"LETRAS CLÁSSICAS", POR HENRIQUE CAIRUS

Professor Dr., Coordenador do Departamento de Letras Clássicas da UFRJ (Pós-Graduação), ensaísta, poeta, co-editor de CALÍOPE: Presença Clássica, revista do Programa de Pós-Graduação em Letras Clássicas e do Dep. de Letras Clássicas da UFRJ. Na Internet, veicula a lista: PGclassicas - Pós-Graduação em Letras Clássicas - UFRJ e tem site pessoal: http://www.geocities.com/henriquecairus/

Coluna de nº 22 - 1ª quinzena de abril de 2007

300 americanos

É preciso acreditar que o óbvio vale a pena, para escrever para uma leitora exigente que o filme 300 é mais uma produção dos americanos sobre si mesmos.
Fui vê-lo como quem vai ao X-Men ou coisa assim: história em quadrinho nas telas. Eu gosto, confesso.

O filme é muito bem feito, e propõe-se a ser fiel aos quadrinhos, que, por sua vez, modernizam a história de Heródoto, acrescentando alguns poucos anacronismos e toques de terra de "elfos".

Espartanos? Sim. Mas o filme era sobre o envio de tropas para acabar com "o misticismo e a tirania" (dos persas?). Era sobre um congresso -- perdão --, um conselho, que ouvindo um outro superior, uma espécie de senado regido por "uma adolescente bêbada" (a juventude defensora das drogas e da paz?), resolve aconselhar a "não "enviar mais tropas" contra os persas com cara de beduínos. Há uma ligeira indicação de corrupção desse "senado", que cederia ao ouro, na terra do ouro proibido.

Todo o vocabulário soa tão contemporâneo, que saí do cinema com a sensação de que nossos vizinhos de cima gostam mesmo é de falar de si.
Apesar disso, as famosas frases da Batalha das Termópilas estão todas lá: "lutaremos à sombra"; "molôn labé"; "cearemos no Hades", etc.

Mas também está um belo discurso da mulher de Leônidas, que fala não como rainha, mas como mãe (!!) e mulher, e pede que se envie .... tropas, para onde os 300 sucumbem, o Iraque de Esparta. De uma Esparta que luta pela liberdade, e não só pela sua liberdade, mas pela liberdade de toda a Grécia.

No filme "Alexandre", pelo menos havia um momento de contra discurso, a hora do velho do Restelo, do contra-discurso, quando o próprio Alexandre pede respeito pela civilização de um Dario com cara Bin Laden, mas, nos 300, não tem nenhuma boa alma para lembrar que há gente do outro lado.

Lembrei-me do Esquadrão Leônidas, os bravos Kamikazes nazistas. No filme os republicanos ganham na política e na guerra, e só resta esperar que isso não aconteça para além da ficção.


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