Coluna de Rogel Samuel 
Rogel Samuel é Doutor em Letras e Professor aposentado da Pós da UFRJ. poeta, romancista, cronista, webjornalista.
Site pessoal: http://www.geocities.com/rogelsamuel

Nº 96 - 2 ª quinzena novembro
(próxima coluna: 10/12)


O DOMADOR DA MONTANHA


Obra inédita

Capítulo 9 (último): O EXÉRCITO DOS YAKSHAS


           ANL continuava na direção Norte. Aproximava-se de Phen.
          Acontece que os yakshas machos e fêmeas, comandados por vários chefes yakshas, se reuniram vindos em grande exército nos ventos das montanhas glaciais dos três platôs do Norte, e se juntaram os três exércitos em um só para atacar ANL ali mesmo.

          Um oceano de combatentes humanos ficaria paralisado e trêmulo de pavor diante de tal situação, pois cada um dos yakshas era por si só um poderoso e perigoso demônio.

          Assim ANL teve um momento de indecisão e abatimento.

          Mas o que sucedeu foi que ANL fez girar uma roda de fogo na ponta de seus dedos no gesto ameaçador. E toda a camada de gelo e neve das montanhas glaciais onde aqueles yakshas moravam se derreteu como manteiga tocada por uma ponta de ferro em brasa.

          Só com isso o gigantesco exército de yakshas se rendeu ao poder de ANL. E seus chefes vieram oferecer paz e proteção.

 

          Mais tarde, quando ANL entrou na Floresta Trambu, que fica no vale Tolung, encontrou um grupo de 21 tibetanos que vieram até ele a fim de dar-lhe boas vindas.
           Eles trouxeram comida para o almoço, mas não havia água.
          Para resolver isso, ANL especou a rocha com sua lança e a pura água dali brotou como uma fonte. Aquela água jorra até hoje lá e ficou conhecida como Fonte Divina do Vale.
          Depois, pernoitando em Khala Cliff, ANL submeteu todos os espíritos tsen sob o juramento de não perturbar. E no dia em que ANL e sua comitiva passaram por Sulphuk todos os demônios foram dominados sob juramento.

          Na chapada da Montanha Ridge eles permaneceram um dia, e ANL impôs a todos os espíritos gyalpo e os gongpo a submissão e o juramento de não mais atacar.

          Essas foram as ações feitas por ANL, e muitos acreditam que tenham sido conseguidas por que ele era um mestre na prática da Deidade chamada Vajrakilaya.

          Esse Vajrakilaya era conhecido por ANL desde quando ele ainda estava em Pharping, no Nepal, que na época se chamava Yanglesho.

          Naquele tempo, quando ANL era professor da filha do rei do Nepal, Shakyadevi, possantes espíritos provocaram uma terrível seca de três anos, que veio acompanhada de epidemia e fome.

          Então, ANL mandou perguntar de seus mestres indianos qual o ensinamento que pudesse remediar aquela situação de crise no Nepal.
           Os enviados voltaram trazendo para ele o Tantra e os comentários de Vajrakilaya, e mesmo no momento em que os emissários foram chegando na região aquela praga foi sendo pacificada.

          ANL e sua aluna Shakyadevi atingiram os dois o terceiro nível de vidyadhara, o “vidyadhara do grande selo, ou mahamudra” e ANL reconheceu a prática de Vajrakilaya como uma escolta armada que é necessário para se proteger dos obstáculos e os superar.

          ANL compôs então a sadhana de Vajrakilaya e indicou como seu principal uso o guardar os ensinamentos.


* * *


           Em Hepori, ANL encontrou o rei do Tibet e sua comitiva que vinha recebê-lo.
          Após encontrá-lo, o Rei se irritou porque ANL não se prosternou perante ele. ANL fez apenas um gesto de homenagem com a mão.

          O rei do Tibet se irritou com o atrevimento, mas assim que raios de terríveis luzes saíram da mão de ANL e rasgaram o manto real, o rei se intimidou. Os ministros ficaram terrificados, mas o rei compreendeu e se prosternou diante de ANL.
           ANL então foi conduzido em cerimonial até o palácio, onde foi colocado num trono de ouro. Foi-lhe servido um pequeno banquete com vários tipos de bebidas, comidas e bolos. ANL quase nada provou. A seguir lhe foi oferecida uma capa de brocado marrom. O próprio rei lhe fez o oferecimento da mandala de ouro e turquesas.

          ANL recebeu várias homenagens.

          — Estou construindo um altar, disse-lhe o rei. Quero que o consagre.

          — Majestade, esta terra é a pátria dos demônios. No meu caminho tive muitos problemas com eles. Mas, na montanha ali distante, mora o rei dos Nagas. Ele controla todo o Tibet e o Kham, disse ANL.
           E acrescentou:
          — Devo estabelecer ali um tesouro de naga.

          Dias depois foi ANL para aquela montanha. Lá, realizou vários rituais para pacificar aquele e outros obstáculos. A seguir foi ao fim do vale Maldro, onde realizou vários rituais para o rei e seus súditos.

          Dias depois, indo até o alto do Vale Maldro, ele realizou o ritual de estabelecer um tesouro para o rei dos Nagas. A seguir, em Hepori, ANL concentrou-se em magnificar uma torma numa vasilha de ônis. Na sua meditação, ele tomava todos os espíritos e demônios sob seu comando.

          Mas o espírito Machen Pomra não o obedecia, e por isso ANL teve de dominá-lo com o gesto do gancho. Tendo feito isso, aconteceu que o espírito apareceu diante dele, vestido de uma capa de lã.

          Machen Pomra era grande como uma montanha e dessa forma falou:

          — Jovem monge, eu não posso desobedecer. Aqui estou. Dê as suas ordens.

          ANL replicou:

          — Aceite essas oferendas e atenda aos desejos do rei.

          Machen Pomra respondeu:

          — Vou fazer como você me ordena. Mas eu gosto muito de coisas de valor: essa torma feita de água não me satisfaz. Dê-me coisas mais valiosas!

          Então ANL preparou oferecimentos com as cinco preciosas substâncias num prato de prata, abençoou tudo e ofereceu.

          Machen Pomra se deu por satisfeito e desapareceu.

          ANL continuou o seu trabalho de submeter os deuses e espíritos que impediam a implantação do seu trabalho de Dharma no Tibet.

          Portanto começa aí o vasto império espiritual do Tibet.

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