Amor de mulher.

Amor de mãe.

A todas as mulheres, mães de seus filhos, de seus homens, dos filhos alheios, do mundo, o meu amor incondicional.
Aos pais que, cada vez mais, têm assumido a maternidade de suas companheiras, a minha admiração.
            — Dá pra adiar?
            — Por quê? está com medo de perder a sessão das dez?... Tem tempo...
            — Falta de graça!

            Eu estava apavorada, com dor, com frio, fragilizada.
            Eu queria sair correndo daquela sala pra nunca mais voltar: Eu não estava preparada!

            Lembro-me de que, ao completar 15 anos, mamãe enviou todas as minhas bonecas para um desses hospitais reparadores de brinquedos. As bonecas retornaram lindas, frajolas, novinhas em folha e fechadas dentro de caixas, as quais minha mãe guardou com muito cuidado.
            — Uai, mãe!, a senhora vai guardar as bonecas?
            — Vou. Para sua filha.
            — E quem disse que terei filhos?
            — Claro que vai... vai estudar, se formar, ser independente e ter filhos.
            As palavras de mamãe, ditas de maneira tão incisiva, acomodaram-se dentro de mim como verdades absolutamente normais e inquestionáveis. Nunca mais ousei falar nada a respeito, porque, descontadas todas as diferenças que tínhamos e o fato de ter me engajado, anos mais tarde, em uma ferrenha luta feminista, mamãe estava e sempre estará certa.
            Mulher já nasce mãe, senão dos próprios filhos, mas das primeiras bonecas, dos irmãos, namorados e companheiros...

            Mulher é feito terra, cujo instinto natural é o da maternidade, o de alimentar e se doar incansavelmente sem esperar retorno...

            Mulher já nasce com o amor latejando dentro do ventre à espera do sêmen, da vida que, mais tarde, semeará outras vidas...

            E o destino se cumpriu, exatamente como vaticinou minha sábia mãe.

            — Nasceu!

            Como se eu não soubesse, Doutor!

            O choro, os pezinhos, as mãos, a boquinha rosada, a cara enrugada... amor meu, maior que o mundo, carne minha, vida da minha vida aconchegada entre meus seios.

            — E então? Ainda quer pegar a sessão das dez?
            — Qual o filme?

            Eu ria, chorava e rezava para que o mundo recebesse bem a minha bonequinha. Que a tratasse com carinho e respeito. Que a acolhesse quando eu já não mais pudesse abrir-lhe os braços. Que a abrigasse quando meu colo já não estivesse presente.

            Ah! Eu explodia de tanto amor!

            — Menina menina, você é pequenina, mas suporta bem... nos encontraremos em dois anos, até lá seu útero se recupera.
            — Tá brincando comigo? É muita responsabilidade... muita emoção. Sente só meu coração, está aos saltos, completamente desvairado. Quero mais, não. Deixa eu cuidar bem da minha filhota única. Deixa eu cuidar da minha Camilla.

            Voltei um ano e quatro meses depois, para mais uma vez (re)viver um caso de amor chamado... Felipe.

Mariza Lourenço

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