COLUNA DE VÂNIA MOREIRA DINIZ

Nº 68 - 21/7/2009
(próxima: 6/8/2009)

          

Preciso escrever para viver...

          Não sei se sou uma escritora. Não sei sequer se me faço entender quando meu pensamento se concentra de tal forma que não sei quem sou. Mas enquanto estiver querendo descobrir tudo ao meu redor, enquanto precisar disso para que possa ser “gente” e sentir sangue circulando em minhas veias, continuarei escrevendo. Sempre precisei juntar as letras e construir em frases minhas idéias até mesmo quando um susto e uma dor me fizeram perder a voz. Perdi a voz, mas não o pensamento que formava imagens as mais estranhas. Imaginei que haveria vida enquanto eu escrevesse.
         
           Já imaginou como é maravilhoso poder dizer o que sinto no  corpo, as sensações dos meus sentimentos a cada dia que se extingue e que me aproxima mais da morte? Uma sensação antiga, ver meu pai trabalhando numa máquina elétrica de escrever, num movimento quase alucinado, meu irmão mais velho se afastando das mesmas letras que eu queria dominar? E ali a casa que explodia de agitação e eu me perguntando por que eu era eu.

          Não compreendia exatamente a razão da existência apenas que eu precisava rapidamente passar para o papel tudo que me rodeava. Desde a perfeição, o mais puro requinte até a mais horripilante destruição.

          As ruas pareciam regurgitantes e, no entanto lembro-me daquela escura e sem sol não sei onde e quando ficou tatuada em mim em um dia longínquo e morno. Não sabia por que exatamente sentia os rostos ao meu redor amargos e percebia seus olhos fundos e indecifráveis.

          Não, não vou me esforçar para ver só o colorido quando percebi a dor ou a miséria, a beleza e a feiúra, os gestos doces e aqueles que me assustavam de grosseria insustentável.

          Queria o silêncio, o escuro, o esquecimento, o alívio da ferida que me machucava...

          Ah mas como o sol já me alegrou no passado e no presente enquanto o sentia e sinto batendo no meu corpo e as risadas que me fazem bem, deixam-me em delírio, que maravilha é viver meu Deus!

          Esse contraste que sempre me fascinou ou torturou, um dia depois do outro, a criança que cresce, aquele que se torna velho, poder pensar sem censuras e imaginar fantasias porque ninguém pode enxergar. Como é bom viver nessas horas em todos os segundos, enquanto sentimos a tontura que se apodera e nos faz girar, girar , girar....

          O despertar saber que mais um dia me espera e sinto, entrego-me à própria sensualidade, pensamentos eróticos, eletrizantes, nessa luxúria de sentir meu próprio corpo e a voluptuosidade me dominando...

          Preciso escrever porque preciso viver...

          Só isso. Sobrevivência. Só por isso.

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