Solange Firmino

Professora do Ensino Fundamental e de Língua Portuguesa e Literatura do Ensino Médio. Escritora, pesquisadora. Estudou Cultura Greco-romana na UERJ com Junito Brandão, um dos maiores especialistas do país em Mitologia.

Mito em contexto - Coluna 36
(Próxima: 20/11)


Orfeu e Ulisses derrotam as Sereias

Nas tradições míticas não faltam animais fabulosos como a Esfinge e as Sereias. Embora idealizadas há poucos séculos com corpo de mulher e cauda de peixe, as Sereias de origem grega tinham corpo de ave e busto de mulher. Eram entidades marinhas que cantavam de modo maravilhoso para encantar os marinheiros, que perdiam a direção de seus navios contra os rochedos e logo após eram devorados.

As belas Sereias eram filhas do deus-rio Aquêloo com Melpômene e participavam inicialmente do cortejo de Perséfone. Quando Hades raptou Perséfone, as Sereias (que variam em de duas, três ou quatro) pediram aos deuses que lhe dessem asas para que a procurassem por todo lugar. Deméter, a mãe de Perséfone, irritada por elas não terem impedido o rapto, teria transformado as Sereias em monstros.

Dois heróis gregos conseguiram resistir aos seus encantos: Orfeu e Ulisses. O lendário músico filho da musa Calíope aprendeu sua arte com o deus da música Apolo. Era tão divina sua música que acalmava a fúria de homens e animais. Orfeu encantou o mundo ctônio para falar com Hades. Orfeu também participou da expedição dos Argonautas em busca do Velo de Ouro. Quando os navegantes passaram pelo Mar das Sereias, Orfeu anulou a hipnose delas com sua música e salvou a todos do naufrágio.

O poeta Homero narrou na Odisséia as aventuras de Ulisses, ou Odisseu, após a Guerra de Tróia. O herói tentou retornar a Ítaca durante dez anos, pois teve sua rota desviada várias vezes por causa de uma desavença com Poseidon. Tudo começou quando Ulisses chegou na terra dos Ciclopes, gigantes de um olho só que ocupavam uma região fértil com plantações e gado. Ulisses aportou nesse lugar e foi diretamente para a caverna do Ciclope Polifemo, filho de Poseidon.

Polifemo estava fora e, quando voltou, quis pouca conversa com os estrangeiros, tratando logo de devorar alguns. Quando o monstro dormiu, Ulisses enterrou uma estaca no olho dele. Esse fato marcaria a viagem de Ulisses, pois, após provocar a ira de Poseidon, teria muitas desventuras provocadas pelo deus do mar. Uma delas foi encontrar com a feiticeira Circe, que metamorfoseava os homens em animas. Isso ela fez com a tripulação de Ulisses, que escapou graças ao conselho de Hermes sobre como evitá-la e ainda viveu durante algum tempo com ela.

Tudo deu certo na passagem pelas Sereias porque Ulisses recebeu instruções de Circe sobre como resistir às antropófagas cantoras. Para evitar ter sua embarcação despedaçada e seus ocupantes devorados, Ulisses mandou a tripulação tapar o ouvido com cera. O herói ficou atado ao mastro do navio, pois desejava ouvir a voz das Sereias, mas resistir ao seu canto. E ele ouviu o convite:

Detém a nau para escutares nossa voz. Jamais alguém passou por aqui, em escura nave, sem que primeiro ouvisse a voz melíflua que sai de nossas bocas ”.


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