"DIVERSOS CAMINHOS EM BLOCOS", POR ZANOTO

Jornalista famoso do Correio do Sul (Varginha/MG), desde 1950 mantém a coluna lítero-poética "Diversos Caminhos" naquele jornal.
Manteve coluna em Blocos Online de janeiro de 1998 a dezembro de 1999, e agora retorna à Internet, novamente através de nosso site.
C. Postal, 107 - 37002-970 Varginha/MG

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Coluna nº 35, de 15/7
(próxima: 15/8)

1. "Em literatura, não há pior defeito que o ser monótono sem seriedade, sem profundeza. A monotonia de uma farsa, por exemplo. Monotonia agradável só a da chuva sobre as fontes e os apuis, as raízes mortas e a natureza apodrecida, o túmulo dos pobres e o matadouro das bestas" — Ascendino Leite

2. Ely Rindidunga Florestino Fontoura me disse que certa vez pelejou para encontrar Almeida Fisher mas não foi possível. ** Em agosto de 1974, disse Ariana: "É bom quando nossos pensamentos fazem eco e nossa tentativa de mensagem encontra, em outras palavras, idêntica significação".

3. CPI DAS CPIS

 ... enquanto
                     isso...
faz-se uma pizza
                     de chouriço...

    Silvério da Costa

4. "A solidão de minhas personagens significa plenitude" (Rachel Jardim). ** Quando esvaziava o fruto quente de meu peito / Eu não senti a espreita / Turva e fez da sereia negra" (Alfonsina Srorni). ** Ana Olívia de Freitas Bruno (Rio/RJ) dizendo que é a "mulher que estabelece o modus vivendi, no ambiente conjugal". ** O homem inventou, segundo Bunge, um mundo de procedimentos para fazer de tudo, desde naves especiais até teorias sobre teorias. Tópico nº 1 de Diversos Caminhos de sábado, 16 de junho de 1990.

5. "Praticamente todos os filósofos escreveram sobre ética. Mesmo quando não publicaram grossos volumes sob o poposo título "Ética", trataram do assunto ao longo de sua laboriosa, densa e às vezes confusa carreira de pensador. Não é para menos. Desde que cada homem se reconheceu como indivíduo diferente de todos os outros homens, os conflitos se tornaram inevitáveis, fruto amargo da individualidade. Mas o homem exacerbou a competição, que transcende a de qualquer outro animal, quase sempre limitada à disputa por comida e controle das fêmeas. O homem foi mais longe, intelectualizando a luta não só por comida e sexo, mas também por riqueza, fama e poder — estabelecendo nuances extremamente sutis e destrutivas. Daí à crueldade como afirmação de poder foi um passo. À violência como fim, um pulo. E à acumulação como exibicionismo puro e simples, mera conseqüência. É a isso que chamamos civilização e é dentro dessa armadilha de pegar jacu que nos movemos como ratos de laboratórios há milhares de anos. (...) Coube a um romancista que não canso de citar, o velho Dostoievski, a difícil tarefa de determinar com precisão a morte da ética e o nascimento da modernidade. Competência dele? Talvez. Mas Fostoievski viveu intensamente um dos momentos mais conturbados, violentos e sombrios da história humana, aquele que viu surgir o socialismo e acompanhou, ao mesmo tempo, os estertores das monarquias absolutas. Sei que estou me repetindo, que já discuti esse tema vezes sem conta, mas desta vez queria ir ao centro do vulcão, ao olho do ciclone, recuperar o momento exato em que a crueldade deixou de ser privilégio de alguns e se tornou direito de todos. O momento exato está em apenas duas frases, não apenas pelo que significam, mas por sintetizarem o pensamento filosófico e social do final do século 19, originando tudo que veio depois, dos totalitarismos de esquerda e direita à selvageria do capitalismo ancorado no mercado, sem esquecer as utopias humanistas condenadas ao fracasso.
    Sebastião Nunes (Sabará/MG) - início e fim do artigo "Se o estupro é inevitável, relaxe e aproveite" - Magazine "O Tempo", de 25.09.2005.

6. ORQUÍDEAS

Caíram todos os disfarces,
clareou-se o breu.
Desmoronaram-se os cárceres
entre você e eu.

Colori as noites pardas
e joguei a lua num aquário...
Os soldados abandonaram suas fardas
e nós mudamos de cenário.

Lágrimas do mês de Maio:
Versos tristes e poemas mortos
deste teu texto que eu ensaio,
cultivando orquídeas de caules tortos.

    Sandrele Venturelli Braga - Varginha/MG

7. Da minha janela, acompanho o cão atravessar a praça, vindo lá dos lados do VTC. Pára numa árvore, levanta a patinha, e segue. Cheira um menino que passa. Um bêbado bate o pé para ele. E o cão vai embora rumo à Avenida Rio Branco.

8. Segui por sua "trilha do antes", meu caro João Máximo, e minha memória se regozijou com os bailes de depois da 2ª Guerra Mundial, Me lembro de várias orquestras daquela época. No Rio e em todo o Brasil, os salões ficavam cheios e a gente dançava fox, blues, boleros, rumbas, sambas, etc. Era delicioso, muito bom. Já lá estava o inolvidável Severino Araújo e sua cativante tabajaras. Havia bailes de formatura, debutantes, rainha da primavera, reveillon. Ponho os olhos na saudade e vejo a orquestra de Osvaldo Borba, Cipó, Napoleão e seus soldados musicais, Delê, Chiquinho e a orquestra do maestro Zacarias. Os varginhenses dançavam com a orquestra do maestro Fernandes, do Valdomiro Silva e dos irmãos Constantinos. Depois veio Los Cubanos, de Zé Maria Valias. Não me esqueço do conjunto do Waldir Calmon. E os bailinhos nas casas eram ótimos. Tudo na base dos discos da época, além dos estrangeiros. Eu delirava com Benny Goodman. Enfim, era o tempo do dois-pra-lá, dois-pra-cá.

9. Milton, Chico e Caetano
    a redescoberta do mundo
    canções e poesia como plano
         Zhô Bertholini

10. Recortar e guardar este gramento de Pascoal Motta: "Para quando chegar a noite / a tua luz de seiva e vinho".

11. Satã se apresentou na solenidade. A Feiticeira chegou meia-hora depois. Roland Barthes a aguardava e Nivaldo citou versos de Artur da Távola: ..."Quem quer ser supermercado / morre entalado de enlatado".

12. ADEUS

Quero estar dizendo adeus
como quem diz
Bom-dia

Como se a vida
fosse um perene recomeço
que renasce de mortes passageiras.

    Glenda Maier
    

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