GLAUCOMATOPÉIA [#17]

[1] Uma das mais repercutidas (especialmente entre a criançada) faixas do meu CD de sonetos musicados MELOPÉIA foi aquela gravada por Ayrton Mugnaini interpretando o soneto "Flatulento". Voltei ao tema neste outro soneto de 1999:

SONETO 281 HILÁRIO

O gás paralisante entendo e explico.
O gás lacrimogêneo faz sentido.
Porém o que me deixa estarrecido
é o gás hilariante e o pó de mico.

Produto duma indústria de milico,
a cócega e a coceira têm servido
ao dom de especialistas do prurido,
e cresce, mais e mais, o seu fabrico.

Pra mim, é um desperdício, pois dispenso
maiores artifícios pro meu riso.
Basta descontrair quando estou tenso.

Peidar é tudo aquilo que preciso:
me faz dar gargalhadas, porque penso
na paz do olfato alheio, que infernizo.

[2] Para cantar em forma de glosa, um dos mais clássicos motes sobre o assunto seria este, assim resolvido pelo mestre potiguar Moysés Sesyom:
O PEIDO QUE A NEGA DEU
QUASE NÃO CABE NO CU!

Eu conto o que sucedeu
Debaixo da gameleira:
Foi um tiro de ronqueira
O peido que a doida deu!
Toda a terra estremeceu,
Abalou todo o Açu!
Ela, mexendo um angu,
Botou a perna prum lado,
Deu um peido tão danado,
Quase não cabe no cu!

[3] Como esse tipo de coisa (glosas e gases) se espalha com facilidade, a mesma quadradécima foi farejada pelo pernambucano Sinval de Carvalho, que só aclimatou a cena em Caruaru ao invés do Açu:
Eu digo o que aconteceu
Num dia de sexta-feira:
Foi um tiro de ronqueira
O peido que a negra deu!
A cidade estremeceu,
Abalou-se Caruaru!
Mexendo um tacho de angu,
Puxou a perna pra um lado,
O peido foi tão danado,
Quase não cabe no cu!
 [4] Meu constante interlocutor Bráulio Tavares foi mais original ao dar sua versão paraibana (e bem mais universal), aliás em dose dupla, quadradécima e nonadécima:
O Chuí estremeceu
O Oiapoque sentiu
No instante em que se ouviu
O peido que a nega deu.
São Paulo toda fedeu
Cagou-se Nova Iguaçu
Choveu merda no Xingu
Por causa desse estampido
Que por ser tão desmedido
Quase não cabe no cu.

Uma negona bunduda
Dessas em forma de pêra
Me puxou pra sua esteira
Me dizendo estar tesuda.
Mandei-lhe pomba rombuda
Naquele rabo zulu!
Roncou o seu mucumbu
E sabe o que aconteceu?
O peido que a nega deu
Quase não cabe no cu.

[5] Finalmente, ficou assim minha versão xibunguista do tema, para não fugir da reta:
Muita merda já fedeu
Glosada de mote em mote,
Mas não há glosa que esgote
O peido que a nega deu.
Outro cheiro é mote meu:
Chulé de macho, um tabu
Que afugenta até urubu!
Chupo o pé, cresce-lhe a pica
E, de tão grossa que fica,
Quase não cabe no cu! [8.48]
GLAUCO MATTOSO
Poeta, letrista, ficcionista e humorista. Seus poemas, livros e canções podem ser visitados nos sítios oficiais:
http://sites.uol.com.br/glaucomattoso
http://sites.uol.com.br/formattoso

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