EPHEMERDAS, por GLAUCO MATTOSO

GLAUCO MATTOSO é poeta, auctor de mais de cinco mil sonnettos. Actualmente não compõe mais nesse molde, mas ainda practica outras estrophações.
Para informações sobre a orthographia que adopta, suggere-se accessar:

http://correctororthographico.blogspot.com.br

Coluna 07

MARÇO/2015

NOMES DE LETTRAS DANDO SOPA DE LETTRINHAS

No idioma inglez cada pessoa tem seu prenome abbreviado, em familia ou entre amigos, e taes hypocoristicos teem, às vezes, equivalentes em portuguez. Assim, Elizabeth fica Liz (para nós, Bete) ou, no diminutivo, Lizzy (para nós, Betinha); Robert fica Bob (Beto) ou Bobby (Betinho); Joseph fica Joe (Zé) ou Joey (Zezinho); Francis fica Frank (Chico); Edward fica Ed (Dudu), e assim por deante. Alguns hypocoristicos só funccionam em inglez mesmo, como Mick para Mickey ou Mike para Michael, Tom para Thomas ou Tony para Anthony. Por isso o nosso Tom Jobim nada tinha de americanizado, ao contrario do que accusava o critico José Ramos Tinhorão. Era apenas uma forma alternativa para Tonho, bem brazileira, como o Brazileiro que compunha seu nome.

Nossos anthroponymos ja tiveram appellidos mais communs. Joaquim era sempre Juca ou Quincas. Manuel era Mané. Antonio era Tonho ou Tonico. Hoje virou bagunça. Alguem pode ser baptizado como Juca mesmo, sem ser Joaquim. Antes, Carlos Eduardo era Cadu e Carlos Henrique era Caique. Maria Luiza era Malu e Maria Lucia era Maluca. Agora, o fulano é Cadu ou Caique e a fulana Malu ou Maluca na propria certidão de nascimento. Isso para não entrar no terreno dos modismos suppostamente "indigenas", typo Kauan ou Tayná... Emfim, vale tudo, como attestam os elenchos dos nossos times de futebol, cheios de Robson, Jobson, Madson, Jadson e quetaes.

Para quem gosta de bollar anagrammas, isso facilita a vida, claro. Um Retson pode virar Nestor, ou um Aricson virar Narciso, para fugir da vulgaridade. Na litteratura, o recurso sempre funccionou, como no caso de America, que virou Iracema. A poesia é terreno propicio a taes truques verbaes, desde o barroco até o concretismo, e não fiquei immune à temptação. Feita a digressão, vamos ao gancho chronologico.

Ja evoquei diversas vezes as datas commemorativas da poesia, duas dellas em março, mas o dia 12, consagrado ao bibliothecario (anniversario do poeta Bastos Tigre, tambem profissional da area bibliotheconomica), egualmente me diz respeito, ja que me bacharelei nessa area em 1972, pela Eschola de Sociologia e Politica de São Paulo, e exerci por breve tempo o cargo como funccionario do Banco do Brazil no Rio. O dictado "Casa de ferreiro, espeto de pau" calha bem no meu caso, pois nunca cataloguei nem classifiquei meus proprios livros para accommodal-os na estante. Mal e mal os aggrupei por tamanho ou typo de lombada, quando ainda eram numerosos e volumosos. Hoje quasi que me limito a conservar os livros de minha auctoria e uns poucos classicos ou obras referenciaes.

Mas o dictado poderia ser "Casa de Ferreira...", dado que meu sobrenome remette a uma das difficuldades da profissão, agora attenuada pelo advento da internet: pesquisar os nomes correctos e completos (orthonymos) dos auctores fichados. Nesse aspecto, faço mea culpa e confesso que difficultei o trabalho dos collegas com meus varios pseudonymos e heteronymos, alem dos cryptonymos, dos cyberonymos e dos mais hybridos litteronymos. Ultimamente estive occupado com isso e acho que meia duzia de interessados talvez queiram saber do que tracto.

Antes de assignar como Glauco Mattoso qualquer coisa que parescesse litteraria, tentei bollar um pseudonymo menos commum que meu nome proprio, Pedro José Ferreira da Silva. Mesmo que eu graphasse Sylva, unica differença entre a actual e a antiga orthographia (ou a graphia ideal que eu queria para a lingua portugueza), o nome continuaria vulgar demais para o meu gosto. A solução mais temptadora foi crear um anagramma, ou melhor, excolher entre innumeros anagrammas possiveis para um orthonymo tão propicio a homonymos.

