"DIVERSOS CAMINHOS EM BLOCOS", POR ZANOTO

Jornalista famoso do Correio do Sul (Varginha/MG), desde 1950 mantém a coluna lítero-poética "Diversos Caminhos" naquele jornal.
Manteve coluna em Blocos Online de janeiro de 1998 a dezembro de 1999, e agora retorna à Internet, novamente através de nosso site.
C. Postal, 107 - 37002-970 Varginha/MG

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Coluna nº 32, de 15/4
(próxima: 15/5)

1. A manhã de um dia dois de outubro me pega lendo "Melhores Poemas", de Paulo Leminski. O caminho desta manhã me leva até a praça da Estação. Toda vez que passo ali, me bate uma saudade imensa. O apito do trem, na memória, soa estridente e saudoso. O calor começa bem cedo também. Lembro que pareceia que seria a mais quente primavera de todos os tempos. No topo da Estação um saci-pererê me espreita. Faço sinais para que ele desça e venha conversar comigo. Ele apenas suga seu cachimbinho e some. Os sons da praça continuam se desdobrando na minha memória e coisas do passado tomam formas na minha imaginação.

2. Tati, Jacques, talvez no filme Playtime: há um cara em pé carregando uma enceradeira dentro do ônibus cheio. Num ponto de parada, Monsieur Hulot entra e segura-se em seu cabo, pensando tratar-se da tal haste do veículo. Nas curvas fechadas o cara se desequilibra e inclina a enceradeira e M. Hulot junto (Otávio Ramos). Durante muito tempo, Celso Falabella escreveu no Correio do Sul uma coluna de cinema sob o pseudônimo de Hulot. Celso dizia que Tati era extraordinário, era impressionante o desempenho de Jaces Tati nos próprios filmes. Um cineasta e ator de primeira.

3.  TEUS OLHOS

Teus olhos cor de janela
Dizem palavras
Que sentem, vêem,
Mentem
Teus olhos,
Lágrimas secas,
Incendeiam.

     Márcio de Abreu Campana

4. Lá fora, no remexer da noite, e dentro dos dois restaurantes ao lado do meu prédio, o barulho de talheres e o cheirinho de comida quente. No céu, contudo, só dá para ver algumas estrelas , daqui da minha janela, por mais clara e bonita que seja a noite, não dá pra ver mais que seis ou sete.

5. Em outubro de 2002, lembro-me como se fosse hoje, o sol estava forte e o calor insuportável, quando estive em Poços de Caldas durante o Congresso da ENAF. Chegou a 36 à sombra. Pelo amor de Deus! Estava de deixar a roupa da gente completamente encharcada. Poços estava regorgitando de gente. O movimento diurno e noturno até parecia o mesmo. Fazia muito tempo, mais de quinze anos que eu não ia à Cascata das Antas. Fui e achei sensacional, o lugar estava mais bonito e agradável.

6. De repente, me lembro que Juracy Ribeiro, de São José dos Campos (SP), numa carta que me mandou há muito tempo, disse que só me conhecia via Blocos/Leila e confessou que gosta muito do meu modesto trabalho: "sua sensibilidade me toca sempre". Tenho certeza de que já mandei alguns diversos caminhos para Juracy, que é poeta das boas. Fico implicando comigo mesmo porque não disse ainda isso a ela.

7. Quando entrei na casa,
    entrei alerta...
    Na infância, vivi numa casa igual
    Minhas pisadas, todas superficiais.
    Apreciei as janelas, as portas, o teto.
    Depois, olhei uma laranjeira no quintal.

P. H. Xavier me dizendo: "eu também já fui nessa casa". De lá avistei o quintal, o bosque depois do quintal, e não posso me esquecer de ter ouvido o mugir de bezerros mais além.

8.  "Minha amiga Rosinha Leão costuma dizer que nós brasileiros somos índios vestidos de ingleses, ou melhor, de americanos" (Murilo Mendes).

9.   sei que nem sempre súmula
                 sustenta-se
mas é o risco que se assume em resumir

                   Irineu Volpato

10. A crônica "O Penafiel", de Joaquim Ferreira, no O Globo - 2º Caderno, em 06;09;2004, página 8, mexeu tanto comigo que anotei. Sim, mexeu com minha alma saudosista, com minha memória e meu coração. Na década de 40, eu ainda menino, ia ao Penafiel, às vezes com meu pai, outras com meu tio Francisco. Antes de voltar para Portugal, meu avô também foi lá uma vez. Certa vez, o sr. Silva da Joalheria Esportiva, foi com a gente. A comida era de estalar a língua. A rua do restaurante era estreitinha. Estou dando tratos à bola para lembrar-me de um cantor português, radicado no Rio, que ia ao Penafiel constantemente. Wra cunhado do sr. Fernandes, padrinho de minha irmã Maria de Lourdes, já falecida.

11. A tal ponto que lhe pareceu ver toalhas molhadas. Deviam ter sido postas ao sol para secar. O rapaz, com os pés no lenço do vendedor de limão, que deixou cair, distraído, pensava em Capitu. Tal como disse José Saramago, parecia que estava no interior duma bolha de silêncio.

12. "Só é novo o que está esquecido" — Mille Bertin.
    

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