"POETICIDADES E OUTRAS FALAS"
RUBENS DA CUNHA


Reside em Joinville, SC. Autor de "Campo Avesso" e "Visitações do Humano". Acadêmico de Letras. Escreve semanalmente no Jornal A Notícia e coordena o Grupo de Poetas Zaragata. Na Web tem o e-book: "A busca entre o vazio", disponível para download,
na URL: <http://www.arcosonline.com/index.php?option=content&task=view&id=146&Itemid=>.
Blog "Casa de Paragens": <www.casadeparagens.blogspot.com>.

Coluna de 9/2
(próxima coluna: 23/3)

É Preciso ser...

Para Carla

A vida anda avessa. Tesa de medo. Olhar o mundo dá um desespero, uma agonia. A nossa sorte é a esperança que temos. A capacidade de olhar o avesso e dizer: vou botar isso no direito. E lá seguimos: lutando, amando, sorrindo. Às vezes, a vida nos entorta. Aí olhamos para ela com algum desdém, arrumamos o cabelo, a maquiagem e dizemos para a vida: tu me entorta mas não me quebra. Assim mesmo num português bem informal que pra ela ouvir melhor. E seguimos de novo. Numa segunda qualquer arrumamos um sonho para realizar. Noutra quinta sem importância olhamos alguém diferente. Naquele sábado relegamos ao passado as pessoas que nos emperram o andar. E assim a vida vai se endireitando, a gente vai sendo feliz no caminhar. A felicidade deixa de ser aquele horizonte, lugar além e é o aqui-agora, o vamos-ver do dia-a-dia. Poucos têm coragem de enfrentar, de saber disso. Preferem fugas, atalhos menores que a larga estrada do destino. Tem medo de sofrer por isso não voam. Tem medo de morrer por isso não sorriem, sempre sérios, apostando no futuro, visando somente aquele dia em que estarão ricos, aposentados e livres. Liberdade, alegria, paixão, riqueza é no presente do indicativo. Não há outras conjugações, não há nem sequer adjetivos. É tudo substantivo e bem concreto mesmo. Caiu, levanta. Perdeu, procura que acha outro novo. Te abandonaram, te ofenderam? Resgata aquele samba antigo e sai girando vida afora: “ali onde eu chorei, qualquer um chorava, dar a volta por cima que eu dei, quero ver quem dava”.. A vida anda avessa é por estamos esquecendo de cantar mais alto outro samba antigo: “viver e não ter a vergonha de ser feliz...”. E de samba em samba vai até a morte, sendo, sendo, sendo, que Ser é a nossa dádiva, é aquilo de melhor que O SER nos presenteou.

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