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Por que teria Deus escolhido uma mulher para enviar a este mundo vil,
Seu próprio filho? Por que nunca se ouviu falar de uma única
mulher "Brucutu", Caim, Gêngis Kahn, Herodes, Nero, Ivan, o terrível,
Henrique VIII, Robespierre, Napoleão, Stalin, Hitler, Mussolini,
Pol Pott, Idi Amin Dada, Kohmeini, Sadam Hussein, Anastacio Somoza, Papa
Doc, Galltieri, Carlos, o chacal, Ströesner, Pinochet, Osama Bin Laden,
George W. Bush e melhor-parar-por-aqui-pois-não-vejo-luz-no-fim-do-túnel?
Por que nunca se teve notícia de uma única mulher membro
dos tribunais da "Santa" Inquisição? Por que seria que mesmo
aquelas com todo o poder nas mãos, capaz de as tornar tiranas
e aqui citaria: Cleópatras, Marias Teresas d'Áustria, Christinas
da Suécia, Marias Stuarts da Escócia, Elizabeths e Vitórias
da Inglaterra, Marias Primeiras de Portugal, Catarinas Segundas da Rússia
e uma infinidade de outras , nunca o fizeram?
Por que ainda agora, em pleno século XXI - uma delgadíssima
película mucosa é o único atributo aceitável
para documentar a honestidade feminina? Por que, desde quando a espécie
"Homo sapiens" (que na minha ótica é nomenclatura equivocada,
pois o mais adequado seria "Mulier sapiens"), surgiu sobre a face deste
planeta, todos os atos correlacionados a animalidade, estupidez, brutalidade,
chacinas, holocausto, escaladas, guerras, extermínios, assaltos,
estupros, numa palavra, violência, foram sempre conseqüências
exclusivas da hegemonia patriarcal? Qual seria o motivo da passividade
das pessoas, das ONGs, da ONU, de todos nós, quando a televisão
mostra, ao vivo e em cores, mulheres sendo pisoteadas, massacradas, tratadas
a ponta pés por machos selvagens do Afeganistão; ou mutilação
de órgãos sexuais femininos em certas tribos africanas e
barbaridades outras de causar arrepios no mais frio dos machistas do mundo
dito civilizado? Ou ainda quando na China, onde a cada casal somente é
permitido o nascimento de um único descendente, o aborto é
imediatamente considerado e executado quando o ultra-som revela a genitália
feminina do concepto? Por que, mesmo nas ditas nações desenvolvidas,
o salário de uma mulher é quase sempre inferior ao dos homens
quando exercem idênticas funções? Por que nenhuma voz
se levanta em sua defesa, quando são injuriadas por parte de covardes
que utilizam o anonimato da internet a fim de pôr para fora seus
recalques, sua misoginia, seus distúrbios da sexualidade?
MARINA é muito bonita! A tez trigueira denuncia origem tropical ou, quem sabe, peninsular, mourisca, ou um amálgama disto tudo. Seu timbre de voz é suave, como se houvera sido criado propositadamente para serenar aflitos corações. O sorriso permanente transmite uma sensação de enigma, tal qual o da Gioconda, e dele, apesar de já havermos convivido por quase dois anos, nunca pude vislumbrar um único vestígio a tornar exeqüível qualquer decifração. Tenho-a, neste instante, diante de mim, através de uma reprodução fotográfica e graças ao milagre cibernético. Seus cabelos tais quais os da Iracema de Alencar são mais negros do que a asa da graúna. O lindo contorno da face de onde sobressaem, de cada lado, uma covinha, graças ao aludido sorriso de "Mona Lisa", e que são encimadas por graciosas "maçãs", mercê de bem delineados malares os quais sugerem haver sido esculpidos a cinzel de grande artista, e revestidos por uma pele de cetim -, destaca um harmonioso conjunto de onde emanam, além da beleza, serenidade e alegria de viver. Se me pedissem para resumir em quatro palavras este amontoado de detalhes que talvez mais confundem do que descrevem o encanto que estou a observar neste instante, diria: "uma fada dos trópicos!"
JULIANA, bacharela em Direito, Procuradora Chefe de importante instituição estatal, é a personificação, em carne, osso e talento, da escultura vendada que sustém, numa das mãos, a balança da Justiça e, na outra a espada da imparcialidade. Toda a sua carreira foi construída por ela própria à custa de muita competência, estudo, denodo, honestidade, luta. Sempre a palmilhar o caminho espinhoso, mas honrado do concurso público! Sem passar por cima de ninguém; sem necessitar de clientelismos politiqueiros; sem depender de quem quer que seja. Se ela deve a alguém o apogeu do seu sucesso, deve-o exclusivamente aos seus pais: paradigmas de honradez; exemplos de convivência humana salutar; educadores quase mudos, que conferiam, aos filhos, os seus ensinamentos, menos através de palavras, mas principalmente pelo modo de se comportarem como família, como membros sadios e dignos de sua comunidade; pelo interesse no conhecimento humano; pelos ideais de tradição cultural e de civismo, passados de geração a geração. Juliana, por conseguinte, teve aquilo que se convencionou chamar Berço.
NATÁLIA não é apenas uma virtuose do piano, como toca também guitarra e canta muito bem. Seus dotes musicais incluem a música popular brasileira onde se destaca a Bossa Nova e as mais famosas canções de autores e intérpretes estrangeiros do porte de um Cole Porter, de um Irving Berlin, de um Glenn Miller. Sobretudo, interpreta os clássicos europeus. De Johann Sebastian Bach conhece quase todas as partituras, com destaque especial para "Die Kunst der Fuge", concerto para piano ou orquestra de câmara e suma da contrapontística bachiana. Toca com desempenho incomum a Quinta e a Nona Sinfonia de Beethoven. De Schubert, todas as Sinfonias: desde a de número um até a nona. Conhece profundamente e executa com perfeição obras de Mozart, Mendelssohnn, Schumann, Handel, Haydn, Chopin, Gounod, Ravel, Grieg, Liszt, Berlioz e Tchaikovsky, cuja Sinfonia Número 1 ou "Winter Daydreams" é a sua favorita. Como se tudo isto não bastasse, Natália fala e escreve, bem e fluentemente além do Português , Inglês, Francês, Espanhol e detém conhecimentos avançados do idioma de Goethe.
TERESA ficaria quase nada a dever à sua homônima de Calcutá, conquanto diferentemente desta , sua mão direita nunca tome conhecimento daquilo que faz a esquerda. É dona de casa exemplar e mãe - do tipo daquelas de que fala o poema de Coelho Neto: as que "desdobram as fibras do coração". Ampara, socorre, mantém, cuida, zela, protege, arrima, conforta, beija, abraça duas parentas inválidas, além de trabalhar fora de casa a fim de provê-la confortavelmente. Nunca se lhe viu de mau humor, nem regateou uma palavra de carinho, um sorriso, um consolo, uma esperança, a qualquer ser humano padecente. Enfrenta os percalços do dia a dia, com bonomia, paciência e resignação. Quase sempre sozinha!
Por mais que venha procurando ao longo de décadas, nunca logrei achar uma resposta satisfatória para nenhuma das indagações enunciadas no primeiro parágrafo deste texto. Contudo, ninguém duvide, o mundo está repleto de Marinas, de Julianas, de Natálias e de Teresas. Todavia, o mais fantástico; o mais assombroso; o mais incrível de tudo, é que estou a falar aqui de uma única MULHER!
Raymundo Silveira