Christina M. Herrmann  

Christina M. Herrmann é poeta, webdesigner. Carioca, vive atualmente na Alemanha. Comunidades no orkut: "Café Filosófico das Quatro", "Sociedade dos Pássaros-Poetas" ambas de entrevista e "Orkultural" em parceria com Blocos Online.
Endereço do Blog, reunindo todos os seus sites e comunidades: http://chrisherrmann.blogspot.com

Coluna 39 - 1ª quinzena de abril
próxima coluna: 24/4

POESIA, DEBATE, MINICRÕNICAS & CONTOS

Destaques desta edição:

Poesia (Orkultural): Sônica Ortega, Maria Lúcia de Almeida e Ana Wagner.

Debate – Highlights "A questão do Preconceito" (CF4): Cris Dumont (Corujinha), Paulo Magalhães, Neto Frota e Bruno K.

Minicrônicas & Contos (CF4): "Tempo de Pacificação" de Luciana Pessanha Pires, "Pretinho" de Kátia Góes, "Mestres e Bufões" de Antonio Carlos Rocha e "Contos do Riacho" de Olívia Paz.

* * *


Laços de areia

Sônia Ortega

Amanheceu um dia cinzento.
Olho para fora, um dia amarelo.
Areias da China invadem o Japão.

Vida preguiçosa
Mundo adormecido,
Mente vazia.

Solta as palavras
Rasgando versos
Engasga areia
Atropela rimas
Poema sem fronteiras

O vento é forte
Janelas estremecidas
A casa adormecida
O verso submerge
Areia movediça
Amarelado papel
O poema não nasceu..

 

O Barco

Maria Lúcia de Almeida

Lá vem o barco nas margens
Navega em grandes véus
Leva homens e personagens
Vejo um boto de chapéu.

Meu barco vem chegando
Traz ventos pr'um dia bom
Provoca um grande escândalo
O jaboti está de batom.

Meu barco já chegou
E trouxe notícia boa
Jacaré saiu de férias
Os peixes vão nadar à toa.

 

Espantalhos

Ana Wagner


Nada temos para fazer
além das ficções
e das necessidades
que inventamos

E precisamos inventar
as coisas desnecessárias para fazer?

E os nossos sonhos?

Inventamos a distância
que colocamos
como um vôo de astronave
entre nossos amores
e inventamos não fazer
para passar o tempo,
como se o tempo precisasse passar...

Todas estas coisas inventamos
para não ficar
no caminho da morte
com os braços caídos
e as mãos vazias
como espectros ou espantalhos
vigiando atentos
um campo abandonado


* * *


Debate no Café Filosófico ´Das Quatro´ - “Hightlights”

Tema: A questão do Preconceito

"(...) No fundo, em maior ou menor grau, todos nós temos algum tipo de preconceito. Temos que nos policiar e rever alguns condicionamentos errôneos que recebemos e ficar alertas sempre repensando nossos conceitos. Parabéns pelo tópico!" [Cris Dumont (Corujinha)]

" (...) Vivemos tempos obscuros mesmo. E é o obscurantismo, alimentado pela imprensa, com direito a fartas doses de pirotecnia e alienação, o grande motor do preconceito. Aqui no interior de São Paulo, onde vivo atualmente, a absoluta maioria das pessoas nunca pôs os pés na minha cidade - o Rio de Janeiro - mas morre de medo só de ouvir pronunciar o nome. Conhecem o Rio pelo Jornal Nacional e pela Veja. São Paulo, a terra do PCC e matriz dos ataques que paralisaram o Estado inteiro no ano passado, não é vista da mesma forma. Por que será? Está na hora de deixarmos de lado o aspecto comportamental e individualizado do preconceito e iniciarmos uma reflexão global, que aponte para a responsabilidade dos meios de comunicação, do poder público, enfim, dos setores que dirigem e formam opinião. Que tal começar a discutir preconceito por esse viés?" [Paulo Magalhães]

"Paulo, sua abordagem é interessantíssima, certamente que podemos discuti-la, a idéia é falar sobre o preconceito em todas suas amplitudes. A ignorância é mola propulsora para diversos "males", a princípio pode parecer uma contradição, mas os alicerces de toda forma de manipulação, direta ou indireta, estão ligados ao obscurantismo. O que gostaria de questionar é até onde um pensamento pode ser preconceituoso. Há alguns anos cancelei uma viagem ao Rio, foi na época que o JN divulgou o famoso arrastão na praia, bem como diversas reportagens sobre criminalidade. A mídia pode apresentar os fatos com sensacionalismo, mas não muda a essência da coisa, a meu ver, quero dizer, é chocante. Existe uma rixa entre SP e Rio, o que pode justificar em "parte" a euforia dos paulista, ou cariocas. Mas ambos Estados são considerados perigosos, poluídos, exageradamente povoados, etc. Não é só a violência que repele as pessoas. Portanto, minha conclusão é de que a mídia tem lá seu papel na formação de opinião, mas a educação é prioridade. " [Neto Frota]

