Solange Firmino

Professora do Ensino Fundamental e de Língua Portuguesa e Literatura do Ensino Médio. Escritora, pesquisadora. Estudou Cultura Greco-romana na UERJ com Junito Brandão, um dos maiores especialistas do país em Mitologia.

Mito em contexto - Coluna 43
(Próxima: 05/04)

Olhar e cegueira

O olhar da Medusa era petrificante. Tirésias viu a deusa Atena se banhando em uma fonte e ficou cego. Tornou-se adivinho e previu que Narciso viveria bastante, desde que não se visse. Psiqué também não devia olhar o marido Eros em sua forma divina, mas ela desobedeceu. Orfeu desobedeceu aos deuses ctônios e perdeu a amada Eurídice ao olhar para trás.

Diz uma história que Tirésias perdeu a visão depois que viu a deusa Atena nua. Após ouvir queixas da mãe de Tirésias, a deusa concedeu a ele o dom da adivinhação. A mais famosa história da sua cegueira conta que, quando estava no monte Citerão, viu duas cobras copulando, antes de voltarem contra ele. Tirésias matou a fêmea e se transformou em mulher. Tempos depois, de volta ao monte, viu outro casal de cobras copulando. Matou a cobra macho e se transformou em homem.

Por ocasião de uma discussão entre Zeus e Hera sobre quem teria mais prazer na relação sexual, Tirésias foi chamado para decidir, já que conhecia bem os dois sexos. Hera achava que o homem tinha mais prazer e Zeus achava que era a mulher. Tirésias disse que se o prazer fosse dividido em dez partes, o homem ficaria com apenas uma, enquanto a mulher teria nove. Furiosa por ter perdido, Hera cegou Tirésias. Mas o vitorioso Zeus o recompensou com o dom da profecia.

Eurídice, esposa de Orfeu, passeava pelos campos quando foi perseguida por um pastor. Ao fugir, não viu uma cobra venenosa, que a mordeu no calcanhar. O desconsolado Orfeu desceu ao Hades e encantou a todos com sua música. Conseguiu permissão para levar Eurídice embora, com a condição de que não olhasse para trás. Com medo de que a amada não estivesse lá, virou-se para olhar. Eurídice estava atrás de Orfeu, mas ela logo desapareceu. Dessa vez, para sempre.

Psiqué também foi desobediente.    Ela era belíssima, mas não tinha marido. Os oráculos instruíram seus pais a vestirem-na com roupas de casamento e deixá-la no alto de um rochedo, onde um monstro a buscaria. Um vento forte soprou e a carregou até um vale. Ela adormeceu e, quando acordou, estava num castelo maravilhoso. À noite, deitada, percebeu a presença de alguém. Era Eros, deus do amor. Ele a advertiu de que seria o melhor marido, mas ela jamais poderia vê-lo. Psiqué estava muito feliz e não se preocupou em olhar para Eros.

Os oráculos disseram que ela não poderia voltar para sua terra, mesmo assim, ela foi visitar os pais. Suas irmãs invejosas questionaram sobre o marido e a convenceram a ver sua face. Em casa, Psiqué esperou que Eros adormecesse e acendeu uma vela para vê-lo. Ficou encantada com sua beleza e ainda o admirava quando a vela pingou no peito e o acordou.   Eros a abandonou e ela vagou pelo mundo, sofreu muito e realizou algumas provas. Depois os dois se uniram novamente e Psique conquistou o direito de vê-lo sempre.

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