Solange Firmino

Professora do Ensino Fundamental e de Língua Portuguesa e Literatura do Ensino Médio. Escritora, pesquisadora. Estudou Cultura Greco-romana na UERJ com Junito Brandão, um dos maiores especialistas do país em cultura clássica.

Mito em contexto - Coluna 28
(Próxima: 20/7)

 

A mítica Guerra de Tróia

Os eventos que causaram a Guerra de Tróia fazem parte de relatos conhecidos como Ciclo Troiano. Algumas histórias estão nos poemas homéricos, a Ilíada e a Odisséia, e outras foram retiradas de fontes como os antigos dramaturgos gregos. A Ilíada narra os episódios finais da guerra e a Odisséia conta sobre a volta de Odisseu (Ulisses) até sua terra natal, que demorou dez anos.

Uma das narrações mais importantes sobre o motivo da Guerra de Tróia está relacionada com a nereida Tétis, filha de Dóris e do Velho do Mar, Nereu. Zeus e Poseidon desejavam Tétis, mas um oráculo revelou que o filho dela com um dos dois seria mais poderoso que o pai. Os deuses desistiram e logo conseguiram um marido mortal para ela.

Tétis nunca se conformou com a mortalidade do marido e, na ânsia de imortalizar os filhos, já havia matado seis, quando Peleu pegou o sétimo, Aquiles, no momento em que ela o segurava pelo calcanhar para temperá-lo no fogo. O herói se tornou invulnerável, exceto no calcanhar... Tétis abandonou o marido, mas sempre protegeu o filho, como vemos nas suas aventuras contadas na Ilíada.

Durante as núpcias de Tétis e Peleu, Éris – a Discórdia – convidada a não comparecer, jogou a maçã de ouro, o chamado Pomo da Discórdia, para a mais bela. Hera, Atena e Afrodite se levantaram para a disputa. Ninguém presente se atreveu a decidir e a responsabilidade ficou para o mortal Páris, que vivia na Ásia Menor.

Páris era filho do rei de Tróia, Príamo. A rainha Hécuba sonhou que estava dando à luz a uma tocha que incendiava Tróia. O oráculo disse que o menino seria a ruína de Tróia e, após nascer, foi exposto no monte Ida e criado por pastores. Um dia Páris foi reconhecido pela irmã Cassandra quando participava de jogos, e logo foi acolhido pelo rei no palácio.

Zeus enviou o mensageiro Hermes com as três deusas que disputavam a maçã até Páris. Elas expuseram seus argumentos e prometeram presentes em troca do voto. Hera prometeu o império da Ásia. Atena ofereceu sabedoria. Afrodite ofereceu o amor da mais bela mulher, a rainha de Esparta, Helena, já casada com Menelau. Páris escolheu Afrodite.

O troiano partiu em busca de Helena, que não demorou a ser conquistada, fugindo com ele para Tróia – ou foi raptada. Ulisses e o marido Menelau foram reclamar Helena e os tesouros levados pelo casal, mas Páris se recusou a devolver e ainda tentou convencer os troianos a matarem o rei de Esparta. Com essa recusa, a guerra se tornou inevitável.

Reuniram-se reis e heróis em expedição contra Tróia. Os deuses também se dividiram e escolheram seus lados. As deusas preteridas por Páris ficaram ao lado dos gregos, diminuindo as chances dos troianos. Foram 10 anos da guerra que destruiu Tróia e grandes homens, reis e heróis como Aquiles.

Os gregos acreditavam que essa guerra era um fato histórico, e durante séculos os estudiosos duvidavam, até a descoberta do sítio arqueológico na Turquia. Descobriram que algo aconteceu na região entre 4000 e 3000 a.C. que representou o fim da Idade do Bronze e início da Idade do Ferro. No final do século XIX, o arqueólogo Schliemann descobriu não uma, mas várias Tróias, várias cidades sobrepostas. Os motivos históricos da guerra certamente não incluem Helena ou maçã de ouro, mas estão relacionados com a localização privilegiada da cidade e questões político-econômicas.

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