Solange Firmino

Professora do Ensino Fundamental e de Língua Portuguesa e Literatura do Ensino Médio. Escritora, pesquisadora. Estudou Cultura Greco-romana na UERJ com Junito Brandão, um dos maiores especialistas do país em Mitologia.

Mito em contexto - Coluna 56
(Próxima: 20/10)


Prometeu e Pandora

Urano e Gaia tiveram vários filhos, entre eles, Jápeto, que foi pai de Prometeu. O titã morava no Olimpo com os deuses e vivia aprontando. A mais brincadeira mais séria foi criar o ser humano do sexo masculino e colocar nele a alma, uma centelha do fogo divino. Prometeu cedeu também o fogo material e, com ele, benefícios como forjar armas, ferramentas e cozinhar alimentos. Até então, o fogo era exclusivo das divindades e os homens puderam usá-lo oferecendo sacrifícios em troca. Na primeira oferenda, Prometeu  escondeu a carne de um animal sacrificado, deixando para o primo Zeus os ossos e a gordura. Ao descobrir o engano, o Senhor do Olimpo privou os homens do fogo.

Prometeu então roubou uma brasa da forja de Hefestos, o deus ferreiro, e entregou novamente o fogo aos homens. Zeus resolveu se vingar.  Para os homens enviou a primeira mulher, Pandora, fabricada por Hefestos. Ela era perfeita como as deusas, e todas as divindades lhe concederam dons especiais, como a beleza de Afrodite. Pandora seduziu Epimeteu, o  irmão menos esperto de Prometeu que, ao contrário do que aconselhou o irmão, casou com ela. 

Pandora trouxe uma caixinha de presente para o marido. Movida pela curiosidade, abriu-a, e dela saíram os males que têm perturbado os homens, como as doenças e a necessidade de trabalhar para sobreviver. Quando a fechou, deixou presa  a Esperança. O ato de Pandora  provocou a perda do paraíso, assim como o ato da Eva cristã ao comer o fruto proibido. Em ambos  os casos, a mulher se identifica com o mal, mas Pandora não estava proibida de abrir a caixa, tudo o que aconteceu foi um plano de Zeus para derrotar os homens. Todos os seus atributos, como a curiosidade, foram intencionalmente outorgados pelos deuses. Outra diferença entre as duas é que Eva comeu o fruto sabendo que era proibido e, enquanto Pandora pretendia trazer o mal aos humanos, Eva foi feita para ser companheira do homem.

Com Pandora iniciou-se a degradação da humanidade. Para explicá-la, o poeta Hesíodo introduziu o mito das Cinco Idades, em que as raças sucedem-se em decadência progressiva. Cada idade foi aparentada a um metal com hierarquia do superior ao inferior: ouro, prata, bronze e ferro. Entre as duas últimas foi intercalada a idade dos heróis, sem correspondente metálico. Do Paraíso inicial, a humanidade foi decaindo até a idade do ferro, reino da maldade e da injustiça.

Contra Prometeu, a vingança de Zeus também foi cruel.  Hefestos forjou uma corrente indestrutível com a qual o titã foi acorrentado no alto do Cáucaso, bem longe do Olimpo. Prometeu estava condenado ao castigo eterno: cada vez que uma águia terminava de devorar todo o seu fígado, a víscera renascia e ela recomeçava o trabalho. A tortura durou  alguns séculos, mas Prometeu lutou contra sua condição, mostrando às criaturas humanas que devem lutar pela liberdade e conhecimento.

Prometeu disse a Zeus que conhecia uma profecia que poderia acabar com seu reinado como Senhor do Olimpo. Zeus ordenou que Hércules o libertasse e Prometeu revelou que o deus não poderia ter um filho com Tétis, pois este o destronaria. Zeus parou de assediá-la e a nereida casou com um mortal, gerando um dos heróis mais famosos da Guerra de Tróia, Aquiles.

O filho de Prometeu, Deucalião, teve uma prova com Zeus quando este, insatisfeito com os abusos dos mortais, tentou destruir toda a raça humana com um dilúvio. Prometeu avisou sobre o perigo e fez com que Deucalião construísse uma arca para ele e a mulher Pirra. A inundação durou dias e depois Zeus concordou com o pedido de renovar a raça humana.

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