Cultos aos mistérios do passado
na vivência do mundo de agora

lembranças da encarnação no Sul da Índia (como Tamul Nadu) com reflexões místicas sobre sua vida atual
COLUNA QUINZENAL DE CLARISSE DE OLIVEIRA 
autora do livro “Mistérios” (Ed. Europa)
Nº 4 - 23/5/2008
(próxima: 23/6/2008)

CONSIDERANDO 

Eu estou na rede, na varanda de minha casa.
Ao alto, os urubus voam seu vôo macio sob as nuvens, passando pelos intervalos de céu azul.
Há duzentos anos, uma moça pobre, olhava os abutres indianos no mesmo vôo sobre o Sul da Índia.
Um sadhu itinerante que passava por Madurai, vendo a contemplação da moça no céu, disse-lhe:
– Você não pode reter a paz do vôo das aves; nem transferi-la para o seu interior; nem manter essa paz numa constante em sua alma. A vida é mutável. Descobrir o ponto sereno na constante mutação, zelar pelo ponto sereno, enriquecê-lo com o sopro do Espírito, ampliar o ponto sereno até fazê-lo permanente em sua alma, iluminando as sombras que sua mente ainda não pode caçar com a rede de sua evolução, esse é o objetivo da Vida.
A Eternidade sorriu ante o conselho do sadhu para a jovem de baixa casta.
E nada mudou, no modo como eu contemplava o vôo macio dos urubus sob as nuvens.

flor de lótusflor de lótusflor de lótus


INTERMINÁVEIS CHUVAS

A chuva caía fina e abundante no quintal.
Os jabutís, estranhamente, saíram de sua toca e passeavam alegres na chuva, que deixava seus cascos brilhantes, como, se tivessem sido envernizados.
As "orelhas de pau" no tronco da mangueira eram como rochas de cachoeira, quando a água tomba sobre degraus nas cascatas.
Eu olhava o portão que conduzia a uma passarela pelo meio do jardim, e me perguntava sobre o mistério do templo na Índia: ele, o Templo, estava tão longe... chuvas intermináveis despencavam sobre o Sul da Índia, nas Monções.
Mas... nem a chuva da Índia, nem a chuva do Brasil, definiam a razão do Mistério do Templo – porque o Templo estava aqui em casa, no jardim, na ausência do Oratório de jacarandá e ágatas, que minha mãe vendeu antes de morrer.
A porta do Templo, como na Índia, estava aberta dia e noite, como duas passagens intermináveis entre o Tempo e o Espaço, entre minha alma e meu corpo, meu sofrimento e minha eterna esperança para um dia eu me recolher entre os braços do Mestre que não cesso de esperar.
A fusão com a recepção amorosa do Mestre, para os devotos do deus Krishna,  é uma segunda vida para a alma que confia e crê.
Uma segunda vida é uma segunda estrada e isso é uma porta aberta para a Eternidade, porque, a Alma se mantém por uma pergunta:
– Ainda me amas?


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SÉCULOS DE AMOR

Eu estou sentada na escada pequena do Templo, em que servi como devadase; estou sentada com nosso filho ainda menino, como o deixei quando por ciúmes você me abateu.
Os Espíritas do Brasil, me pedem que não repita essa tragédia, nem em pensamento – porque ficas triste e já pagaste o que aconteceu, já regataste, acompanhando-me agora nos bons momentos, nas fraquezas, nas tristezas, nas inspirações.
Dois séculos foram necessários para provar quanto foi grande nosso amor.
Os "namoros" desta vida foram cruéis para comigo – poderias usufruir na vingança as minhas humilhações, decepções, crueldades... Ao invés disso, sofreste comigo, e na metamorfose dessa provação, eu tive mais consciência do nosso Amor de outrora.
Por mim, desejaria ter-te novamente entre meus braços... mas nunca se sabe os que os Escribas das Existências registrarão para nós... Aqui estamos, na escada de meu Templo, com nosso filho com feições de criança, como o deixei pela última vez.
Mas, veja, quem eu também esperava: meu grande amigo Paulo Alberto – que na verdade me deu a segurança de escrever, e a amizade alquímica de uma afeição esotérica que foi a amenidade de todo o meu sofrimento e a Ventura da Vitória do meu Valor Espiritual.
Ele vem ao nosso encontro.  Vamos nos levantar e conduzi-lo ao interior de meu Templo, nesta reunião de gratidão Eterna...

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EMISSÁRIO DIVINO

Chamaram a Alma que teria o nome de Clarisse:
– Você descerá à Terra, reencarnará – disseram numa "linguagem" que aqui na Terra será algo difícil de estruturar...
Mas, a Alma, aquele Pedaço de Deus, compreendeu e não gostou.
A Alma intuiu que enfrentaria doenças físicas, família antagônica, que em nada se afinaria a ela... e ela conservaria a lembrança "do desempenho”, isto é, "pedaço de Vida" que tivera num país chamado Índia –  e como poucas pessoas têm essa lembrança, lhe atirariam pedras...
Mostraram-lhe uma figura que seria sua "contra-partida" da Terra – a figura era de maior estatura da que a Alma teria na Terra.
A figura, que Alma batizou de Âmbar, era mais evoluída que Alma e resplandecente – e a resplandecência de Âmbar a sustentaria nas agruras da Terra, limando as pontas que a feririam; e cada vez que Alma conseguisse "desfazer" um elo que a prejudicava, Âmbar se modificava e na forma que a Terra pudesse perceber, e  Alma também se modificava.
A solidão se metamorfoseava atingida pela influência de Âmbar – e fora da Solidão, a Vida era uma ilusão escorregadia em que Alma teria que saber caminhar...
Só isso.

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