Solange Firmino

Professora do Ensino Fundamental e de Língua Portuguesa e Literatura do Ensino Médio. Escritora, pesquisadora. Estudou Cultura Greco-romana na UERJ com Junito Brandão, um dos maiores especialistas do país em Mitologia.

Mito em contexto - Coluna 54
(Próxima: 20/9)

O deus da guerra e a fundação de Roma

Considerado o deus da guerra, Ares era filho de Hera e Zeus, mas não era muito popular entre  deuses e humanos, pois personificava a natureza brutal da guerra e era agressivo e sanguinário. Suas características contrastavam com as dos outros deuses, há poucos santuários e relatos sobre ele. Os atenienses consagraram-lhe o rochedo próximo à Acrópole chamado Areópago, porque nesse monte foi instalado um tribunal  para julgá-lo por ter matado um filho de Poseidon. O mesmo lugar depois serviu de cenário a vários tribunais humanos

Ares não se importava com a causa de uma guerra, mas pelo combate em si, diferente da irmã Atena. Embora tivesse nascido armada e pronta para a batalha, a guerra patrocinada por Atena era motivada por um ideal honroso, feita com inteligência e utilizada como último recurso. A deusa era estrategista e lutava do lado de quem estivesse com a razão. Ares e Atena não se gostavam e viviam em confronto. Ela sempre ganhava. Pela sua crueldade, muitos contaram que Ares provinha dos trácios, que os gregos consideravam desprezíveis e bárbaros. Ares estava sempre acompanhado  pelo Medo, Terror e Discórdia, personificados por seus filhos Fobos, Deimos e Éris.

Entre os olímpicos, a única que o amou foi a deusa do amor, Afrodite, casada com o artífice Hefestos.  Quando o marido saía, Afrodite e o amante se encontravam. Um rapaz tomava conta e os avisava antes que Hélio, o deus-Sol que tudo via, se aproximasse. Uma vez o rapaz dormiu e não viu Hélio surpreender os amantes. Para se vingar, Hefestos preparou uma rede indestrutível com a qual prendeu Ares e Afrodite. Hefestos chamou todos os deuses para  testemunharem o adultério. Quando ficaram livres,  Ares retornou à Trácia e Afrodite foi para a Ásia Menor.

Nenhuma cidade fez de Ares seu protetor, mas os romanos, que construíram um império do Ocidente ao Oriente, escolheram Marte como seu poderoso deus da guerra, pois este personificava o ideal de soldado que buscavam. Embora Ares e Marte fossem diferentes, o sincretismo foi ideal por serem guerreiros, o que era bastante valorizado em uma cultura de inspiração militar como a romana. Em Roma, Marte só perdeu em importância para Júpiter, equivalente ao Zeus grego.

Na antiga Roma, Belona era a deusa da guerra e Marte era inicialmente um deus agrícola ligado à fertilidade da terra. Os camponeses o invocavam para evitar os efeitos maléficos das tempestades. Com Marte como o novo deus da guerra, os romanos se sentiram mais protegidos dos inimigos. Ao contrário do violento deus grego, o deus romano era calmo  e sempre defendia  as causas romanas.

Durante o período de guerra com Cartago, Roma estava ameaçada pelo poder militar dos inimigos. Foi o período das três guerras púnicas. Na segunda guerra púnica,  Roma conquistou a Grécia. Os romanos justificaram seu poder como sendo algo traçado pelos deuses. Quando o poeta Virgílio escreveu o poema épico Eneida, o troiano que chegou à região do Lácio aparecia como filho de Afrodite com o mortal Anquises.

Depois de muitas aventuras após a Guerra de Tróia, Enéias chegou à Itália, venceu o rei dos rútulos e casou com Lavínia. Os dois tiveram um filho chamado Ascânio e, algumas gerações depois, um descendente de Ascânio teve os filhos Numitor e Amúlio. O rei de Alba Longa deveria ser Numitor, mas o irmão tomou o trono e o manteve preso, obrigando a sobrinha Rea Silvia a se tornar uma vestal. Marte se apaixonou por ela e os dois tiveram os gêmeos Rômulo e Remo. Para  protegê-los, foram deixados no rio Tibre, onde os deuses os conduziram a um lugar seguro. Uma loba que perdeu os filhotes recolheu as crianças e as amamentou. Depois as crianças foram adotadas por pastores.

Quando cresceram, depois de muitas brigas e aventuras, Remo foi preso e  levado para Alba Longa, onde Numitor percebeu a semelhança do rapaz com sua filha Rea Silvia. O pastor que os adotou, Fáustolo, contou a Rômulo as circunstâncias estranhas do seu nascimento. Rômulo uniu-se aos salteadores e invadiu o palácio para libertar o irmão e restituir o trono ao seu avô. Os irmãos foram para as colinas, onde esperaram um sinal dos deuses indicando qual seria o novo rei. Rômulo foi o escolhido. Remo brigou com o irmão e foi morto. Rômulo fundou a cidade de Roma.

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