Christina M. Herrmann  

Christina M. Herrmann é poeta, webdesigner. Carioca, vive atualmente na Alemanha. Comunidades no orkut: "Café Filosófico das Quatro", "Sociedade dos Pássaros-Poetas" ambas de entrevista e "Orkultural" em parceria com Blocos Online.
Endereço do Blog, reunindo todos os seus sites e comunidades: http://chrisherrmann.blogspot.com

Coluna 46 - 2 ª quinzena de julho
próxima coluna: 8/8

Os destaques desta quinzena são:

POESIA (CF4): Paulo Ednilson e Jörg Spöler

CRÕNICAS: “Deus Apolo” de Marisa Rosa Cabral e “Pergaminho, papel e bytes” de Solange Firmino.

Boas leituras e até a próxima coluna!

* * *

POESIA


Rota de colisão

Paulo Ednilson

No chão um atropelo,
no céu um apelo.

A morte mecânica
em asas nada angelicais
satânicas...

Quem deveria corrigir
a rota de colisão,
a mão de Deus ou do Diabo?

Confusão na torre de controle...

Quem assumirá a lágrima incontida
a dor diante da miséria da vida,
diante do imponderável que há em todo fim.

Desatino, sina...
A cena repetida
em eterno djavu.

Havia vida naquele avião,

não falo de vidas passageiros,
também não falo de vidas passageiras...

Falo da vida humana que se faz avião
voando sobre nossas cabeças
em total descontrole.

Alô Congonhas, alô Congonhas alô...
Alguém ai na torre de controle?
alô Congonhas, responde Congonhas...

 

Haiku (Dunkelheit)

/Haicai (Escuridão)

Jörg Spöler

Kein Licht. Trübsal weilt.

Das Land verhüllt. Schwarzes Tuch.

Hoffnung. Sternschnuppe.

/

Vai luz. Vem tristeza.

Terra oculta, manto negro.

Esperança. Estrela.

[Versão em português por Christina Magalhães Herrmann]



* * *

CRÕNICAS & CONTOS

Deus Apolo

Marisa Rosa Cabral

Que boa surpresa ver primo Paulo amanhecer em casa naquele sábado ensolarado. Fiquei deveras contente, pois a muito que andava carente de amigos e boas prosas. Estranhei que veio só, sem Débora e os meninos que tanto alegram a casa com seus falatórios.

Percebi que se exibia o oposto do que sempre fora. Ao invés de falador, reservava-se calado e muito apreensivo de alma, que a princípio me assustou. A mesa do café, somente eu usufruí, e olha que tinha o famoso bolo de milho que aprendi de tia Dirce.
Sampaio como sempre perambulando pelo mundo. Este não abre mão do passeio diário as praças do bairro, inda mais agora que empenhou todo salário num “canário da serra” que mais parece ser da “serra calada”, pois o bichinho nunca ousou um pio! Pra não dar o braço a torcer, diz que não canta por que fica intimidado com os “tic-tac” diários de minha máquina de escrever. Se for esse o motivo, vai morrer mudo. Se em dois meses não se ambientou a rotina, não será preciso um ano como disse o amigo que o vendeu, mas no fundo rezo pra que desembuche logo. Imagine a frustração se o bicho não for dado ao canto. Seu gosto foi sempre ter um desses cantando as manhãs em nossa varanda, e depois, anda tão calmo que se soubesse já teria lhe comprado dúzias...

Mas primo Paulo parecia não se empolgar com as novidades que lhe contava, nem manifestou satisfação quando contei que meu João Pedro havia conseguido a promoção no Banco e ainda ironizei. -Um gerente na família era tudo que precisávamos! Ele limitou-se apenas, a um apático, “É”. Foi então, que percebi que carecia de ajuda, e não de conversas bobas. de boa alma, convidei-o para conhecer meu novo escritório construído a pouco, nos fundos da casa. Graças ao canário! Pensei comigo... Meu reservadinho era simples que nem eu. Sem ar condicionado, carpete cinza, frigobar e cortinas de cetim, apenas três estantes de madeira que eu mesma lixei e envernizei. 