O primeiro que me occorreu foi José Sylveira da Pedra-Ferro, que daria a assignatura litteraria José Pedra-Ferro. Só cheguei a usal-o em alguns ex-libris carimbados nos primeiros volumes da minha bibliotheca, ja que Glauco Mattoso se impoz desde o primeiro poema, "Kaleidoscopio", em 1974. Concluida a cega safra de sonnettos, que durou de 1999 a 2012, a idéa de usar aquelle anagramma voltou como alternativa para a previsibilidade de algo assignado por Glauco Mattoso, tal como uma collectanea de sonnettos sobre cães das raças basset hound ou dachshund, intitulada O BATATO E O BERINGELO.

Entrementes, outro anagramma tomou vulto, para a auctoria duma inedita collectanea de sonnettos e mottes glosados de thematica prophana, intitulada INCONFESSIONARIO. O heteronymo Padre Feijó viria de Padre Sade Feijó Serra Virol, a quem attribuo o seguinte motte glosado que enviei por email a meus contactos:

            Deus te abbençoe, meu filho,
            e quem te for da familia!

            Com meus irmãos compartilho
            a sancta graça do Pae
            e minha reza aqui vae:
            Deus te abbençoe, meu filho!
            Mas sempre algum peccadilho
            na minha bençam se pilha
            e caio em cada armadilha!
            Alguma cacophonia
            à parte, em mim (Amen!) fia
            e quem te for da familia!

Um amigo observou que o verso do fecho é "piada corrente", desattento para o poncto relevante de que, corrente ou não, o que importa é o encaixe da idéa no rigido formato da glosa, composta em redondilha maior accentuada, aqui, na quarta syllaba. Outro detalhe foi que precisei corrigir a versão corrente, diffundida como "e os que te for da familia", evidente equivoco grammatical, ja que "os" só concorda com "forem", o que invalidaria o cacophato. Esclarescido o retoque, approveito para fallar de outras possibilidades anagrammaticas que pretendo usar, para maior confusão daquelles gattos pingados que estudam minha obra ou tentam registral-a, bibliographicamente correcta.

O anagramma Adderval Rijo Freyre Pessoa, abbreviado para Adderva lPessoa, ficou reservado para as collectaneas cyclicas de sonnettos O CIRANDEIRO e MINGAU DAS ALMAS, alem da collectanea de decias A VOLTA DO GLOSADOR MOTTEJOSO, cuja preparação ganhou folego com o encerramento da producção sonnetistica.

O anagramma Israel David Jeferre Raposo, abbreviado para David Raposo, figurará na auctoria das collectaneas cyclicas O LOBO DO HOMEM e PSYCHOTROPICOS.

O anagramma Vereador Jilder Posse Faria, abbreviado para Vereador Faria, assignará a collectanea INGOVERNABILIDADE, tambem inedita em livro, focada em poemas satyricamente politicos.

O anagramma Professor Alê Jadder Vieira, abbreviado para Professor Vieira, fica para a collectanea INCOMPETITIVIDADE, de sonnettos futebollisticos.

Ja o heteronymo Sergio Sider forma anagramma com o titulo FEDOR E PALAVRA dado a outra collectanea de sonnettos e glosas. O anagramma seria perfeito si eu graphasse "Serjio". O mesmo se dá com o Dr. Serra Versejo, que forma anagramma com o titulo da collectanea PAEDOPHILIA, e com o Dr. Josaphé Sylvereda, que forma com o titulo da collectanea ARREPIO, ou com o Fr. Sereio Jr. com o titulo da collectanea PEROLA DESVIADA.

Nem sei si todas essas collectaneas sahirão impressas ou si algumas só existirão em edição virtual, mas fica prompto o projecto, lembrando que, na pelle de Glauco, ainda tenho muitos outros volumes engavetados.

Accabei deschartando, por emquanto, diversos embaralhamentos mais comicos, typo Josias Levi Ferrado Pedrera, "Jefe" Salvador Peidorreiras, Josias Arrafeder "Pedilover", Jofre da Porrada Viles Reyes, Javarry Pererê Fodido Lessa, Professor Jededia Varrelia, Prof. Elvis Derradeiro Ajaes ou José Vaddão Ferrari Presley. Assim como o vicio dos creadores de palindromos se exgotta na forçação de barra, a mania do anagramma pode redundar em monstrengos onomasticos de effeito meramente ludico. Por isso parei por ahi.

E ja que exemplifiquei accyma uma glosa do Padre Feijó, cabe addeantar uma do Vereador Faria, com a qual me despeço até o mez que vem.

            Ora, deixa como está
            para ver como é que fica!

            Em politica, não ha
            melhor phrase que defina
            o que fica na latrina:
            "Ora, deixa como está!"
            Quem alli cagou não dá
            a descarga, mas dá dica
            de que egual acha a titica
            ao seu voto, a merda ao motte.
            No cagão você que vote
            para ver como é que fica!

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