MULHERES

Inegavelmente, o milênio fechou deixando para trás na maior parte dos países, mesmo que simplesmente em vias de desenvolvimento, um tempo senão dramático ao menos nebuloso, em relação às mulheres, em autêntica ignorância dos seus atributos e da sua magnanimidade, ou por não querer ver seu potencial, sua capacidade de fazer tudo, em qualquer lugar, tão bem, senão melhor do que o homem.

A maior cidade brasileira, elege pela segunda vez uma mulher, Marta Suplicy, para seu governo, temos uma governadora, Roseana Sarney, considerada das melhores entre seus pares; no Senado, brilha uma Marina da Silva, Rita Camata continua se impondo na Câmara Federal e Fátima Kouzi representando bem as mulheres na Assembléia Legislativa, onde a
expectativa da volta de Brice Bragato vai representar com seu estilo forte e audaz, o elevar ainda mais alto da voz feminina, combatendo em todo bom combate.

Nenhuma mulher ocupou o cargo de Procuradora-Geral de Justiça, ainda que sejam diversas as Procuradoras. Ainda não estamos representadas no Tribunal de Justiça do Estado, embora se deva reconhecer que boa parte do caminho para tanto já tenha sido percorrido, além de se dever registrar que algumas juízas com freqüência, estejam substituindo desembargadores em impedimento ou férias. Neste tempo por exemplo, ali está a Dra. Catharina Novaes Barcellos, brilhante juíza de direito, aliás, a primeira mulher a ter assento naquela corte, onde a marca de seu saber já se registrou de forma indelével, tudo indicando que em breve comporá definitivamente o pleno.

Duas mulheres têm assento no Superior Tribunal de Justiça, Ministras Eliana Calmon Alves e Fátima Nancy Andrighi, uma terceira, Ellen Gracie Northflleet acaba de ser escolhida pelo Presidente da República para a mais alta corte do país, o Supremo Tribunal Federal. A primeira notícia foi de aplauso, inclusive da parte da oposição, mas agora vem sendo noticiado que estaria sendo cobrado um quesito ou seja de que, ao menos pelo fato de a Juíza não ter editado um único livro, seja demonstração de que lhe falte notável saber jurídico. É que, o art. 101 da Constituição Federal prevê: “o Supremo Tribunal Federal compõe-se de
onze Ministros, escolhidos dentre cidadãos com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade, de notável saber jurídico e reputação ilibada”. A nomeação é privativa do Presidente da República, a aprovação do nome porém é feita, por maioria absoluta do Senado Federal”.

É inegável que a publicação de livros recomenda seus autores, mas o fato de não ter publicado, não pode pura e simplesmente descredenciar ninguém. A literatura em qualquer das suas expressões é resultado de um pendor ou de uma vocação particular a qual se dá asas. Não é necessário que todos façam tudo. Admita-se inclusive que mereceriam ser publicadas, as decisões da juíza Ellen e que só por motivos outros ainda não aconteceu.

Causaria a todas as mulheres um grandíssimo mal estar, virem a constatar que tal argumento se constitua tão somente em mais um pretexto para que continuemos sendo relegadas, ou a confirmação de que há quem continue achando que efetivamente não sejamos capazes.

Que ninguém subestime a força, a sabedoria e a lucidez de uma mulher, pois, nem precisa que seja letrada para se destacar. Quantos são os que sabem que Raimunda Gomes da Silva, representante do Ponto Focal de Tocantins, recebeu o Prêmio à Criatividade da Mulher no Meio Rural, outorgado por um júri internacional convocado pela Fundação Cúpula Mundial da Mulher, com sede na Suíça?

Anônimas ou famosas, as mulheres continuam escrevendo a história. São as inumeráveis que chefiam a unidade familiar, porque os maridos “desertaram”. Nem esqueçamos as que no passado abriram caminho, como Carlota Pereira Queiroz, a primeira deputada federal, eleita em 1933, um ano depois da instituição do voto feminino.

São muitas, não haveria espaço para citar todas, mas de todas, pela fidelidade em tudo que fazem, essas em um aspecto, aquelas em outro é como se repetissem como fez a agricultora Rute – autora de um dos livros da Bíblia Sagrada – que ao ser autorizada pela sogra, à voltar para a casa de seus pais, considerando que lhe morrera o marido respondeu: "não insistas para que te deixe, nem que me vá para longe de ti. Teu Deus será meu Deus e teu povo, o meu, para onde fores eu também irei, na terra onde morreres, ai também morrerei”.

Marlusse Pestana Daher

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