Bárbara Bandeira Benevento 
Carioca,  psicóloga, solteira, 27 anos, trabalhou com deficientes visuais, é sobrinha-bisneta do poeta  Manuel Bandeira.
Leia também seu blog, no endereço: <http://www.amorracional.blogger.com.br>.  Na foto, nossa colunista com Sacha.

  Coluna 112 

"Quando se é capaz de lutar por animais, também se é capaz de se  lutar por crianças ou idosos.
Não há bons ou maus combates, existe somente o horror ao sofrimento aplicado aos mais fracos, que não podem se defender".
Brigitte Bardot

Queridos Leitores,

Segue um texto, muito interessante, retirado do site Guia Vegano. Não tenho mais o que falar do assunto alimentação e exploração pois é bastante completo.

Ele passa uma mensagem esclarecedora e verdadeira, mesmo que ainda demasiado “indigesta” para a maioria das pessoas. É difícil descartarmos certos paradigmas e aceitarmos a realidade.

Sempre nos colocamos como o centro do Universo e cada vez mais recebemos provas que não somos.

Devemos ser consumidores conscientes, nós ainda temos o poder de escolha – leia o rótulo, compre um produto que não tenha sofrimento animal em testes ou não seja de origem animal.

Reivindique, liguei para as empresas, questione, você tem esse direito e deve exerce-lo. Cada vez mais chego a conclusão que não há outra maneira de querer a Libertação Animal Humana e Não humana se não aderirmos ao veganismo.

É uma questão muito mais política do que alimentar.

Por mais que não consigamos ser 100%, por mais que seja aos poucos, é possível e é a única saída para o fim de todas as formas de exploração!

Abraços


Sobre a “Libertação Animal” e o Veganismo
Autor: Dennis Zagha Bluwol, Geógrafo
dennis@guiavegano.com
http://www.guiavegano.com

Algumas reflexões muito bem feitas já foram realizadas sobre este tema, destacando-se a essencial obra de Peter Singer “Libertação Animal”. Como reflexão no campo da ética este livro nos apresenta argumentos suficientes para se ir contra qualquer tipo de exploração contra animais, dada a sensibilidade (capacidade de sofrer) destes seres, dados os impactos ao meio-ambiente resultantes da indústria da carne, aos fatores ligados à questão da fome no mundo, entre outros pontos de análise. O objetivo aqui não é repetir o que já foi escrito neste ou em outros vários textos importantíssimos, mas colocar algumas das discussões do que hoje é conhecido como movimento de libertação animal dentro da proposta deste artigo, numa tentativa de aprofundar a discussão em certos sentidos e apontar para possíveis resoluções para estas problemáticas.

Novamente coloco a questão do conceito de natureza para abordar esta questão. Animais são parte na natureza. Todos os animais. Por exemplo, o ser humano e as relações que possui com o resto do mundo.

O fato de existir conflitos entre os animais nos mostra que um conceito de natureza que a vê como algo bucólico, paradisíaco e distante é algo irreal. A grande questão não é apontar ou propagar uma idéia fictícia de que natureza é sinônimo de paz total. O conflito é parte da natureza. Não existe mundo sem conflito.

A questão, portanto, é que animais não humanos podem ter conflitos entre si, mas só o animal humano é capaz de explorar premeditadamente, intensivamente e imoralmente outros animais, o que faz com que essa exploração seja muito pior do que a feita por parasitas de outras espécies sem capacidade de discernimento, abstração e reflexão.

Em linhas gerais, a relação que o ser humano atual possui com outras espécies animais pode ser definida em uma palavra: especismo. Ou seja, há um preconceito colocado em nossa sociedade que diz que outras espécies animais são menos dignas de respeito e bons tratos do que nossa espécie. É o mesmo discurso do racismo, do sexismo, ou de outros preconceitos de caráter excludente de uma parte dos seres por razões não explicáveis ou não defensáveis moralmente.

