O CORAÇÃO ME ACORDA

        No meio da noite, o coração me acorda. Viver, que punição.
        Derramo a existência que me atribuem e cumpro. Que assome do devastado algo de mais real!
        Mas vida é a que há. E chego a ser na noite o que em geral disfarço, o pária, o doente de mundo, que o recusa porque aspira à verdade, aspira ao amor.
        O humano no homem, o humano até o ódio ao desumano. Mas sem orgulho. Rejeito e já estou buscando.
        Lento, o espírito desce sobre o corpo. Ritma-o, dá-lhe estrofes e pausas de um poema. Pode nascer a aurora.
        À tarde, quando vens, já é a tarde. Te amando, reaprendo o espírito e o corpo. Abraças e me enraízas. Conversas e é a vida, me devolves à vida.
        Meu coração se embala. E, de noite, volta a acordar...

Paulo Hecker Filho

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