CINEMA na literaturalogotipo

Cine Plaza
                                                                              
Copiadora Clonar.
Pedro enfrenta mais um dia de trabalho. Sua função de operador de máquina copiadora exige muita habilidade. Ele é
experiente, há mais de quinze anos realiza cópias em preto-e-branco e coloridas, ampliadas e reduzidas; transparências em
preto-e-branco e coloridas; encadernações; toda espécie de serviços. Sabe identificar o melhor tipo de papel, pois uma boa
cópia depende de um bom papel. Trabalha no período de segunda-feira a sábado. Ganha três salários. Ao final de cada
expediente, Pedro olha para a copiadora, balança a cabeça e suspira.
 

*             *            *

Casa.
Cansado, Pedro permanece sentado, ou melhor, largado em sua costumeira poltrona. Tenta relaxar, após mais um dia de
trabalho manejando a máquina copiadora, efetuando encadernações e plastificações. Olhar melancólico para a TV, passa a
novela das sete. Ao seu lado, sua mãe não desgruda os olhos do aparelho.
Pedro suspira.
 

*             *            *

Lanchonete Ribeiro.
Sábado.
Noite de maior movimento no único ponto de encontro da pequena Beleza do Sul. Mesas ocupadas por casais de namorados,

jovens solteiros a procura de encontros, casais casados. Garçons caminham em todas as direções. O som é alto e contagiante.

Lá fora, a maior parte dos freqüentadores se aglomera nas calçadas.
Dentro, ao fundo, em meio ao clima de agitação, Pedro permanece sozinho em sua mesa. Olha fixo para seu copo de uísque.
De vez em quando, leva seu cigarro à boca e solta uma baforada. Às vezes, olha desanimado para as outras pessoas. Outras
vezes, bebe um gole lento e devagar de seu copo, como se fosse um movimento cotidiano.
 

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Domingo.
Cine Plaza.
Uma fachada gigantesca ocupando boa parte do quarteirão, tentando demarcar seu espaço de prestígio entre prédios
modernos e decadentes. De um lado, um centro comercial recentemente inaugurado, apresentando indício de que a pequena
cidade estava crescendo; do outro, uma construção deteriorada pelo tempo e abandonada pelo espaço; e, no meio, um
tradicional cinema em frangalhos, outrora freqüentado pela nata da sociedade local, mas que, hoje, aceita todas as fatias
sociais, inclusive nas dependências externas, que servem de dormitório.
Interior. Paredes descascadas, sofá rasgado. Meia dúzia de pessoas aguarda o início da última sessão da noite. Uns estão
olhando os cartazes surrados de filmes; um casal de namorados conversa; outros estão sentados no sofá do centro. A um
canto, Pedro permanece sozinho, escondido atrás de uma planta e envolto pela semi-escuridão. Observa melancolicamente as
outras pessoas. Suspiro fundo.
Faltando pouco para o início do filme, todos começam a entrar na sala. Pedro aguarda mais um pouco.
Após o saguão tornar-se vazio, ele entra. Caminha entre as duas enormes filas de cadeiras vermelhas, pouco se importando
com os olhares curiosos. Senta na primeira fila, embaixo da enorme tela.
Pouco a pouco, as luzes da sala começam a se apagar. O projetor entra em movimento, iluminando a tela. As primeiras
imagens e os primeiros sons invadem a sala. Pedro contempla a tela acima. Seus olhos brilham. Suspiro de satisfação e êxtase.

Hermes Falk