Solange Firmino

Professora do Ensino Fundamental e de Língua Portuguesa e Literatura do Ensino Médio. Escritora, pesquisadora. Estudou Cultura Greco-romana na UERJ com Junito Brandão, um dos maiores especialistas do país em cultura clássica.

Mito em contexto - Coluna 22
(Próxima: 20/4)


Hefestos, o deus feio e habilidoso

O Senhor do Olimpo, Zeus, casou com Hera e os dois tiveram muitos filhos. Hefestos aparece em várias lendas como filho de Hera, que o teria gerado sozinha em desafio ao marido, pai de vários filhos com outras mulheres. Quando falamos que alguém é bonito como um deus grego, certamente não nos referimos a Hefestos, pois, ao contrário dos deuses belos e fisicamente perfeitos, ele era feio e coxo.

Uma versão da sua deformidade diz que tentou defender a mãe em uma discussão com Zeus e este o atirou do Olimpo. Na versão mais popular, a própria mãe o jogou, envergonhada com sua feiúra. Em qualquer dos casos, ao fim da queda, Hefestos caiu na ilha de Lemnos e ficou mutilado.

Salvo pela nereida Tétis e a oceânide Eurínome, Hefestos cresceu enquanto trabalhava nas grutas de Lemnos com ferro, bronze e metais preciosos. Homero o descreveu trabalhando sem parar em sua oficina próxima ao vulcão, cercado pelas ferramentas inventadas por ele e auxiliares como os Ciclopes. Ferreiro divino e artífice exemplar, Hefestos era considerado Deus do fogo, dos metais e da metalurgia.

Uma das suas peças mais famosas foi o trono de ouro que enviou para a mãe, uma armadilha que prendeu a deusa. Como só Hefestos sabia o segredo para desarmá-la, teve que voltar ao Olimpo, onde logo assumiu seu lugar. Muitos textos dizem que só libertou a mãe depois de receber a mão da deusa Afrodite em casamento.

A bela esposa do deus feio o fazia infeliz, pois ela o traía com Ares, deus da guerra. O deus do fogo usou suas habilidades para se vingar dos amantes. Hefestos fabricou uma rede invisível com a qual prendeu Ares e Afrodite. Diz a história que ao verem os dois ridiculamente presos, os deuses soltaram uma gargalhada histórica.

O trono de Hera e a rede dos amantes são alguns dos seus trabalhos engenhosos, que incluem várias peças fabulosas como o tridente de Poseidon, os raios de Zeus, a couraça de Hércules, as flechas de Apolo e as armas de Aquiles. Hefestos também teve oportunidade de usar suas próprias armas na Gigantomaquia, quando lutou com barras de ferro em brasa. Também combateu agitando labaredas na Guerra de Tróia.

Hefestos teve seu templo e culto em Atenas. O deus era homenageado com festas e seguidores portando tochas acesas nas Hefestias de Atenas. Na ilha de Lemnos estava o centro de seu culto, e participavam principalmente os artesãos, enquanto os nobres e artistas reverenciavam deuses como Atena.

Um episódio famoso conta sua participação no nascimento da deusa Atena. Zeus engoliu Métis por causa de um oráculo que dizia que o próximo filho dela seria mais poderoso que o pai. Hefestos fez o parto ao dar um golpe na cabeça de Zeus, de onde saiu a deusa.

Outro grande feito de Hefestos foi prender Prometeu a uma rocha com correntes indestrutíveis. Prometeu devia sofrer o castigo eterno por ter roubado o fogo dos deuses para os homens. A primeira mulher, relacionada ao mito de Prometeu, foi modelada por Hefestos. O deus também dava vida às estátuas que fabricava. Assim, deu vida à Pandora, enviada por Zeus como punição para a transgressão de Prometeu. Hefestos modelou Pandora com argila e a animou com a centelha divina, tornando-a mais uma de suas obras belas e mágicas que o transformaram em um gênio. Apesar dos seus defeitos, foi um deus incomparável.

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