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  Jornalismo e Literatura

Mais vale a versão que o fato! Se a imprensa não noticiou, o fato não aconteceu!

Em dois atos, a tragédia e a redenção, mostram o homem e o fato, modificando a situação.

Na manhã clara, o sol ilumina a alma que na noite escura sentira a vida gotejar quieta, a desabar pela face desocupada do homem de espírito triste que trazia no rosto um mistério do coração morto em segredo.

Um gosto azedo como córrego seco, apazigua uma sede que não mais flutua. É fel que desce pela garganta feito feitiço de um olhar que não mais faz o homem sonhar.

É como vidro quebrado ao cortar a mão que sangra um vermelho apagado pelo azul desbotado. Registra a fotografia que premia a história do homem marcado pelo seu passado.

Que um dia foi criança como outra qualquer, ponta-de-lança no jogo da escola, no futebol da vida sem medo, jornalista com sonhos e ilusão, como qualquer humano ou cidadão.

Naquela manhã não sentiu o sol na face que nada aclara, quando foi abandonado por Clara, mulher de vida incerta, que um dia desejara e sonhara um conto de amor.

Fraco, fraquejou seu dilema de história de homem com seu fim, ao buscar a morte agoniada lenta assim, na feia sarjeta feito água a escorrer pela suja valeta cheia de desengano, que levou apenas mais um fulano sem ninguém nem vintém.

É Fênix renascendo no mundo da literatura; o sujeito, mendigo por sofrimento, escreve o romance da sua vida e alcança o estrelato como ponto de partida.

Busca em cada excluído social ouvir a história dos humanos, e assombrado vê por debaixo da sujeira, separada toda asneira, homens e mulheres a beijar a morte por solidão.

Abandonados como lixo. É o retrato da desigualdade que um dia foi abençoado pela água benta, purificou o corpo e tirou todos os pecados, na esperança de saciar a sede da criança que um dia viveu dentro de nós.

Água, companheira das flores e dos campos, que pinta de verde todos os encantos. De amarelo, azul e branco, perfumada, talvez não rosa, que rosa já vem pintada.

É o lamento e a redenção do texto rasgado feito denúncia cuspida no enrugado chão. É doença marcada pelo sol que alimentou o melanoma no pomo-de-adão.

A escrita matou a solidão! O jornalista mendigo virou notícia e foi capa da Folha e do Estadão!

Hoje é consultor para assuntos transversais da Secretaria de Educação. É funcionário público com carteira assinada e casado com Lara, mulher de vida certa, com salário fixo e a estabilidade do emprego na palma da mão.

Douglas Mondo (*)
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(*)  poeta, advogado e escritor. Fundador e presidente do Conselho de Segurança de Jundiaí, SP. Acadêmico fundador e ex-presidente da
Academia Jundiaiense de Letras Jurídicas. Palestrante do Grupo Athena Arte e Cultura.