Pra da um toque mais fino, coloquei a antiga escrivaninha de papai, que tanto Sampaio me cobiçou à alma pra vender pro antiquário do centro. Instigou-me dizendo que renderia boa quantia, e mesmo as carencias assistidas, resisti. Inda mais que na época, lembro bem, andava às volta, envolvido em montar um time de futebol com os vadios do bairro. Pensei que no mínimo o dinheiro da venda seria usado para quitar a conta dos uniformes que mandou fazer na Lapa. Tem nome sujo na praça até hoje. Parei de repente pra recolher do chão as pétalas secas das rosa brancas ao chão, pois bentinha diz que é bom pra fazer chá pra limpar barriga de mulher, e perguntei pro primo o que se passva. -Débora está tendo um caso, rosinha. Falou tão de repente, que custei minutos pra assimilar.

Vivi o silencio preciso, por que não me chegavam palavras certas pra começar um diálogo de nível tão melindroso. Abri a porta do escritório e oferecendo um lugar a ele me prostrei abalada pensando naquela santa mulher, atracada aos beijos com outro homem as praças. Era esforço demais. Impossível assimilar a questão, mas mesmo assim, superei o impacto. Com certeza estava equivocado. Aquela santa que conheço bem, não possuiu vestígios da alma volúvel que toda mulher que trai exibe. Sempre se portou com dignidade invejável. Guardo a melhor impressão desta que tenta difamar. -As aparências enganam! Respondeu desolado, mas retruquei imediatamente de que, se tratando de Débora era, inconcebível julgar somente as aparências. Debruçado a janela e, disfarçando o olhar lacrimoso prosseguiu narrando o trágico drama pessoal.

Estava muito envergonhado, que, aliás não entendo bem como, e nem por que, quando os papeis se invertem, exibem logo a santa oculta hipocrisia no olhar e palavras que surpreende até santo no céu. E ali estava meu digníssimo primo, que na vida cabia muito enredo pra novela, encenando eximiamente o papel de vítima, dizendo que a semanas, a esposa vinha se comportando mais animada que o normal. -Vaidosa, perfumada, deu até pra usar batom vermelho pra ir às feiras no bairro, coisa que nunca aconteceu. Achei normal e até disse, que era muito pouco argumento pra um veridicto tão grave. Ele atenuou minhas dúvidas declarando finalmente, de que se tratava de um amante virtual de nome: “Deus Apolo” que de tanto remexer no computador descobriu o “caso”. Quase despenquei da cadeira. Pasmei completamente. E à medida que declarava o seu drama pessoal, eu ficava ainda mais bestificada.

Contou que Débora se levanta de madrugada com a desculpa de que vai baixar pesquisa pros meninos, e que o horário as tantas é gratuito, somente pra se sentar e “teclar” com esse tal “Deus Apolo”. Antes de jogar meu pato de porcelana ao chão, amaldiçoou a internet e tudo que dela vinha. -Vou pedir separação! Declarou tão decido que nem ousei argumentar o contrário. Pensei comigo mesma, enquanto recolhia os cacos do chão, que entre o amante virtual e a besta real de meu primo, Débora estava certa!
Ele partiu mais aliviado depois de ouvir alguns conselhos de Gilda que é macaca velha e de tudo sabe na vida.

Naquela mesma tarde fresca e iluminada, me acomodei a rede da varanda e fiquei a pensar na Débora e seu amante virtual, e em tudo que ouvi. Confesso de boa alma, que até achei o nome do amante bastante sugestivo. Sonhadora que sou, dei asas a imaginação e não demorou, pra vislumbrá-la toda feliz ao lado de um belo louro alto e galante, daqueles que a gente vê em filme americano, pernas grossas, bíceps avantajados, bem dotado... Mas o intruso olhar decadente e deprimido de meu primo, já um tanto calvo, barrigudo que desabafei sem remorsos, se atreveu. -Débora que é mulher de sorte! sussurrei baixinho mirando o por do sol tão lindo, e suspirei invejando-a a sorte. Sampaio que cuidava de agazalhar a gaiola do mudinho também me assitia, por isso veio sorrateiro investigar estranha nostalgia e sorriso. -Ta suspirando de quê, rosinha? Não deixei o por do sol por ele, mas respondi que recordava coisas boas.

