Poética da leveza
O trabalho de Almandrade, tanto pictórico quanto lingüístico,
vem se impondo, ao longo de todos esses anos, como um lugar de reflexão,
solitário e à margem do cenário cultural baiano. Depois
dos primeiros ensaios figurativos, no início da década de
70, conquistando uma Menção Honrosa no I Salão Estudantil,
em 1972, sua pesquisa plástica se encaminha para o abstracionismo
geométrico e para a arte conceitual. Como poeta, mantém contato
com a poesia concreta e o poema/processo, produzindo uma série de
poemas visuais. Com um estudo mais rigoroso do construtivismo e da Arte
Conceitual, sua arte se desenvolve entre a geometria e o conceito. Desenhos
em preto-e-branco, objetos e projetos de instalações, essencialmente
cerebrais, calcados num procedimento primoroso de tratar questões
práticas e conceituais, marcam a produção deste artista
na segunda metade da década de 70.
Redescobre a cor no começo dos anos 80 e os trabalhos, quer
sejam pinturas ou objetos e esculturas, ganham uma dimensão
lúdica, sem perder a coerência e a capacidade de divertir
com inteligência. Um poeta da arte e um artista da poesia. Um escultor
que trabalha com a cor e com o espaço e um pintor que medita sobre
a forma, o traço e a cor no plano da tela. A arte de Almandrade
dialoga com certas referências da modernidades, reinventando novas
leituras. Trabalha com o mínimo de elementos pictóricos,
duas ou três cores, dois planos, duas ou três texturas, um
traço, etc. e vemos uma pintura, um objeto e uma escultura.
Algo criativo que menosprezamos ao primeiro olhar, mas logo que somos
mergulhados no clima que eles nos impõe, descobrimos alguma coisa
de novo. A simplicidade que predomina nas composições desperta
a imaginação e o raciocínio.
Sua poesia também traduz esse princípio de uma poética
do mínimo e da leveza. Poucas palavras, versos curtos e soltos,
sintéticos, muitos sem títulos e sem floreios. Artista
plástico, poeta e arquiteto, Almandrade (Antônio Luiz M. Andrade)
é um
pioneiro da contemporaneidade na Bahia, embora sem o reconhecimento
que seu trabalho merece. Como disse certa vez o poeta Cleber Borges: “Almandrade
é uma daquelas personagens aparentemente deslocadas no tempo, ou
à parte, que parece caminhar para o lado, quando o relógio
insiste em tocar para frente”. Assim é sua poesia e sua arte.
Sua arte e sua poesia, aos poucos, vem sendo reconhecidas no Brasil
e no exterior. Em 1997 participa da antologia International Poetry Review,
com um poema traduzido pelo poeta americano Steven White. Hoje, a arte
e a poesia de Almandrade representam o outro lado da Bahia e tem como palco
a reflexão sobre a própria arte e sobre o estar no mundo.
Destacam-se pela diferença e por uma trajetória singular.
Como afirma o poeta Haroldo Cajazeira, Almandrade, sem se deixar devorar
pela província, produz, com sua arte, “um saber sobre a impossibilidade
de consistência de um sistema de signos.
Dênisson de Oliveira