"Neto, acho que há convergência nessas duas abordagens. A midia é responsável pela disseminação do preconceito na exata medida em que não exista massa crítica para identificar os abusos e mistificações da informação. Fica fácil, portanto, associar o papel da imprensa - e dos meios de comunicação em geral - à pouca capacidade que uma população despreparada tem de fugir das armadilhas que esse aparato cria. Mais lamentável, acredito, é o efeito multiplicador que cada aspecto tem sobre o outro. Quanto mais "desinformação" escolar, mais desinformação jornalística, uma vez que uma cobrança ética da postura da midia é, via de regra, provocada pela indignação geral. Que, com as exceções de praxe, raramente ocorre. Abraços." [Paulo Magalhães]

"Nós levamos uma carga cultural e social muito grande que faz com que nos segreguemos. Procuramos semelhanças e semelhantes sempre e temos uma certa tendência a excluir o diferente e lidar com ele. Isso torna-se um problema quando essa segregação não é socialmente aceita como é o caso em relação aos negros, indigenas, homossexuais e todas as minorias com histórico de discriminação. Um negro que segregando um branco não causa o mesmo impacto que um branco segregando um negro. É interessante notar que nós não temos o direito ao preconceito, a não gostar de um tipo de pessoa ou tendência. Bem, eu acho que temos. Não gosto de fanáticos religiosos, não gosto de racionalistas modernos fanáticos. Há uma esfera em que essa opinião pessoal deveria ser possível, mas não é. As pessoas são forçadas a apoiarem o que é politicamente correto, o que é socialmente aceito. Acho que são exemplos de dano quando chegamos a qualquer extremo. (...)" [Bruno K.]


* * *
 

MINICRÔNICAS & CONTOS

Tempo de pacificação

Luciana Pessanha Pires

Papéis, telefonemas, recados, rotinas cristalizadas, dias nascendo, morrendo, inquietações, murmúrios, crenças, dúvidas, constantemente nos desafiam. Somos submetidos a uma carga tal de exigências que precisamos aprender a conviver com elas pacificamente, dicionarizá-las, rompê-las, transformá-las em combustão, dínamo para poetizar a vida. Nesses momentos precisamos desacelerar, aquietar as batidas do coração, silenciar temores, deitar os fardos. Agir como nos sugeriu Leila Pinheiro: “Tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranqüilo.”
Recomenda-se o diálogo consigo mesmo, sem ruídos que alterem a estrutura do sinal; a entrega à harmonia, à afinação. Como os afinadores de violino, usando o diapasão, ouvidos sensíveis. Ser lapidária de si mesma.

Pretinho

Katia Góes

Pretinho era o nome de um fox terrier de nossa casa. Junto a ele, existiam a Brigite e o Pançudo, mas ele era especial.

Minha avó morava na mesma rua que a gente, mas no quarteirão acima.

Belo Horizonte tem um traçado peculiar das ruas.Na esquina, cruzavam-se duas ruas e uma avenida.E era após esta enorme e larga travessia que ficava a casa da minha avó Aurora.

Quando não era minha mãe que ia para lá, era a vó Aurora que descia até nossa casa.Ela e minha mãe conversavam, conversavam, e lá pelas nove horas, ela se despedia.E mamãe mandava Pretinho acompanhá-la. E lá ia ele, bem ao lado dela, como se estivesse com alguma coleira a obrigá-lo a tamanha proximidade.

E chegando do lado de lá do cruzamento, ele ainda esperava minha avó subir as escadas de sua casa, entrar, abrir a portinhola, hoje em dia substituida pelo olho mágico, e dizer: - pode ir, Pretinho.

Então ele descia numa carreira só.Não dava nem prá ver as patas tocando o chão.
Um dia, Pretinho não voltou.Minha mãe ia à porta, e nada.De nossa porta não dava para ver a entrada da porta da casa da vó Aurora.E minha mãe inquieta, ligou para ela: -Pretinho não voltou. Não sei o que aconteceu.

Daí minha avó exclamou: - Nossa Senhora, eu sei. Cheguei apertada para ir ao banheiro e não abri a portinhola dizendo para ele ir.Vai ver está lá ainda.

