EPHEMERDAS, por GLAUCO MATTOSO

GLAUCO MATTOSO é poeta, auctor de mais de cinco mil sonnettos. Actualmente não compõe mais nesse molde, mas ainda practica outras estrophações.
Para informações sobre a orthographia que adopta, suggere-se accessar:

http://correctororthographico.blogspot.com.br

Coluna 16

NOVEMBRO/2015

INTUIÇÃO FEMINISTA

Si bastasse ter um dia de protecção ou de lucta, as mulheres estariam com tudo, pois, alem dos dias nacional e internacional da mulher, existe o dia das mulheres do campo e o dia de lucta contra a exploração da mulher, sem fallar no dia das mães, da vovó, da sogra, da cozinheira, da enfermeira ou da prostituta.

Mas, em novembro, o dia 25 foi reservado para o thema da violencia contra a mulher, particularmente interessante porque envolve a aggressão sexual, chamada de "estupro" quando a vagina é penetrada e de "attemptado violento ao pudor" quando a penetração forçada viola o cu ou a bocca da victima. Isso segundo o jargão juridiquez, que deliberadamente ignora o estupro contra homens, tal como a rainha Victoria ignorava o lesbianismo. Curioso é que, de meus tempos de adolescente, lembro-me de certos filmes dublados ou legendados que traduziam o estupro oral da mulher como "crueldade mental", que, no original americano, seria, litteralmente, "mental cruelty", figura juridica ainda mais euphemistica que "attemptado violento ao pudor", e mais suggestiva das intenções sadicas do aggressor, usada inclusive como justificativa para pedidos de divorcio por parte da esposa ultrajada... Para bom entendedor, seria como si dissessem: si a mulher appanha para chupar, é "physical cruelty"; si chupa para não appanhar, seria "mental cruelty".

Claro que nem toda a violencia é sexual, mas, geralmente, a mulher dicta "de malandro" não apenas appanha delle como leva a consequente "surra de picca". Si ella "gosta de appanhar" nem vem ao caso, ou viria, si, de accordo com Nelson Rodrigues, "nem todas as mulheres gostam de appanhar, só as normaes".

Toda a argumentação feminista contra o machismo domestico soa até anachronica, no seculo actual, face à barbarie commettida pelos jihadistas islamicos sobre suas escravas, ou antes, prisioneiras de "guerra sancta", um medievalismo do tempo das cruzadas que volta a assombrar o mundo, passados tantos seculos. A proposito do tractamento dado à mulher pelo radicalismo islamico é que fui buscar um sonnetto de Valentim Magalhães, tão modellar que foi incluido por Bilac em seu TRACTADO DE VERSIFICAÇÃO. Em seguida, appresento algo de minha auctoria.

              SONNETTO [Valentim Magalhães]

              Ante a mesquita de aureos minaretes
              açoitam dois telingas a trahidora.
              As vergastas, subtis como floretes,
              sibilam sobre a carne temptadora.

              À vibração das varas, estremescem
              seus niveos membros, firmes, delicados,
              e, nos espasmos do soffrer, parescem
              das contorsões do gozo electrizados.

              Geme aos golpes, que as carnes lhe retalham,
              e, aberta a rosea bocca, os olhos bellos
              perolas vertem, que seu peito orvalham.

              Dobram-se as curvas, soltam-se os cabellos,
              e do alvo collo, admargurado e exsangue,
               – como esparsos rubis – gotteja o sangue.

No livro O GLOSADOR MOTTEJOSO eu tinha glosado o motte abbaixo, correntena cantoria nordestina, do qual fiz uma releitura em forma desonnettilho no recemlançado livro SACCOLA DE FEIRA. Comparem e notemque, na primeira leitura, o rhythmo da redondilha não tem accento fixo na terceira syllaba. Mais recentemente, glosei outro motte, pertinente ao thema deste mez, e aqui ja mantenho o rhythmo accertado no sonnettilho. Confiram: http://cl.s6.exct.net/?qs=170b59a38d0aa656ed12f2847aefb1c9b455ca74c4c7e7d0397fd2da044ed403

              MOTTE GLOSADO

              Na proxima encarnação
              eu prefiro ser mulher.

              Mais opprimidos, quem são?
              Negros? Indios? Pobres? Loucos?
              Não quero ser desses "poucos"
              na proxima encarnação!

              A casta dos sem-visão,
              mais baixa que outra qualquer,
              ao abuso é de colher!

              Si é para chupar caralho
              e tomar no cu que valho,
              eu prefiro ser mulher!

              A VOLTA DO MOTTE DO SEXO [3648]

              Um poeta que eu conhesço,
              talentoso e creativo,
              diz que paga caro o preço
              por não ter sexo passivo:

              "Eu queria pelo avesso
              ter nascido, à luz dum crivo
              genital! Sou macho, e esqueço:
              de qualquer gloria me privo!"

              E elle affirma: a poetiza,
              de talento nem precisa,
              si tem algo a dar e der...

              Não invoca o motte em vão:
              "Na proxima encarnação
              eu prefiro ser mulher!"

 

              MOTTE GLOSADO

              Nas mulheres não se batte
              nem siquer com uma flor.

              Sobra macho que as maltracte:
              chutes, socos, bofetadas...
              Só com flores perfumadas
              nas mulheres não se batte!
              Uma excappa caso accapte
              o que exige o seu senhor:
              chupa, engole, aguenta odor
              com o qual não se accostuma,
              um bodum que não perfuma
              nem siquer com uma flor.

Índice Onomástico

Colunas anteriores:
01, 02, 03, 04, 05 , 06, 07, 08, 09, 10. 11, 12 , 13, 14, 15

« Voltar