COLUNA DE VÂNIA MOREIRA DINIZ

Nº 67 - 6/7/2009
(próxima: 21/7/2009)

          

          Há poucos dias ouvi alguém falando na mídia que de nada adianta lutar por algo em que não se acredite. E achei interessante. Sumamente interessante.
           Hoje as pessoas em geral são tão descrentes de tudo que se torna difícil empreenderem alguma coisa com confiança. Houve períodos em que isso acontecia comigo e por isso posso falar com convicção. Até que pude entender que a fé talvez seja o primeiro requisito para o êxito e a felicidade.
          Nascemos, crescemos, iniciamos a caminhada, amamos e temos alegrias ou decepções, mas nada podemos realizar sem a verdadeira fé. Ela nos impulsiona de uma maneira tão forte e definitiva que quase acreditamos estar sendo o motivo pela qual conquistamos todas as coisas.
          Compreende-se perfeitamente a razão da desesperança numa época em que o egocentrismo, a violência e o descaso pelo semelhante fazem desse mundo um paraíso de inseguros e sofredores.
          Não se pensa em minorar o sofrimento de quem quer que seja e muitas vezes contribuímos para isso pela displicência de não perceber como pessoas tão próximas a nós sofrem por vezes inutilmente.
          Aprendi muito de fé em vários exemplos, porém um dos mais marcantes, sem dúvida foi de uma amiga que ficou doente com um câncer e os médicos disseram que ela tinha que cortar a perna. Era muito bonita, com traços suaves e nobres, uma tez maravilhosamente acetinada, os olhos rasgados, verdes e profundos e os cabelos claros e brilhantes. Durante todo o período de dúvidas sobre a sua doença nunca desacreditou que pudesse vir a sobreviver ilesa.
          Nos vários diálogos que mantive com ela sempre a vi com uma fé inquebrantável e admirava aquela menina que sendo tão jovem como eu mantinha em meio à tormenta um bom humor inacreditável. Sorrindo e deixando à mostra seus magníficos dentes bonitos e muito claros dizia sempre com convicção:
           – Eu não vou precisar cortar minha perna. Tenho fé nisso.
          Olhava-a encantada daquela força ilimitada e muitas vezes achei que por dentro devia estar aniquilada.
          Um dia perguntei-lhe isso e ela me respondeu com carinho:
           – Há momentos que estou arrasada. Choro. Deixo que as lágrimas me inundem. Mas não permito que o desalento seja maior que a minha esperança. Se consentisse nisso, Vânia, estaria perdida ou já teria morrido.
          Olhava-a questionando-me como alguém com tão pouca experiência podia ter tanta força e discernimento na dor e chegava a conclusão que tudo isso vinha de uma estrutura de espírito e fé na vida e num poder superior.
          Mildred, como se chamava depois de um período doloroso em que todos pensavam que estava desenganada, começou a ter uma melhora inexplicável. E para perplexidade e alegria de todos que a cercavam conseguiu realmente recuperar-se muito lentamente sem que fosse preciso cumprir a previsão dos médicos sobre o corte de sua perna.
          Nunca esquecerei a expressão de seu rosto bonito quando entendeu que realmente sua fé havia contribuído para isso. Todos acreditaram nisso. Não sei como nem porque, mas a verdade é que a minha amiga voltou a ser a moça saudável que alegrava a todos que a conheciam. E foi um exemplo de positividade nunca esquecido por mim.
          Pouco depois disso conversando com ela numa tarde ensolarada em que nos reunimos para trocar nossas idéias e que eu estava com vontade de ouvi-la falar da experiência que passara ela me disse:
           – Nunca duvidarei de nada, minha amiga. Nada. Alguma coisa me dizia que tudo terminaria bem. Era uma certeza muito forte que não sei donde vinha, mas que eu confiava.
          Até hoje precisando acreditar em alguma coisa me reporto com enorme ternura àquela fase de minha vida, que foi um exemplo de convicção e certeza e fruto de uma fé inabalável.

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