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Ela conseguiu ser uma figura ímpar. Frágil fisicamente, tinha uma força interior incomparável. Diria que nada a ofendia, nem a humilhava. Exemplo igual só mesmo em algumas passagens evangélicas.
Ela colocava o porco entre as pernas e fazia o "sacrifício" entre os gritos de pavor da garotada. Parecia um filme de terror. No fim, diante do prato feito e gostoso todos esqueciam a cena feia e os gritos do porco misturado aos nossos.
Ela me enchia de alegria quando ralava côco, pois sabia que dalí sairia coisa boa. Era lindo o côco ralado caindo no panelão. Pareciam lascas de neve. E eu ria, quando nos raros momentos de "relax" ela sentava no quintal com o seu cachimbo .Eu perguntava o que de bom tinha naquilo, cheiro ruim de matar! Mas era tão pouco o que ela necessitava em termos de distração. Um cachimbo e nada mais.
Vivia para distribuir amor, carinho e dedicação. Ainda era "rezadeira". Vinha gente lá das lonjuras para ela rezar com galho de arruda. Faziam até fila!
Essa noite sonhei com ela. Estava na sala, entre nós e usava aquele vestidinho estampado miúdo. Só não era de chita. Dentro do sonho eu o transformei em crepe.
Ela estava limpinha, cheirosa e feliz.
Eu me aproximei dela levando uma bandeja com um copo de laranjada e biscoitos amanteigados. Ela sorriu e disse:
— Obrigada, Deda (uma mistura de Ynêyda (eu) e Yêda, uma jovem neta prematuramente levada para outras dimensões que de alguma forma eu perpetuava através do Deda).
Saudade dela! o tempo não anda dentro da nossa memória.
Belvedere