"POETICIDADES E OUTRAS FALAS"
RUBENS DA CUNHA


Reside em Joinville, SC. Autor de "Campo Avesso" e "Visitações do Humano". Acadêmico de Letras. Escreve semanalmente no Jornal A Notícia e coordena o Grupo de Poetas Zaragata. Na Web tem o e-book: "A busca entre o vazio", disponível para download,
na URL: <http://www.arcosonline.com/index.php?option=content&task=view&id=146&Itemid=>.
Blog "Casa de Paragens": <www.casadeparagens.blogspot.com>.

Coluna de 26/7/2008
(próxima coluna: 9/8)

Crepúsculo dos deuses e do cinema

Diante da escassez completa de bons filmes no circuito de cinema de Joinville, resolvi, com a ajuda da internet, assistir a alguns clássicos. Assim, finalmente, deixarei de conhecer alguns filmes só por citação. Além de entender por que um filme feito há décadas se mantém vivo, atual e muito mais original do que a maioria dos filmes feita agora.

Penso que nenhuma outra arte consegue ser tão tradutora do nosso tempo medíocre quanto o cinema, sobretudo o cinema americano. Falo isso baseado na simples comparação do que eles já fizeram e do que fazem agora. Trata-se do mesmo sistema: Hollywood. Mas a coragem que tinham perdeu-se em algum lugar. A coragem de que falo não era somente dos realizadores, mas de todo o público, capaz de assimilar peças como "Crepúsculo dos Deuses", de Billy Wilder. Hoje, os realizadores e o público só sabem fazer mais do mesmo. Qualquer obra mais original feita no cinema está relegada aos guetos dos circuitos especiais nas grandes metrópoles. Enfim, resolvi deixar a reclamação de lado e fazer algo mais interessante. Assistir a filmes que até então nunca tinha visto. Pode não ter tela grande, não ter escurinho do cinema, mas tem ainda a força e a originalidade das obras-primas. E não tem super-herói explodindo e salvando tudo. O filmes ainda eram sobre pessoas reais. Na lista dos clássicos estava "Crepúsculo dos Deuses". Um dos melhores filmes de Billy Wilder. O filme traz um olhar impiedoso sobre o mundo hollywoodiano, sobre esquecimento e loucura. A história gira em torno de um roteirista endividado (William Holden) e uma atriz (Gloria Swanson) que fora grande estrela do cinema mudo, mas caiu no ostracismo. A atriz pretende voltar ao cinema e conta com a ajuda do roteirista.

A partir disso, o que se vê é um filme quase claustrofóbico, intenso, perturbador e com frases magníficas, duas delas proferidas pela personagem Norma Desmond: "Eu sou grande, os filmes é que ficaram pequenos". Obviamente, Billy Wilder estava comparando o cinema mudo com o cinema feito nos anos 40. Mas a frase, a princípio injusta, pois até os anos 60 Hollywood ainda tinha a coragem necessária para fazer filmes, tornou-se desesperadamente atual, verdadeira, cortante.

Outro momento máximo de "Crepúsculo dos Deuses" é quando Norma Desmond pronuncia: "Uma estrela jamais é abandonada, é por isso que elas são estrelas". Pura ilusão. No mundo do cinema, a idade pesa feito chumbo. São poucos os astros e estrelas que envelhecem com dignidade. A maioria plastifica-se numa juventude forçada. "Crepúsculo..." criticava isso. Mas o sistema hollywoodiano não ouviu a crítica. Cada vez mais a idéia da juventude impera feito um câncer.

Assim, mesmo sendo minoria, remando contra a maré, eu vou direcionar meu olhar aos clássicos. Eles têm muito mais a dizer do que 99% da produção contemporânea, além de respeitarem minha inteligência e minha vontade de assistir a algo minimamente elaborado para alguém com idade superior a 13 anos.


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