COLUNA DE VÂNIA MOREIRA DINIZ

Nº 23 - 6/8/2007
(próxima: 21/8/2007)

          

O pequeno Joel, lição de Vida

Caminhei hoje sem rumo procurando absorver a beleza da natureza, meu coração estava precisando sorrir, porém precisava de elementos para consegui-lo.

Resolvi fazer minha costumeira visita à periferia da cidade onde poderia trocar minhas esperanças com tantas pessoas, crianças e adultos que certamente neste momento em graus diferentes também precisavam dessa sensação

Refletindo enquanto o carro andava, meus pensamentos estavam longe, muito longe, mas ao mesmo tempo se reportavam à primeira vez que eu tinha visitado o Morro Santa Marta no Rio de janeiro quando eu tinha apenas doze anos. Sorri então pensando o quanto minha mãe tinha ficado apavorada embora eu estivesse acompanhada de adultos responsáveis.

O que me chamou atenção quando cheguei ao meu destino foi uma criança solitária que eu conhecia e admirava. Lia tudo que podia e gostava de escrever. Era realmente precoce. Nesse momento ele não estava no grupo de colegas que brincavam e corriam por ali. O pequeno Joel olhou-me e senti que seus olhos brilhantes se estreitaram numa expressão muito pessoal quando se alegrava.

Caminhei até ele enquanto a criança corria para me abraçar e não sei por que me senti protegida ali naquele momento em que me tocou o afeto do menino e seu gesto tão especial. Pensei que ele devia estar triste por algum motivo. Mas foi ele que me perguntou:

— Está triste, tia?

Olhei-o com ternura, porém não consegui responder imediatamente. Em vez disso indaguei:

— Por que está aqui sozinho? Não quer aproveitar a manhã de sol para brincar?

— Não estava animado hoje. Imaginei que você hoje passasse por aqui. Queria crescer logo e poder trabalhar fazer alguma coisa.

— Você está fazendo. Está estudando e isso é uma preparação para sua vida adulta. Ai sim poderá realizar seus sonhos. E você gosta de escrever e ler. É um grande trabalho para sua idade.

— Tia, você é feliz?

Sorrià estranha pergunta daquele menino precoce e respondi imediatamente:

— Joel, sou feliz sim, mas há momentos que nos sentimos tristes. A felicidade é feita de fases em nossas vidas. E você  nessas horas tem sempre que  realizar algo, pensar e talvez ajudar outras pessoas que estejam precisando de conforto tanto quanto nós.

Joel olhou-me profundamente os cabelos densos esparsos no rosto bonito, a pele manchada do sol constante enquanto eu sentia que ele esperava que eu falasse algo:

— Minha mãe morreu Joel. Sinto falta dela, entende? As mães não morrem para nós, por isso ela estará sempre em meu coração. Mas sentimos saudades. Dói muito, sabe? E temos um tempo em que ainda não nos acostumamos com sua ausência e fica difícil entender essa separação física.

O menino ficou parado contemplando-me durante um período pequeno e que achei longo pela intensidade, mas depois lentamente se aproximou de mim e beijou-me o rosto:

— Não, tia, não fique triste. Eu não tenho mãe, não sei direito como lembrar dela. Ela morreu quando eu era um bebê. Moro com minha tia, mas não é a mesma coisa. Você pode lembrar e as saudades melhoram, mas e eu? Ninguém me fala dela e queria escrever como você e poder falar com ela. Acho que eu ficaria feliz nessas horas. Não fique triste...

Joel me dera uma lição de vida. Sempre haveria alguém precisando de mais conforto, de mais carinho. Abracei-o, prometendo pesquisar e buscar elementos sobre sua mãe para que ele um dia pudesse escrever sobre ela. Era só isso que queria. Lembrar dela, saber um pouquinho de sua vida e tê-la por intermédio de imagens gravadas em sua cabecinha.

Abracei-o pegando em sua mãozinha para que pudéssemos nos aproximar de seus amiguinhos que brincavam por ali. Meus olhos estavam cheios de lágrimas e meu coração tinha se aquecido com a presença daquela criança.

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