Se sou exímia sonhadora, ele nasceu de alma gêmea com a desconfiança. E não se dando por convencido aproximou-se intrigado, disfarçando olhares e bocas, para enfim querer saber em quê? Sorri e o chamei pra deitar-se junto a mim prá ver a noite chegar. Abraçou-me apertado, roçou a barba mal feita no meu pescoço, coisa que gosto é esse roçar, esse chamego que me arrepia do pé a cabeça, e sussurrou baixinho. -Divide comigo tuas coisas boas, minha Rosinha. Besteira de mulher, respondi sorrindo e me ajeitando em seu peito peludo, disse convicta, de que estava pensando em vender a escrivaninha e investir o dinheiro num computador com internet. - Não acredito! Tu é tão apegada a ela. Falou surpreso e ainda desconfiado, ao que lhe respondi com um meigo olhar e sorriso... -To só com pena do canarinho, meu amor.

Sampaio se emocionou. Beijou-me a boca com gosto e desejo, que a noite passou embora que nem demos conta.

 

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Pergaminho, papel e bytes

Solange Firmino

Atualmente os livros vendem milhões de cópias. Há alguns séculos, quando não havia papel, seria bem difícil tantas pessoas terem acesso a esse tipo de leitura, afinal, nem sempre as informações foram impressas em papel ou armazenadas em e-book e cd-rom.

O homem já pintou nas cavernas, inventou escritas e também várias formas de desenhá-las. Os povos mais antigos usavam os materiais disponíveis onde viviam, incluindo vegetais, animais e minerais. Desde os tijolos de barro dos sumérios aos dígitos do computador, o livro tem muita história para contar, passando principalmente pela escrita em papiro, obtido no preparo de hastes de junco, e pergaminho, feito de pele de animal.

No século VI a.C. os egípcios exportavam papiro os povos do Mediterrâneo. Parte da História do Egito chegou até nós graças ao que consta nos rolos de papiro encontrados nos túmulos de nobres e de faraós.

O pergaminho inventado na Ásia Menor parece mais com nosso livro, pois podia ser utilizado dos dois lados e os escritos podiam ser raspados. O códice era um livro feito com folhas de pergaminho costuradas, como o formato do livro hoje.

A Igreja Católica, que já queimou muitos livros, mantinha nos mosteiros os centros de difusão onde se produziam manuscritos. Mas o papel só foi utilizado pela primeira vez na China, nos primeiros séculos depois de Cristo, e suplantou os materiais anteriores. A imprensa só foi inventada por Gutenberg no século XV, provocando o aumento de autores e leitores, além de tiragens maiores de livros.

Ao mesmo tempo em que os livros eletrônicos nos fascinam, nos deparamos com escritos antigos nas incríveis descobertas arqueológicas. As escrituras mais antigas (já descobertas) da Bíblia estavam escritas em pergaminhos. Os Pergaminhos do Mar Morto foram expostos há poucos anos, inclusive no Brasil. Eles foram encontrados em 1947 nas cavernas de Qumram, em Israel, e trouxeram novidades sobre Judaísmo, Cristianismo e Islamismo, as três principais religiões monoteístas.

O papel substituiu o pergaminho, os bytes substituem os manuscritos; as telas substituem o papel. Os meios audiovisuais são muitos. Na cultura dos bytes e bits, as bibliotecas estão quase se tornando museus. Nossa memória está on line .

Os livros de papel perderam a novidade, mas não a importância. Quem conhece informática sabe que os arquivos armazenados são funcionais, mas são falíveis... E se não fosse a sobrevivência de muitos manuscritos, certamente não teríamos acesso a tantos escritos antigos. Não custa nada guardar um pouquinho da nossa escrita aos povos que virão.

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