Solange Firmino

Professora do Ensino Fundamental e de Língua Portuguesa e Literatura do Ensino Médio. Escritora, pesquisadora. Estudou Cultura Greco-romana na UERJ com Junito Brandão, um dos maiores especialistas do país em Mitologia.

Mito em contexto - Coluna 64
(Próxima: 5/3/2009)


Ariadne: de Creta ao Olimpo

Filha do rei de Creta, Ariadne começou sua grande aventura quando se apaixonou por Teseu, filho de Egeu, rei de Atenas.  Egeu, invejoso das vitórias do cretense Androgeu nos jogos de Atenas, enviou-o para combater o Touro de Maratona, onde o jovem morreu. Após um período de Guerra entre Atenas e Creta, uma peste assolou Atenas, pedido de Minos a Zeus. O rei de Creta concordou em se retirar de Atenas se fossem enviados de nove em nove anos sete rapazes e sete moças para o Minotauro, animal metade homem, metade touro, que vivia preso em um labirinto.

Meio-irmão de Ariadne, o Minotauro foi castigo de Poseidon a Minos, que pediu ao Senhor dos Mares um touro para provar seu poder aos adversários. Minos devia oferecer o animal ao deus, mas, admirado com a sua beleza, o rei o guardou em seu rebanho e sacrificou outro em seu lugar. Poseidon então pediu à deusa Afrodite que despertasse na esposa de Minos um desejo pelo touro. Pasífae pediu ao arquiteto Dédalo que construísse uma vaca oca de madeira para que ela consumasse seu desejo. Dessa união nasceu o Minotauro.

Na terceira vez que Atenas enviou jovens para Creta, Teseu resolveu se incluir entre eles para matar o monstro e livrar sua cidade dos sacrifícios. Egeu combinou com Teseu um sinal: se tudo corresse bem em Creta, seu navio retornaria com velas brancas; caso contrário, com velas negras. Chegando a Creta, a princesa Ariadne logo se apaixonou por Teseu e os dois descobriram um jeito para que ele conseguisse a desejada façanha: Ariadne seguraria na entrada do labirinto um novelo de lã, o fio condutor que Teseu desenrolaria conforme fosse andando. E assim foi, Teseu entrou nos corredores sombrios do labirinto e matou o monstro. Na volta, seguiu o fio e saiu vitorioso.

O herói deixou Creta e levou Ariadne, mas a abandonou no caminho, na ilha de Naxos. Quando retornou a Atenas, Teseu esqueceu o que combinou com o pai e não colocou as velas brancas. Egeu aguardava seu retorno em Atenas e, vendo que o navio com velas negras se aproximava, pensou que o único filho havia morrido. O rei se lançou ao mar e, em sua homenagem, o mar Egeu tem esse nome.

O destino de Ariadne tem versões diferentes: Teseu a abandonou na ilha de Naxos porque amava outra ou porque Dioniso se apaixonou por ela e o forçou a deixá-la. De qualquer modo, Ariadne encontrou consolo com a chegada de Dioniso e seu cortejo. O presente de casamento foi uma coroa de ouro e pedras preciosas feito pelo deus artesão, Hefestos, que depois foi transformada em  constelação.

O casamento de Ariadne e Dioniso simbolizou a união de duas divindades protetoras da vegetação. De acordo com antigos costumes religiosos, esse tipo de união sagrada possibilitava que uma deusa suplantada em suas funções tivesse sua glorificação. Ariadne seria uma antiga deusa da vegetação, suplantada por Dioniso em Naxos e outras ilhas do Mediterrâneo.


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