Assim, animais não humanos podem ser engaiolados, enjaulados, acorrentados, treinados, debicados, isolados, paralisados, testados, pendurados... e, principalmente, assassinados. Mortos por um motivo mesquinho e não mais justificável no mundo atual: para que seu cadáver seja devorado. Não é mais possível justificar essa barbárie, pois hoje sabemos que, nutricionalmente, o consumo de carne, leite e ovos não apresenta nenhum diferencial no que se refere aos nutrientes necessários ao ser humano em relação ao que se pode obter através de fontes vegetais, a não ser aspectos negativos, como o excesso de gorduras. Ambientalmente, a indústria da carne é repulsiva, por usar e poluir uma quantidade gigantesca de água, por destruir áreas gigantescas de florestas para a criação de pastos ou de grãos para a alimentação do gado, ou por destruir a camada de ozônio através do gás metano liberado pelos animais concentrados, que chega a ser 30 vezes mais destruidor do que o gás carbônico liberado por automóveis.

É uma opção alimentar infeliz e injustificável. Como esta discussão se encaixa no eixo central deste artigo?

Para que essa repulsiva indústria exista nos moldes que existe hoje, não podemos enxergar-nos como parte desta mesma natureza que é presa, torturada e abatida nas fazendas-fábricas e seus matadouros. Não podemos nos sentir parte desta situação assustadora. Aí, mais uma vez se encaixa a proposta do conceito do que é a natureza posto para nós como uma verdade indiscutível, como analisado no início deste artigo. O ser humano não se vê como um animal, pois considera os animais como aqueles seres inferiores e sem consciência que estão aqui para nos servir. Até bem pouco tempo atrás se mudássemos a palavra “animais” por “negros”, na última sentença, ela seria lida com a maior tranqüilidade, sem causar espanto em boa parte da população não negra.

Novamente voltamos à questão: toda a natureza é explorada do modo como é hoje por um certo objetivo: a acumulação de capital, que é o objetivo do capitalismo.

O que é uma vaca para um burguês? É uma máquina onde se coloca grãos e cereais baratos e abundantes (que poderiam alimentar um enorme número de pessoas a baixos custos) e se retira, ao final do processo (que é cada vez menor dado ao uso de hormônios e antibióticos), carne com um valor comercial bem maior do que o dos grãos e cereais, que será vendida para uma parcela da população mundial que possui dinheiro para isto e está disposta a trocá-lo por este pequeno e injustificável prazer degustativo momentâneo.

A vaca, a galinha, os porcos, enfim, todos os animais são apenas matéria-prima para indústrias altamente lucrativas para seus donos. Donos estes que não se importam nem o mínimo com o sofrimento destes animais, com as horríveis condições de vida a que são submetidos (leia “Libertação Animal”), com os impactos ambientais calamitosos provocados por esta indústria, com o número dezenas de vezes maior de pessoas que poderiam ser muito bem alimentadas com as fontes vegetais de nutrientes se não as déssemos para o gado, com a grande área de floresta que seria poupada do desmatamento para a criação de pastos e grãos, com a imensa quantidade de água que é desperdiçada ou poluída com dejetos do gado, etc.

Aliás, é bom colocar, é claro, que a problemática da fome no mundo pode ser observada sob o prisma da concentração de renda e da concentração fundiária existente em vários locais do mundo, inclusive, de forma violenta, no Brasil. É impossível desconsiderar isto. Porém, é bom ressaltar que a questão não é só esta. Suponha que um dia estas concentrações terminem e todos possam ter acesso ao que quiserem, pelo menos para se alimentar, a mais básica das necessidades. Se todos, considerando a população mundial atual que cresce vertiginosamente, desejarem pratos à base de carne, leite e ovos, de acordo com pesquisas recentes, precisaríamos de pelo menos quatro planetas como a Terra para criar todos esses animais. E este número varia para mais, se considerarmos outros luxos de classes mais abastadas e consumidoras de produtos industrializados em excesso. Ou seja, mesmo que se quisesse, seria impossível alimentar toda a população do mundo com carne, ovos ou leite. Não há condições pelos próprios limites do planeta. Portanto, é totalmente contraditório se defender uma posição contra o modo de produção exploratório hoje existente e continuar incentivando o consumo de animais. Não é possível existir uma sociedade mais justa e igualitária no mundo se não se mudar o mais essencial dos atos, que deveria ser praticado por todos algumas vezes ao dia: se alimentar.

