POESIA PARA MUDAR O MUNDO - 2013 - BLOCOS ONLINE
Lena Jesus Ponte
LENA JESUS PONTE – Nasceu em Vitória (ES), em 1950. Reside no Rio de Janeiro (RJ). É professora de Português e Literatura Brasileira (aposentada). Tem 8 livros de poesia publicados: "Meu Mundo" (1965, Editora Pongetti, RJ); "Revelação" (1983, Massao Ohno – M. Lydia Pires e Albuquerque Editores, SP), "O Corpo da Poesia" (1992, Editoração Ltda., RJ), "Estações Interiores" – haicais (1997, Editoração Ltda., RJ), "Paçoca: a Foca Que Sonhava em Ser Poeta", em parceria com Wanderlino Teixeira Leite Netto (1999, Editoração Ltda., RJ), "Na Trança do Tempo" – haicais (2000, Editoração Ltda., RJ), "Ávida Palavra" (2007, Editoração Ltda., RJ), "Arca de Haicais" (infantojuvenil, 2012, Editora Paulinas, SP). Textos de sua autoria constam de antologias bem como de revistas literárias, entre as quais a da Academia Brasileira de Letras e a da Biblioteca Nacional. Colaborou com o Projeto Portinari na elaboração de três Cadernos do Professor e na redação e revisão de textos para o Portal Portinari. Site: http://www.lenajesus.ponte.nom.br

DE PASSAGEM

Na rua dorme um menino
sem lençol de afeto.
Na rua sonha um menino
sonhos sem imagens.
Na rua seca um menino
sem sequer as miragens de um deserto.

O menino dorme,
abraçado à calçada,
aconchegado ao cimento.
Que faz todo mundo neste momento exato?
Dormimos todos um sono profundo.

COLAGEM

Um punhado de cabelos no seu vento
e coxas rodadas. Cigarros mal pisados murcham tocos.
Passam recortes de pessoas fortes, passam coortes
de soldados rasos cabeça de papel.
Há risadas quentes nos seus dentes rentes
que prendem a língua gulosa num quartel.

Um punhado de vento nas suas folhas de cabelos
revoltos. Em revoo passam pássaros sem penas e dores.
Os ternos se abraçam. Os ternos passam
a passos largos para o escritório.

O mundo se enche nesta tarde.
As bochechas generosas de Deus inflando a bola enorme.
O céu estica fino e o sopro é morno.
A sombra cochila debaixo do banco da praça.
Em cima o pobre dorme de graça.

Um punhado de vida neste mundo de punhos amarrados.

Lena Jesus Ponte
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