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Mulher primeira na alimentação, na manutenção. O homem, caçador. A mulher, coletora. O homem primitivo não trazia comida suficiente, pois, afinal, os animais que eram caçados também queriam sobreviver... e corriam. E a mulher, primeira em contato com a natureza, alimentava sua tribo/comunidade, do pão da terra, do fruto das árvores, coletados no tempo certo pelas mãos mulheres.
O homem respeitava a mulher. Ela sustentava. Ela multiplicava a
tribo, pois gerava, gestava e geria ("administrava") o rebento que lhe
rebentava o ventre. O homem, só instinto, primitivo, ainda não
compreendia que ele era parte da concepção.
E admirava a mulher, pelo filho do vosso ventre, pelas frutas fruto da vossa coleta. Nisso tudo, a continuidade e a sustança da tribo.
Mas a admiração do homem transformou-se em paranóia. Ele queria dar à luz. E abria os próprios genitais... E abria o próprio ventre... E escalpelava um igual e se vestia com a pele dele, ensangüentada, e saía de dentro dela... Em todas esses antigos ritos, a vontade de ser igual à mulher.
Quando se apercebeu que o filho gerado era também parte dele, o homem não só retirou da mulher a imagem de sagrada, divina: também tirou dela o respeito humano.
E durante dez mil anos o homem tripudiou sobre a mulher. Quebrou as estátuas, substituiu-as por símbolos masculinos, fálicos. Erigiu deuses-animais e deuses-homens — e, não mais, a divindade primeira, a mulher-deusa, que dava a criança e trazia a bastança.
Menos que deusa, menos que mulher, menos que coisa... A mulher era só... nada. E ela, que só queria gerar, criar, proteger e amar sua maior obra — o homem.
O mal que te fizeram... O quanto te fizeram os que, durante nove meses, mulher, tu abrigaste da forma mais íntima possível, só explicável pelos mistérios da criação.
Mulheres-Andréas, mulheres-Clélias, mulheres-Esther, mulheres-Leilas, mulheres-Lenises, mulheres-Majus, mulheres-Márcias, mulheres-Marizas, mulheres-Vânias, mulheres-Yaras, mulheres-mulheres, mulheres, mulheres...
Bem-ditas — benditas — sois, mulheres. De ente sagrado a ventre sangrado, vós permaneceis, no jardim da vida, como árvores-mães, de onde brotamos homens-Álvaros, homens-Douglas, homens-Flávios, homens-Ricardos, homens-Urhacys, homens-nós, todos nós, que de vós brotamos, filhos e frutos do vosso ser. Do vosso cerne. Da vossa dor. Do vosso amor.