Temos então o Capitalismo, com seu conceito alienante de natureza, explorando a tudo e a todos em nome da acumulação de capital. A exploração de animais não humanos é um destes tipos de exploração. Como qualquer tipo de exploração, principalmente de seres sensíveis, é injustificável e imoral, assim como a exploração do ser humano transformado em força de trabalho nas mãos destes mesmos carrascos.

Libertar os animais desta terrível situação só pode ocorrer simultaneamente à libertação do homem desta mesma situação exploratória, assim como a libertação de todo o planeta. Uma das mudanças essenciais para se chegar a isto é alterarmos o que consideramos ser nossa natureza e nos vermos novamente integrados ao resto do mundo, agindo em prol do bem comum e da melhoria da qualidade de vida de todos.

A burguesia, com o auxílio de uma de suas mais execráveis armas, o marketing, embute nas pessoas cada vez mais necessidades superficiais que se tornam centrais na vida de um número altíssimo de pessoas, mesmo naqueles que não podem pagar por elas, mas que não por isso não possuirão o desejo de um dia possuir algo daquilo que o protagonista acéfalo da novela adquiriu, ou do que o comercial que associa mulheres seminuas e juventude desmiolada ao sucesso e bem estar nada sutilmente lhe ordena comprar. Tais necessidades fazem a produção de mercadorias crescer vertiginosamente e continuamente, a acumulação de capital ser cada vez maior e, portanto, a exploração da natureza alcançar patamares cada vez mais insustentáveis: mais exploração de matéria-prima, de trabalhadores ou de animais usados como ingredientes ou como cobaias em inúmeros e sofridos testes em seus organismos a cada novo ingrediente ou fórmula desenvolvida. Cada novo produto lançado é uma nova facada contra nós mesmos. É um atentado contra a natureza.

Ai das indústrias se as pessoas tivessem o discernimento de que elas são também natureza e de que não podem ser vistas como matéria-prima. Sim, as pessoas são vistas no mesmo nível de importância que um pedaço de bauxita pelos burgueses. Apenas têm nomes diferentes no processo exploratório: um é matéria-prima, o outro é força-de-trabalho. A única diferença é que este último precisa comer, e portanto precisa de seu ínfimo salário, não que isso seja um grande problema, já que o salário é uma pequenina parte valor do que essa força-de-trabalho cria com aquela matéria-prima. O resto é lucro. E se há lucro, é com a natureza que o burguês vai se preocupar? Que se explore mineral, vegetal, animal não humano ou animal humano. É assim que o modo de produção que estamos inclusos opera.

Se quisermos caminhar na direção de um movimento de “libertação animal” que possua alguma chance de sucesso, não podemos deixar estas questões de lado. Libertar os animais de sua condição de vida atual sem pensar em libertar também os humanos e todo o resto da natureza das reais forças por trás das explorações, é um trabalho fadado ao fracasso. Não podemos querer um capitalismo vegano, como parece ser o caso em muitos discursos.

Capitalismo e veganismo, como tentei mostrar durante este texto, ainda que com outras palavras, são práticas contraditórias. Não podemos deixar que o capitalismo se aproprie do vegetarianismo como se este fosse apenas um nicho de mercado. Não somos um nicho de mercado. Devemos ser uma opção real de luta contra qualquer exploração, no caminho de um futuro mais justo, igualitário e, para todos os seres, prazeroso


Esta coluna é atualizada quinzenalmente, às segundas-feiras
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