 |
MULHER, SEMPRE MULHER
|
|
No dia em que seu filho nasceu, Maria Rosa pensou que estivesse no Paraíso.Ou
em qualquer outro lugar que tivesse outro nome e fosse a mesma coisa.
O menino, moreno e de grandes olhos abertos, a encantava. Embora secretamente
pensasse que ele parecia uma coruja. Um lindo e especial filhote de coruja,
dizia para si, rindo enquanto aconchegava-o ao peito.
Pensando bem, nem sempre de alegrias fez-se o Paraíso. Aliás,
mais de discórdia e pranto. Veja-se Adão e Eva. E aquele
anjo tão lindo que banido tornou-se o demo.
Cresceu, o menino. E a vida que lhe tinha sido reservada, evaporou-se no
dia em que completou vinte e um anos.
À porta de casa, festa pronta, mãe orgulhosa de ter o filho
tão belo, maior de idade, quase advogado, Maria Rosa ouviu um burburinho
na rua. Um ruído seco. Como uma flecha de fogo e aço que
lhe traspassasse o peito.
E seu menino caído. E o sangue. E o vazio. Ausência de cor,
de som, de tudo.Um tempo suspenso. Flutuava enquanto os vizinhos acorriam.
Um nada. Nos olhos do filho. Nas suas mãos de mãe perdida.
Viu de relance a asa do anjo bonito virando a esquina.Lembrou do Paraíso.
Perdido por fim. Banida pra sempre. Como Eva. Como Adão. Como o
Anjo que vira.
Márcia Maia
«
Voltar