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CÉUS DE JUNHO![]()
Tardos balões
nos salões do espaço
Aparições de cometas
de louras cabeleiras
Chuvas e chuviscos
de adrianinas estrelas
e a próxima via-láctea
da pólvora em expansão
enrolando-nos no frio
da noite galática
gerada na bruma
a baixar da Cordilheira...
Altas labaredas
de fulvas fogueiras
a lamberem lépidas
o carvão das trevas
crepitam a explosão
de miúdos mundos
enquanto os homens
tomados de assombro
esforçam-se a erguer
o misterioso véu.
De joelhos no chão
por Antônio, Pedro e João
querem as chaves
e o reino do outro céu
onde todos os homens
aos santos se ombrearão.
JUNHOSNa penumbra de terreiros
de dias idos varridos
líamos em turvas lâminas
ou em lágrimas de velas
as iniciais dos messias.
E resgatávamos moedas
às cinzas de altas fogueiras
para dá-las nas igrejas
a mendigos zés-ninguéns
xarás de encantados príncipes.
Junho é hoje um mês qualquer.
Quem teve sorte arranjou
seu plebeu (ex-príncipe
no remoto reino dos sonhos)
e não come sozinha as
amargas batatas de junhos
cegos sem luz de cometas
e de girassóis irrompendo
loucos entre joelhos e pés
assustados por bombinhas.
Oh junhos órfãos de colônias!
Adeus imóveis borboletas
aterrissadas nos jardins.
Adeus oh ondas de cheiro
poeira de lua, saliva
de jambu e mangarataia...
O que sobra das fogueiras
— de lenha e de paixões —
é a triste brasa da lembrança
que já sem fôlego assopro.Astrid Cabral