MÃE

                                        Á memória de minha mãe,  D. Lilita, horas antes de seu sepultamento

Tristes não, nem saudosos. Alegres, talvez.
Apenas certos de estender aos anos
alcatifas de coroadas flores.

Não cúmplices, mas pedaços
de uma vida, a mesma, entrelaçados
por fecundo sêmen, no estertor de legítimo gozo
de humores a fluir com força: momento
de evocar-me à luz.

À luz, à luz...como vim
e vi-me feito à imagem
de Deus, dizem os crentes;
do Homem, é o que diz Deus.

Há, sim, o entendermos sempre.
Refazer das carnes após o amor de hormônios,
multiplicar de genes, gestar com paciência,
parir entre dores, odores, suores
e as sempre lágrimas.

Deu-me o plasma, e o sorvi como a vida;
deu-me formas, palavras, cores, paladares,
música, dimensões, poesia
e o sentir,
que não se é poeta
impunemente.

De risos, lágrimas, sucessos,
e de tristes, felizes, esperanças
e de entes queridos ou distantes,
a fé no verbo te eterniza em mim.

                                                                  Luiz de Aquino
                                                                       
24/3/04

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