Solange Firmino

Professora do Ensino Fundamental e de Língua Portuguesa e Literatura do Ensino Médio. Escritora, pesquisadora. Estudou Cultura Greco-romana na UERJ com Junito Brandão, um dos maiores especialistas do país em Mitologia.

Mito em contexto - Coluna 69
(Próxima: 20/5/2009)

A paixão de Medéia

Medéia era filha do rei da Cólquida. Sua história se tornou conhecida após a chegada de Jasão e os Argonautas à sua corte. Os nautas chegaram à região após uma série de aventuras pelos mares, a fim de recuperar o Velocino de Ouro. O Velocino (ou Velo) pertencia ao carneiro que salvou os filhos de Átamas de serem sacrificados sob as ordens da madrasta. O carneiro voador com velo de ouro enviado por Zeus levou as crianças nas costas. Passando pelo canal que separa a Europa da Ásia, Hele caiu do carneiro, dando seu nome ao mar abaixo, o Helesponto; Frixo continuou o voo e desceu na Cólquida. O menino sacrificou o carneiro a Zeus e entregou o velo (a pele do carneiro) ao rei, que o consagrou ao deus Ares num bosque guardado por uma serpente.

Jasão deveria pegar o Velocino (ou Velo) para satisfazer as ordens do tio Pélias, usurpador do trono da Tessália. Quando cresceu e exigiu sua herança, Jasão recebeu a tarefa considerada impossível, só então seria rei. Organizou uma expedição em um navio chamado Argos. Entre os Argonautas havia heróis e personagens conhecidos, como Orfeu; os gêmeos Cástor e Pólux; Peleu, pai de Aquiles; e, em alguma parte da jornada, Hércules. Navegaram em direção ao Mar Negro na jornada para Cólquida.

Chegando ao destino, o rei Eetes permitiu a tomada do Velocino após a realização de algumas tarefas, logicamente consideradas impossíveis. Jasão deveria domar dois touros que ateavam fogo pelas ventas, fazê-los lavrar um terreno e semear os dentes do dragão morto por Cadmo. Deveria matar os gigantes que surgissem dos dentes e eliminar o dragão que guardava o Velocino. Jasão recebeu ajuda de Medéia. A princesa cultuava deusa Hécate, por isso desenvolveu poderes mágicos que foram muito necessários. Medéia deu a Jasão um bálsamo para tornar seu corpo invulnerável. Também o orientou a atirar pedras no meio dos gigantes, de modo que se atacassem entre si. Medéia adormeceu o dragão que guardava o tesouro e Jasão foi bem sucedido.

Eetes não gostou que o herói tivesse cumprido as tarefas impostas. Para evitar a entrega do Velocino, planejou incendiar a nau e matar a tripulação. Mais uma vez Medéia o salvou. Alertou dos planos de seu pai, depois pegaram o Velocino e fugiram. Eestes os perseguiu e mais uma vez Medéia entrou em ação: matou o irmão, cortou-o em pedaços e os jogou no mar. Eestes parou para recolher os restos mortais do filho e desistiu da perseguição.

Quando chegaram à Tessália, Pélias se recusou a entregar o trono e Medéia se encarregou da vingança, enganando as filhas do rei para que o matassem. Misturou substâncias em um caldeirão de água fervente e demonstrou seus poderes de rejuvenescimento matando um velho carneiro e cozinhando no caldeirão, fazendo surgir um jovem carneiro. Entusiasmadas, as filhas se apressaram em cortar Pélias em pedaços. Mas ele não rejuvenesceu nem ressuscitou. Jasão e Medéia fugiram para a cidade grega de Corinto e tiveram dois filhos.

A tragédia “Medéia”, escrita pelo poeta trágico grego Eurípides, começa a partir de Corinto. O rei Creonte convenceu Jasão a abandonar Medéia e casar com sua filha. Medéia lembrou a Jasão tudo o que fez por ele ao se virar contra a própria família para salvá-lo. Temendo a magia de Medéia, o rei a expulsou. Ela implorou, mas ele apenas lhe deu um dia para que se preparasse.

Egeu, rei de Atenas, aceitou recebê-la como exilada em Atenas. Antes de sair de Corinto, Medéia executou alguns planos. Desculpou-se com Jasão e enviou presentes para a filha de Creonte, mas eram vestimentas enfeitiçadas que lhe devoraram o corpo. O pai tentou ajudar a filha, mas ambos morreram. Para punir Jasão ainda mais, Medéia matou os próprios filhos, depois fugiu na carruagem flamejante do avô Hélio, o deus-Sol, levando os corpos dos filhos.

Medéia tinha consciência do seu infortúnio, mas não se conformou diante do abandono e traição e ameaçou seus inimigos. Medéia pode ser o símbolo da mulher que é capaz de qualquer coisa para restabelecer sua honra. Evidente que muitas mulheres não chegariam ao ponto de assassinar os próprios filhos, mas o sentimento de vingança certamente passa pela cabeça da maioria delas. Muitas teses justificaram o assassinato dos filhos de Medéia menos pela vingança premeditada e mais pela paixão.

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