"DIVERSOS CAMINHOS EM BLOCOS", POR ZANOTO

Jornalista famoso do Correio do Sul (Varginha/MG), desde 1950 mantém a coluna lítero-poética "Diversos Caminhos" naquele jornal.
Manteve coluna em Blocos Online de janeiro de 1998 a dezembro de 1999, e agora retorna à Internet, novamente através de nosso site.
C. Postal, 107 - 37002-970 Varginha/MG

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Coluna de 15/5
(próxima: 15/6)

1. O que me chamou a atenção foi a narrativa de Bentinho. E disse Manuel Bandeira: "Estou farto do lirismo comedido/ do lirismo bem comportado"... Enquanto isto, o mundo hoje usa a linguagem não verbal - usa e abusa dos gráficos, dos sinais, das ilustrações. Já contei, aqui, que P. H. Xavier adora outdoors. Ah, são "mãos que os lírios invejam"... No mais, diga trinta e três.

2. O Beco
     
     Cláudio Pereira de Oliveira
     (Vila Velha - ES)

     Não o da Lapa, de Manuel Bandeira
     Nem os de Goiás Velho, de Cora Coralina
     Mas o de Seu Firmino, de Paulo Jacinto
     O único de minha vida.

     Onde jogando ximbra e pinhão de ponteira
     O temo passava sem ser notado
     Das disputas ferrenhas de todos os jogos
     E até ingue de luta livre pra valer.

     Ah! meu beco de terra batida
     Onde um vento suave passa após o meio-dia
     Tornando-o um pequeno oásis
     Nessa minha terra querida.

     In "Letras Santiaguenses" (RS)

3. Recordo, de repente, a Piazzale Michelangelo, em Florença (Itália). A praça fica no alto e de lá se tem uma paisagem esplendorosa para admirar. No centro da "piazzale" o monumento ao fabuloso gênio Michelangelo. E o David, que coisa mais sensacional. Estivemos - o pessoal da excursão - lá, por volta de nove horas da manhã. Eu me lembro de algumas frases gravadas no magistral monumento, mas não consigo encontrar o caderno em que anoitei as frases. E as pontes históricas? São de cair o queixo. O rio Arno me trouxe vários rios brasileiros, naquele momento à memória. Nossa guia falou por algum tempo sobre a Ponte Vecchio. Wstão agora passando pelos meus ouvidos os sonos dos sinos de Firenze.

4. O Sentido das Coisas sem Sentido
    
O sol de inverno incide sobre todas as coisas, na praça dessa cidade esparramada, no interior paulista.
Aquece meu coração enquanto olho encantada a beleza natural das plantas que rodeiam a capela antiga, situada no meio desse jardim.
A arvorezinha foi moldada por mãos humanas para adquirir a forma de um bicho e ficou ali como estátua de sal, eternizada, coberta agora pela poeira seca.
Em cada canteiro deu-se o mesmo. Estátuas de sal enfeitam a praça. Os pequenos canteiros cercados por tijolos delineiam o solo em desenhos geométricos que ordenam o mundo. Dão forma.
Vejo-me transformada em estátua de sal circundada por formas geométricas, e sinto-me referendada por essas linhas ordenadoras, mais do que limitada ou contida. Meu mundo está ornamentado e protegido por linhas geométricas.
Essa pequena cidade aquecida pelo sol traz-me lembranças armazenadas e esquecidas, que agora afloram.
Toca essa ordem conseguida por mãos humanas, unindo o homem e a natureza e dando forma ao aparente, apesar do clima inóspito, conseguiu trazer-me um momento apaziguador ao dar-me um sentido às coisas sem sentido.
                                    Djanira Pio
         

5. (ONDE A BRASA ESPORA)
                                 
Não dorme a palavra
Rubra na derme da língua
fala em carne viva.
            Eduardo Feijó Netto Machado

Disse ele: "Oi. Eu, carioca, de 15/01/1061, formado em jornalismo, música e na Universidade de Risos e Lágrimas do Brasil, proclamo o insaciável ciclo: o que se, ai, cai, é pra se, ui, levantar." In "Saciedade dos Poetas Vivos", volume VI - Haicais - Editora Blocos (RJ). Seleção de texto: Urhacy Faustino e Leila Míccolis. - Ok, caro Eduardo Feijó N. Machado.

6."Enquanto se ouvir em qualquer parte do mundo a Rhapsody in Blue de George Gershwin e/ou Wonderful World cantada por Louis Armstrong eu serei imortal e viverei naquele momento e lugar onde se façam ouvir tais canções" - José Luiz Dutra de Toledo.

7. UMA IMAGEM FEMININA

Uma figua distante.
É uma moça escondida
na fotografia desfocada.
O olho logo interroga
o que a imagem
não mostra.
Um possível rosto branco
que lembra
a brisa do amanhecer
quando é primavera.
A menina sonhando a mulher
disfarça o desejo
assediada pelo medo.

            Almandrade

8. Francamente, para mim, ler é uma troca intensa entre o texto e o leitor. Ler é cimentar, adquirir coisas que nem por nossa cabeça haviam passado. Olha, pra dizer a verdade, o ato de ler tem que ser feito com completa volúpia.
    Li: "Um acorde suspenso no ar / indica o lugar / que o silêncio cobriu."
    "Labirindos", sem dúvida esse neologismo é de Joaquim Branco, eu vi a belíssima palavra num poema dele.
    Há muito tempo, creio que em abril de 1966, vi, por aí, uma linda frase dita pelo cronista e poeta Paulo Mendes Campos: "Há um lado em mim, que já morreu".

9. TRISTÃO DE ATHAYDE
(Teoria crítica e história literária)

O trabalho meticuloso e lúcido de Gilberto Mendonça Teles, dominando a vasta obra do grande crítico, para dar aos jovens brasileiros a chave e o pretexto de seu estudo, numa antologia realmente modelar, vem na hora própria quando a ansiedade dos moços parece deter-se diante da vida, em busca de um caminho. (Josué Montello, Jornal do Brasil, RJ - 05.08.80).

10. Sumiu. Sim, estava ali. Uma borracha de duas cores: azul e vermelha. Eu a havia colocado ao lado da máquina de Escrever. Agora sumiu. Não sei se tenho outra em algum lugar. O que fazer? Não encontrando alguma guardada por aí, em casa, tenho que comprar outra.
       Era tarde da noite e ela dançava no escuro. E ficamos esperando o fim de semana.

11. Caracol feliz,
       transportando a própria casa!
       Homens ao relento...
                     Leonilda Hilgenberg Justus

 12. Com que bem-estar vou indo pela avenida São José, na minha caminhada matinal. Seis horas e 15 da manhã. O sol vai clareando a cidade. De todo lado, o rumor dos acordados.


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