GLAUCOMATOPÉIA [#19]

[1] Depois de tanto tributo (ainda que na marra) ao órgão masculino, é chegada a hora de me render à derrama (de elogios) ao grande receptáculo feminino, objeto duma (in)confidência que eu já fizera no soneto abaixo em 1999:

SONETO 309 BUCETEIRO

Pequenos, grandes lábios, um clitóris.
Pentelhos. Secreção. Quentura mole,
que envolve meu caralho e que o engole.
Não saio até gozar, nem que me implores.

Diana. Dinorá. Das Dores. Dóris.
Aranha. Taturana. Ovelha Dolly.
Peluda, cabeluda, ela nos bole
na rola, das pequenas às maiores.

Buceta existe só para aguçar
a fome dos caralhos em jejum.
Queremos bedelhar, fuçar, buçar!

Agora não me falem do bumbum!
Do pé tampouco! Vou despucelar
o buço dum cabaço, ato incomum.

[2] Claro que, também na cabramachista poesia nordestina, a vagina mereceria muitos motes. Um dos mais antigos é este do século XIX, assim glosado por Laurindo Rabelo, o "Poeta Lagartixa":
A POMBINHA DE MEU BEM
TEM AÇÚCAR REFINADO!

Na chácara não sei de quem
Fodi com muito embaraço,
Porém achei sem cabaço
A POMBINHA DE MEU BEM.
Contudo direi que tem
Aquele pomo sagrado
Um prazer do céu mandado!
Se não tem cabaço dentro,
Na cavidade do centro
TEM AÇÚCAR REFINADO!

[3] O constante Bráulio Tavares, para quem a "buceta cabeluda" já foi motivo explícito de imortal poema, acaba de me passar estas glosas fresquinhas, uma em cada modalidade (quadradécima e nonadécima):
No mundo não sei de quem
Tenha xoxota tão rara;
A nenhuma se compara
A pombinha do meu bem...
Pois o sabor que ela tem
Não é insosso ou salgado;
Quanto mais tenho provado
Mais fico a pensar que nela
Além de cravo e canela
Tem açúcar refinado.

A xota do meu amor
Tem paladares e cheiros
Com aromas e temperos
De tudo quanto é sabor.
Do dendê de Salvador
Até champanha importado,
O que ali tenho provado
Nunca revelo a ninguém...
A pombinha do meu bem
Tem açúcar refinado.

[4] Para não fugir à regra xibunguista, minha própria glosa distorceu o conceito do mote para tirar da reta, ou antes, para pôr na reta:
Com a boca sirvo alguém
Que não tem nada de santo:
É por isso que não canto
A pombinha de meu bem!
O negócio que ele tem
Dá nojo em puta ou viado:
Seu sebinho acumulado
Tresanda a queijo rançoso!
Mas, para o Glauco Mattoso,
Tem açúcar refinado! [8.56]
GLAUCO MATTOSO
Poeta, letrista, ficcionista e humorista. Seus poemas, livros e canções podem ser visitados nos sítios oficiais:
http://sites.uol.com.br/glaucomattoso
http://sites.uol.com.br/formattoso

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