Coluna de Rogel Samuel 
Rogel Samuel é Doutor em Letras e Professor aposentado da Pós da UFRJ. poeta, romancista, cronista, webjornalista.
Site pessoal: http://www.geocities.com/rogelsamuel

Nº 89 - 1ª quinzena agosto
(próxima coluna: 25/8)


O DOMADOR DA MONTANHA


Obra inédita

Capítulo 2: O FILHO DE ODIYANA

            Naquele tempo, no reino de Odiyana, o Segundo Rei Indrabodhi, residia no seu palácio com sua rainha e uma centena de ministros.
            Na realidade tinha o rei cento e oito esposas, mas somente uma rainha.
            Porém o rei não tinha nenhum filho.

            Por causa disso, e como o rei não tinha nenh um filho, ele fez grandes oferecimentos para os deuses de sua religião com muitas recitações sagradas do livro sagrado jainista, no intuito de conseguir um filho.
             Por fim, a conselho de seus sacerdotes e de seu mestre espiritual, abriu a porta de seus três grandes tesouros e distribuiu generosas esmolas para todos os pobres e necessitados.

            Aquela notícia se espalhou por toda terra: “O rei Indrabodhi está distribuindo sua riqueza!”

            Multidões de mendigos, pobres e falsos pobres vieram de toda parte.
            Todos os dias as filas cresciam, intermináveis, e o rei lhes dava alimentação e moedas de ouro, de sorte que a multidão não parava nunca de crescer, e tanto cresceu a fila que a riqueza do rei Indrabodhi acabou.

            Um dia o tesoureiro do rei veio à sala do trono e lhe disse:
            — Os cofres do palácio estão vazios.

            Depois que toda a sua riqueza acabou, ele exclamou:
            — Eu não tenho mais a oferecer, e mesmo assim não se acabaram os mendigos e necessitados!

            E o rei Indrabodhi chorou copiosamente, porque era um homem bom e compassivo, e não tinha podido acabar com a pobreza da face da terra.

            Mas os mendigos só aumentavam e permaneciam na porta do seu palácio, à espera.

            Então, disseram os mendigos ao Rei Indrabodhi:

            — Ó glorioso Rei, se você não proporcionar esmolas para todos nós que viemos e que esperamos receber, todo mérito anteriormente recolhido por você não terá nenhum resultado ou valor, e terá sido completamente em vão. Porque assim é que devem ser os oferecimentos: se começar para todos, todos é que se beneficiem!

            E até hoje é assim que se fazem essas coisas: ou para todos, ou para apenas um.

            O Rei escutou aquelas palavras com tristeza e pesar no seu coração e resolveu adquirir uma riqueza imensa, abundante, inesgotável, que pudesse beneficiar a todos os pobres deste mundo.

            E para conseguir, apesar dos conselhos dos ministros, sacerdotes, de seus próprios conselheiros e da dúvida do seu mestre espiritual, ele decidiu viajar ao grande oceano a fim de trazer a “jóia-que-realiza-todos-os-desejos”, que era uma surpreendente jóia que existia no cimo da coroa da poderosa deidade marítima chamada Charumati, filha do Rei dos Nagas, e cujo reino existia no fundo do mar.

            O rei viajou com sua frota.

            Mas o Rei, surpreendentemente, o grande Rei Indrabodhi, obteve a jóia com facilidade e sem infortúnio, pois Charumati, filha do Rei dos Nagas, a ofereceu com prazer, conseguindo assim o rei usá-la para seu reino.

            O modo como conseguiu a mágica jóia eu nunca consegui saber.

            E como aquele que possuísse a jóia satisfazia a todos os desejos mundanos, ele, o grande Rei Indrabodhi, já no caminho de volta para casa, carregou seu imenso barco de tesouros, e toda a sua frota, com as sete variedades de jóias, até que o peso das gemas preciosas e moedas de ouro ameaçou afundar os barcos.

            E parece que, depois de realizado seu intento, o grande Rei Indrabodhi devolveu a jóia ao seu lugar de origem, o que nunca pude saber.

            E estando assim, em plena viagem de volta para casa, encontrou um membro da sua corte, o seu orientador espiritual, chamado Na Dzin, que vinha apressado à sua procura para lhe contar a notícia do aparecimento milagroso daquela criança nascida sobre um lótus no lago Danakosha.

            Aquele menino era ANL.

            O Rei disse maravilhosas preces aos deuses ao ouvir tal extraordinária novidade e logo ao chegar quis conhecer ANL.

            Quando em sua presença, perguntou o Rei ao menino:

            — Quem é seu pai, sua mãe? Qual a sua casta? A que país você pertence?

            ANL respondeu:

            “Meu pai é o auto-desperto Samantabhadra.
            Minha mãe é a esfera da realidade, Samantabhadri.
            Minha casta é a união da sabedoria essencial e o Dharmadhatu, o espaço que tudo permeia.
            E meu nome é o glorioso Padmasambhava, o nascido no lótus”.

            A ouvir isso, o rei Indrabodhi ficou ainda muito mais apaixonado e aceitou o menino como se seu verdadeiro filho fosse e o nomeou seu príncipe herdeiro.

            — Este menino, disse o rei, deve ser o Nirmanakaya de um Buda e a partir de agora passa a ser meu único príncipe.

            Então uma grande cerimônia foi realizada naquela época para a entronização de ANL, e houve grande distribuição de esmolas que se fez de tal modo abundante que pôde satisfazer a toda a fila sem exceção (embora se diga que ANL reservadamente e sem que ninguém soubesse teve de multiplicar as moedas de ouro até que pudessem satisfazer a todos).

            Mas naquela mesma cerimônia o rei Indrabodhi nomeou ANL seu orientador espiritual, ainda que ANL fosse ainda uma criança de cerca de oito anos de idade: E isso despertou a admiração e surpresa de alguns e a venenosa inveja por parte de seus ministros, porque o orientador tinha sempre muito poder junto ao Rei, e logo se iniciou uma conspiração para eliminar ANL, ou neutralizar o seu prestígio dentro da corte.

            O menino foi chamado "Padmasambhava", o que significa "nascido no lótus", tal como nós o chamamos aqui: ANL (aquele que nasceu no lótus).

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