Museu da Inconfidência, prédio onde se sediava a antiga Casa da Câmara
e Cadeia, na época da rebelião mineira.  Na foto, o "Panteão dos Inconfi- dentes", local onde se encontram os restos mortais dos participantes do movimento da Inconfidência Mineira,  repatriados em 1936, por ordem do governo de Getúlio Vargas.
Fonte: http://www.degeo.ufop.br/Portugues/OuroPreto/mi_galer.htm

I

EU CANTO NA ANTEAMANHÃ

quando os sonhos
semisonham
sob as folhas
e a luz nem abre
asas irmãs
sobre os pássaros
e homens
de todos os cantos
e cores.
 

II

VINDE COMIGO

nas largas velas
das caravelas
vir de façanhas
num ver de américas
virgens raiando.

Toco horizontes
de amor antanho
e tons diversos.
Onde se enriquece
as vãs sereias
que afloram de ondas
 e vêm morenas
cobreadas evas
flores da terra,
e flores de ébano
afra beleza
e ondas no corpo
— desabrochando.

Sigo sendas
imemórias.
De gente
em trânsito
e transe.
Passos que sangram.
Mãos que invectivam.
(Chego tarde,
tarda aurora.)

Golpes
coram-me
as asas.
Sofrido rasto,
vou.
Arrasto-se
meu tempo
e morre
o intento-vôo.

O cego desamor,
O dolorido séquito.
Como se já não doesse
a procissão de céticos,
os mendigos acenos
que me ensombram.

Olho o sol
e a ferida
realidade.
Sol feroz.
Sol ferino
solferino
riso trágico.

E empunho
meu canto,
eco
de séculos
que pungem,
no impulso
fraterno
e último.

Eu canto
na antemanhã
que nasce ocaso.
Meu canto
contra qualquer
sobretarde
que ameace acaso
o dia
por  vir.

Stella Leonardos

Do: "Cantares na Antemanhã - (Canto Atávico e Verdes Américas)", Edições Porta de Livraria, 1980, RJ

 

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