E foi olhar, e não é que o danado estava lá mesmo? Paradinho, esperando a ordem de ir embora.E quando minha avó disse que ele podia ir, saiu na maior carreira, tão veloz, que passou pela minha mãe no portão e nem parou.



Mestres e Bufões

Antonio Carlos Rocha

Sei não... Este calor no inverno prenuncia frio no verão. O ser humano parece não se incomodar com a sua burrice., mas a natureza dá sinais evidentes de que se rebela contra a espécie dotada de inteligência (sic) para povoar a Terra durante eras e mantê-la viva e saudável para ser habitada pela Comunidade Universal. Utopia, Cidade do Sol, Nova Jerusalém, sonho de monges e profetas, revelam-se como ilusões de mentes que acreditavam na Purificação, mesmo que imposta a ferro e fogo por um Todo-Poderoso.
A realidade é outra: o selvagem continua dominando o intelecto na caça indômita de bens para satisfazer seus desejos.

O ancestral fisicamente mais forte substituiu-se pelo contemporâneo economicamente privilegiado que usa a manipulação do capital, dos meios de comunicação, da tecnologia, ou a força das armas para impor a sua vontade.Temperança, fortaleza, probidade, justiça, solidariedade são atributos de uma Ética pregada por filósofos e religiosos que a massa considera como bufões simpáticos e patéticos, pois os atos individuais e de grupos de interesses afins norteiam-se pelo egoísmo, pela sede implacável do levar vantagem sem atinar para as conseqüências: concentração da riqueza nas mãos vorazes dos caçadores mais audaciosos e amorais e crescimento das populações miseráveis, cujo instinto de sobrevivência fomenta o locupletar-se a qualquer custo, seja pelo engodo ou pela violência.

O tomar a qualquer custo, inclusive o da degradação acelerada dos recursos naturais, é exemplo que vem de cima, da oligarquia econômica e política que domina as mais diversas nações sob o signo da globalização. Contudo, a Terra dá gritos de advertência: maremotos, aquecimento, tufões, ar irrespirável, doenças inéditas...Os humanos, espécie adaptável e resistente, buscam novos caminhos e demoram mais para encontrar meios para conter seus impulsos selvagens.

Será que a Natureza terá paciência de esperar que a platéia da tragicomédia humana veja no palco Mestres, sem fantasia de Bufão?

 

Conto do Riacho

Olívia Paz

Na verdade, chamavam-no de córrego.
Córrego de Santa Rita!
Nome que parecia trazer da santa a pureza de vida da mesma.
Mas não o conhecí assim.
Nada parecia com "puro".

Desde que o ví a primeira vez, lembro de suas águas barrentas e rasas, que colaboravam para levar o lixo jogado até o Rio mais próximo.
Nas suas margens não tinham matas. Tinha, porém, muito mato que crescia irregular e indiferente a quem o pudesse apreciar.

No verão era verde e alto. No inverno amarelo e desgrenhado.

Riacho que nasceu predestinado a dar vida ao lugarejo que crescia à sua volta. E deu!
Recebeu como prêmio um nome: Córrego de Santa Rita!
Recebeu o nome do lugar que dava vida!

Por um motivo qualquer, que não tomei conhecimento, resolveram mudar o nome do lugarejo para "Igarapava". Talvez estivesse crescendo e precisasse de um nome de mais imponência e que desse mostras do que, um dia, ele significaria.

Com certeza, o riacho teve seus dias de alegria, pois que o nome do lugar significava porto das canoas e ele estava pacificamente tranqüilo para receber as ditas embarcações em seu acanhado leito.

Não sei e não me contaram se isso aconteceu um dia.

Não tenho comnhecimento se, lá por aquelas bandas, um dia, o pobre riacho recebeu em suas margens pescadores e flores.
Não sei se, por lá, fizeram pic-nic ou mesmo se as lavadeiras o usaram para higienizar suas roupas.

Não sei se as árvores nativas abrigaram, em suas sombras, trabalhadores cansados e crianças preguiçosas.

A única coisa que sei foi que aquele pobre riacho recebeu de seus moradores um bocado de lixo, sangue de um matadouro próximo, indiferença das pessoas.

Até que, em um dado momento, o pobre riacho transbordava sua feiúra e resoveram escondê-lo. Condenaram-no ao seu túmulo de asfalto.
Esconderam-no da vergonha de seu "destino".

Mas teimoso como é, de vez em quando, ouço dizer que ele se revolta e reaparece pelos buracos que são ductos de água da chuva, que ele pacificamente deve receber.


* * *

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