Museu da Inconfidência, prédio onde se sediava a antiga Casa da Câmara
e Cadeia, na época da rebelião mineira.  Na foto, o "Panteão dos Inconfi- dentes", local onde se encontram os restos mortais dos participantes do movimento da Inconfidência Mineira,  repatriados em 1936, por ordem do governo de Getúlio Vargas.
Fonte: http://www.degeo.ufop.br/Portugues/OuroPreto/mi_galer.htm

A corda dos enforcados

Tecida fio por fio,
num jogo de desafio
o sangue das mãos maculava
a corda dos enforcados.
E os fios se avolumavam
com corpo ardente e infame
e em mãos do malefício,
a vergonha, o vexame,
enquanto braços medíocres,
com argumentos nefastos,
construíam com desembaraço
a estrutura do cadafalso.
A trama a cingir-lhe o pescoço
antecipou as dores que o moço
sentiu sob olhares tão falsos
ao soar, derradeiro, o compasso.

Ali dormiria com a crença
na desigualdade da sobrevivência,
onde a luta por seu ideal
impingiu-lhe, precoce, a dormência.
Dormência que castos e justos,
com dor, sacrifício e custo,
entregaram, na terra, à corda,
manchada de irreflexão e discórdia.

Em vertigem faltou-lhe o chão,
que, tão forte quanto a opinião,
levou-o ao encontro da morte,
abreviando a vida de um forte.
Os anseios não foram vãos,
nem mesmo sua intenção,
a corda dos enforcados
não matou o projeto, aviltado.
As sementes que foram lançadas,
por respeito a tanta gente,
brotaram em solo árido,
mas frutificaram não tardiamente.

Os cabelos e barbas compridas,
inertes, quedaram-se ao chão
e cabelos e barbas tão nuas
não lhe tiraram a razão.
O sal que salgou o seu corpo,
é o mesmo que nos salga a boca
ao deparamos com a intemperança
dos irresponsáveis, ou loucos.

A corda dos enforcados
não apodreceu com o tempo,
ficou como visgo sublimado,
pela dor do arrependimento.
E, ainda que muitos não julguem
esse herói com verdades de herói,
do pescoço, no laço da corda,
as dores ainda me doem!

Maria da Graça Almeida

 

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