaio Incomum", folhas tamanho ofício xerografadas por Moacy Cirne, Rio de Janeiro-RJ.  "Fronte Cultural", era revista de Chapecó-SC, mantida por Silvério da Costa.  Garatuja, jornal tablóide, depois revista, de Ademir Bacca, Bento Gonçalves-RS.  "Momento Lítero-cultural", suplemento inserido no jornal do Alto Madeira, Porto Velho-RO, de Selmo Vasconcellos.  "Nascente Poético", de Luiz Alberto Machado, atualmente um informe virtual, Maceió-AL. "O Boêmio" jornal de Matão-SP, editado por Eduardo Waack, com várias páginas dedicadas à literatura. Por fim, "Urbana", do Rio de Janeiro-RJ, criada por Samaral e que continua a circular após seu falecimento, editada agora por João de Abreu Borges, que também produz a virtual Ano Um e abriu uma página na Internet para a revista Urbana.

Aliás, com o advento da Internet, muitas publicações que circulavam impressas passaram a existir apenas virtualmente. É o caso de Blocos, Garatuja, Meio Tom Poesia e Prosa, Nascente Poético, Telescópio. Outras, como Nozarte, A Cigarra, Urbana, Panorama e Balaio Incomum, continuam a existir nas duas mídias. Há as que se mantiveram apenas impressas, caso de O Capital, O Radar, O Boêmio, Momento Lítero-Cultural, Tal & Qual. Algumas desapareceram por variados motivos: Pensaminto, Tudo É Poesia, Fronte Cultural.

Por outro lado, a existência da Rede permitiu o surgimento de inúmeros sites, publicações e páginas literárias. Impossível ainda fazer um levantamento completo, mas no momento se têm destacado: Blocos Online (Leila Míccolis e Urhacy Faustino); Jornal da Poesia (Soares Feitosa); PD-Literatura (Asta Vonzodas e outros); Palavreiros (José Geraldo Neres e Grupo Diadema-SP); Oficina Editores e APPERJ (Sérgio Gerônimo e Glenda Maier); Officina do Pensamento (Ana Luísa Peluso); Nave da Palavra (Esther P S Rosado e Érica Antunes), Usina de Letras (do Sindicato de Escritores de Brasília-DF), Balacobaco (Rodrigo de Souza Leão), Revista Agulha (Cláudio Willer e Floriano Martins); Aliás e Dimproviso (ambos de Elaine Pauvolid); Nozarte Informativo Impresso e Eletrônico (Ricardo Alfaya e Amelinda Alves); Alma de Poeta (portal criado por Luiz Fernando Prôa); Luna e Amigos (Delasnieve Daspet); A Ilha (portal de Luiz Carlos Amorim); Escritor Rogel Samuel; Site de Sarah Fazib; VMD/Nascente (Vânia Moreira Diniz e Luiz Alberto Machado); Revista Poética Social (José Geraldo Neres e outros); Ano Um (João de Abreu Borges); Portal da Poesia (Adriana Zapparoli); Verdes Trigos (Henrique Chagas); Magia da Poesia (Fabio Rocha); Poesias e Reflexões (Romy Bastos).  Há que considerar ainda os bons sites  e páginas pessoais de poetas e escritores, como os espaços dedicados a Affonso Romano de Sant'Anna, Frederico Barbosa, Alberto da Cunha Mello, Flávio Machado, Márcia Maia, Yêda Schmaltz, Vinícius de Morais e tantos outros, às vezes criados e patrocinados pelos próprios escritores, às vezes por seus admiradores. Espaços que vamos descobrindo gradativamente.

Em termos de linguagem jornalística, o que se pode observar é que com freqüência as regras de padronização do "jornalismo oficial" vão para o espaço na imprensa literária alternativa. Recordo-me que logo na primeira ou na segunda edição de Nozarte informei ao público que seguiria uma linguagem personalizada. Por que não? Comecei falando para 100 pessoas, todo mundo conhecia todo mundo, que sentido teria ficar adotando uma postura impessoal, distante, de quem está escrevendo para milhões? Questionava, com outras palavras, o aspecto, frisando que alguma vantagem haveria por se estar à margem, excluído do grande processo editorial.  E essa vantagem, logicamente, era uma liberdade de palavra e de ação num grau que raramente existe na grande imprensa, salvo nas já citadas colunas e matérias opinativas assinadas. A realização teórica e prática de um jornalismo literário e libertário.

Ricardo Alfaya (*)
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(*)  Jornalista, poeta, escritor, professor carioca.  Produz poesia escrita, poesia visual, conto, crônica, ensaio, resenha e artigo. Bacharel em Direito e Comunicação Social, com especialização em Jornalismo, tem site individual dentro de Blocos Online.