POESIA PARA MUDAR O MUNDO - 2013 - BLOCOS ONLINE
Graça Graúna
GRAÇA GRAÚNA – Filha do povo potiguara (RN). Escritora indígena, tradutora. Educadora universitária na área de literatura e direitos humanos. Graduada, Bacharel, Mestre e Doutora em Letras pela UFPE; Pós Doutora em Literatura, Educação e Direitos Indígenas pela UMESP. Em versos, escreveu: "Canto mestizo" (1999), "Tessituras da terra" (2001), "Tear da palavra" (2007). Em prosa, para o público infanto-juvenil, escreveu: "Criaturas de Ñanderu" (2010); para a Editora FTD, em 2013, traduziu três livros de contos indígena da América Latina: "O coelho e a raposa" (povo kiliwa); "O sapo e o deus da chuva" (povo Yaqui); "Baak" (povo maia). Autora de "Contrapontos da literatura indígena contemporânea no Brasil" (ensaios, 2013). Participa de dezenas de antologias poéticas no Brasil e no exterior.
teardapalavra@gmail.com

Memórias das cinzas

anjos caídos sob os viadutos
segredam sonhos
em meio ao alumbramento
de um terça-feira gorda
a legião se mistura
para renascer das cinzas
em qualquer dia de sol
ou quando a chuva vier

Ser potiguara

– Vamu apanhá sol?
– Vamu.

De sal a sol, multiplicar a semente
pelo caminho de volta
com Tupuna sorrindo.

Vagamundo

Carrego cicatrizes
(...e quem não as tem?)
De algumas esqueço,
enquanto outras sangram
porque feitas de punhais-palavras.
A cada (a)talho, vago pelo mundo
para driblar esse mal
chamado coração.

Quase haicais

Tempo de estio:
sobre a carcaça do boi
um cão faminto

***

Da serra ao mar
os ancestrais dialogam
ao som do vento

Graça Graúna
Capa
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