Solange Firmino

Professora do Ensino Fundamental e de Língua Portuguesa e Literatura do Ensino Médio. Escritora, pesquisadora. Estudou Cultura Greco-romana na UERJ com Junito Brandão, um dos maiores especialistas do país em Mitologia.

Mito em contexto - Coluna 63
(Próxima: 20/2/2009)


Hera, a legítima Senhora do Olimpo

Como todos os seus irmãos, com exceção de Zeus, Hera foi engolida pelo pai Crono ao nascer, mas todos foram salvos após os combates vitoriosos do futuro marido. Para o poeta Hesíodo, Hera foi a terceira esposa de Zeus, antecedida por Têmis e Métis. Hera e Zeus tiveram as núpcias no Jardim das Hespérides, em eterna primavera. Juntos, Zeus e Hera geraram Hebe, Ares, Hítia e Hefestos.

Como legítima esposa de Zeus, Hera foi considerada protetora das esposas e do amor legítimo. A deusa era vista como ciumenta e vingativa, pois aparecia sempre irritada com as infidelidades do marido, perseguindo suas amantes e filhos gerados com deusas e mortais. Entre suas armações, transformou Io em vaca e provocou a morte de Sêmele, grávida de Dioniso. Tentou impedir o nascimento dos gêmeos Apolo e Ártemis, filhos de Zeus e Leto. Aconselhou Ártemis a matar Calisto, ninfa que Zeus seduzira se disfarçando na própria Ártemis. Para fugir da vigilância da esposa, Zeus se metamorfoseava em diferentes formas, como em touro, cisne, chuva de ouro ou no marido da mulher desejada, como fez para seduzir Alcmena.

Mas a vítima preferida da deusa foi Hércules. Quando nasceu, para torná-lo imortal, Zeus pediu a Hermes que o levasse ao seio de Hera e o fizesse mamar. Ele sugou o leite divino com tanta força que feriu a deusa. Hera o lançou para longe de si com violência, mas o leite continuou a jorrar e as gotas formaram a Via Láctea. Ela também foi a responsável pela imposição dos célebres Doze Trabalhos ao herói.

 Certa vez, Hera discutiu com Zeus para saber quem conseguia maior prazer no amor, o homem ou a mulher. Como não chegavam a uma conclusão, já que Zeus dizia que a mulher era a maior a favorecida, e Hera dizia que era o homem, consultaram Tirésias, que tivera a experiência dos dois sexos. O adivinho respondeu que o prazer da mulher estava na proporção de dez para um em relação ao do homem. Enraivecida com a verdade, Hera o cegou.

Hera tomou parte no célebre concurso de beleza de “a mais bela deusa” e teve Atena e Afrodite como rivais. Durante as núpcias de Peleu e Tétis, Éris – a Discórdia – convidada a não comparecer, jogou a maçã de ouro para a mais bela. Hera, Atena e Afrodite se levantaram para a disputa que nenhum deus se atreveu a decidir. Zeus passou a decisão ao mortal Páris, que vivia na Ásia Menor. As deusas prometeram presentes em troca do voto: Hera ofereceu o governo do mundo; Atena, sabedoria. Afrodite ofereceu o amor da mais bela mulher, conseguindo o cobiçado título.

Ixíon, rei dos Lápitas, tentou seduzir a deusa, mas acabou abraçando uma nuvem, que Zeus confeccionou à semelhança da esposa. Os Centauros nasceram dessa “união”. Para castigar Íxion, Zeus fez com que se alimentasse de ambrosia, o manjar da imortalidade, e o lançou-o no Tártaro, onde ficou girando eternamente numa roda de fogo.

Como esposa de Zeus, Hera também tinha poder sobre os fenômenos celestes. Podia derramar chuvas benfazejas ou desencadear tempestades. A união de Zeus e Hera era como um símbolo de toda a natureza. O calor, as chuvas e os raios do sol que penetravam no solo através do casal é que fecundavam a Terra.


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