"DIVERSOS CAMINHOS EM BLOCOS", POR ZANOTO

Jornalista famoso do Correio do Sul (Varginha/MG), desde 1950 mantém a coluna lítero-poética "Diversos Caminhos" naquele jornal.
Manteve coluna em Blocos Online de janeiro de 1998 a dezembro de 1999, e agora retorna à Internet, novamente através de nosso site.
C. Postal, 107 - 37002-970 Varginha/MG

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Coluna nº 37, de 15/9
(próxima: 15/10)

1. "A natureza, quando deu a uma árvore a forma de árvore, podia igualmente ter-lhe dado a forma de animal ou de uma colina, e nós pensaríamos árvore diante do animal ou colina e daria na mesma" (Antonin Artaud).

2. A vida é um sonho.
    Segundo me disse, ele nunca morou numa ilha.
    Ou antes o que havia sido uma borboleta é agora uma semelhança de folha seca.
    Depois viu o pé de laranjeira. Depois viu o poema de Rilke. Depois leu um poema de Jorge de Lima. Talvez tenham decorrido algumas horas depois do jantar.

3. Em 1979, conheci poemas do poeta Gastão Castro Neto, em encaminhamentos que me fez Leila Míccolis (RJ). De pronto, a sua poesia me encantou. Ótimo poeta. Um poeta que caminhava para dentro de si mesmo. Disse Guido Antônio de Almeida: (...) Nos poemas de Gastão, cada palavra não significa jamais imediatamente a coisa a que convencionalmente se refere, mas sempre obliquamente uma outra palavra, num resvalar vertigionso da significação, num jorro contínuo do discurso que reflui para dentro de si mesmo e se recusa a descrição e o relato. "
    "Eu quero terminar estas múltiplas vidas minhas. / Quero ser só um e não material do deserto."

4. De repente, vi Uilcon Pereira caminhando sobre nuvens. E aliás por que a lua não se instala no céu agora? Entre o pão de alho e a carne fresca, o macarrão à bolonhesa. E a noite dorme despreocupada.

5. Derrapo./ Derrapo com a loucura/ ao abrir as portas de fevereiro / e não é carnaval, / é o mal / da tua insensatez / a percorrer o meu corpo / como água fervente – Nilza Menezes (Porto Velho/RO).

6. Nada
    Às terças-feiras, o homem que babava descia a rua. Todos tinham medo. Mas não passava de um inofensivo que aos berros repetia a mesma frase:
     – Não somos nada!
    Debaixo de uma janela, tirava da sacola uma caçarola e ficava se alimentando com restos de todo mundo. E arrotava feliz. E continuava sua rotina monótona, pregando que não somos nada.
    Marcelo Geraldo de Freitas (Contagem/MG)

7. Carlos Gardel, o tango continua. Dizem que num certo dia chuvoso Sartre encontrou um trevo de 4 folhas. Entre a realidade e a ficção há uma fronteira. Porém há momentos em que elas se confundem. As alucinações passaram. Me disseram que Marques Rebêlo escreveu sobre o amor em Laranjeiras. Como seria o amor na Praça da Bandeira? Ninguém sabe ao certo se Heidegger olhou para o ideograma enquanto escutava o discípulo japonês. E pronto. Outra vez estou olhando a lua, que não me deixa mentir sobre o passado.

8. "Sem roupa, todos se parecem. Difícil advinhar suas profissões ou atividades. Os corpos ao sol são apenas corpos ao sol", disse Dalila Teles Veras, in "Aguardando o Ano Novo".
    "As instituições, hábitos e costumes que tratamos de inventariar e compreender são uma florescência passageira de uma criação que não possui sentido algum, a não ser talvez o de permitir que a humanidade nela desempenhe o seu papel. O mundo começou sem o homem e acabará sem ele", escreveu José Luiz Dutra de Toledo (Ribeirão Preto/SP).

9. Alguém me mandou um livro, na última página está escrito: "The courage to create" e isto: "(?) Tenho comigo uma antiga anotação de Rollo May, "Viver esperando o futuro é a fuga habitual das pessoas sem cultura; viver do passado talvez seja a fuga das sofisticadas". Quem teria posto o ponto de interrogação abaixo do livro de Rollo May? Vou pedir que Urhacy Faustino faça uma sondagem para mim.

10. Júlio La Barca acha que não. Rodolfo Serkin acha que sim. Nietzsche disse: "Não é fácil compreender sangue alheio: eu detesto todos os ociosos que lêem". As folhas se abriram, ontem, no pessegueiro. Tenho um amigo que mora no Jardim Adere que me disse outro dia que todas as águas passadas moveram moinhos. O fato é que alguém terá que segurar a lanterna.

11. Gotas do ar - "Vela / ilumina / gotas de ar / no oco do beijo // vela / derrete / alfinetes de pranto/ no bojo da alma // angu-de-caroço // tristeza/ cisma / ser / sombras/ aos pedaços" – Germano Rocha, do livro "Estalactites do silêncio" (Ed. Blocos).

12. Desvaneceram-se os sóis, as luzes inda pouco se apagaram."Por obra de magia nasci curiosamente de um ventre" – Jorge Luiz Borges.
    

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