Bárbara Bandeira Benevento 
Carioca,  psicóloga, solteira, 27 anos, trabalhou com deficientes visuais, é sobrinha-bisneta do poeta  Manuel Bandeira.
Leia também seu blog, no endereço: <http://www.amorracional.blogger.com.br>.  Na foto, nossa colunista com Sacha.

  Coluna 118

"Quando se é capaz de lutar por animais, também se é capaz de se  lutar por crianças ou idosos.
Não há bons ou maus combates, existe somente o horror ao sofrimento aplicado aos mais fracos, que não podem se defender".
Brigitte Bardot

Leitores da defesa animal,

Existem textos que não precisam ser comentados ou criticados e sim lidos. Só tenho uma coisa para dizer: quanto mais conheço os animais não humanos, suas particularidades, sua forma bela e simples de viver, sua verdade e equilíbrio, mais tenho críticas a fazer ao Ser Humano.

E mais uma vez, a única coisa que peço é: respeito e liberdade para todos os seres — enquanto continuarmos prendendo, torturando, matando, explorando, não seremos livres, nem teremos paz. Qualquer passeata ou campanha não será em vão.

E por favor, defensores, protetores, abolicionistas: vamos fazer campanhas sérias. Eles precisam de nós! estamos tornando um assunto tão importante numa piada e quem sai perdendo são os animais não humanos.

Abraços

Recebi de uma amiga – Regina Rheda - da lista abolicionista e resolvi passar para vocês.

Em português o blog mais recente do Francione. Vale a pena!


Quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

O Estado do Movimento

O especismo é errado porque, como o racismo, o sexismo e a homofobia, nega, a seres sencientes, a integração total à comunidade moral, baseado em uma característica irrelevante. Raça, sexo, orientação sexual e espécie -– tudo isso é irrelevante para a capacidade de sofrer dano.

E a rejeição ao especismo, por estas razões, implica a rejeição à discriminação baseada em raça, sexo ou orientação sexual. É inaceitável perpetuar, para o benefício de um grupo, o tratamento de outro grupo como se este fosse mercadoria. Isso envolve tratar o outro -– seja uma mulher, uma pessoa de cor, um gay, uma lésbica, ou um não-humano -- como algo em vez de alguém.

People for the Ethical Treatment of Animals realizou campanhas sexistas durante muitos anos. Isso começou com a campanha "I'd rather go naked than wear fur" (Prefiro andar nua a vestir peles), no início dos anos 90, e vem "progredindo" através de uma série de promoções cada vez mais grosseiras e tolas, até atingir o ápice no recente Discurso da PETA sobre o Estado Nu e Cru da Nação, o PETA's State of the Union Undress: um recorde de baixaria, mesmo para a PETA.

Não é pouco, tratando-se de uma organização que tem dado o melhor de si para reduzir a séria questão da exploração animal a um monte de piadas de vestiário.

Preferimos andar nus e agora vamos de nudez feminina frontal, completa (e raspada) –- "pelos animais". Primeiro você tem de clicar num botão para indicar que é maior de 18 anos. E, depois de ver uma mulher fazer um strip-tease completo enquanto lhe conta tudo sobre as campanhas bem-estaristas da PETA, criadas para fazê-lo consumir com "compaixão", você assiste a alguns minutos de sangrentas imagens de não-humanos sendo explorados em vários contextos. O vídeo termina com uma citação do Dr. Martin Luther King sobre justiça. Trata-se realmente de múltiplos níveis de pornografia.

Este vídeo mais recente, embora mais extremo do que os esforços anteriores da PETA neste sentido, é problemático pelas mesmas razões que todas as campanhas sexistas e misóginas da PETA são problemáticas.

Primeiro, essas campanhas tratam um grupo tradicionalmente desprovido de poder (mulheres) como se ele fosse mercadoria, ou como se fosse um meio para, supostamente, se obter um fim –- o fim de ajudar outro grupo desprovido de poder (não-humanos). Mas faz sentido dizer que devemos tratar um grupo instrumentalmente para ajudar outro grupo? Não faz sentido nenhum. Na verdade, ao encorajar o público a ver as mulheres como objetos, a PETA simplesmente garante que as pessoas continuem a ver os não-humanos como objetos. Enquanto continuarmos tratando as mulheres como carne, continuaremos a tratar os não-humanos como carne.

É imperativo nos opormos ao tratamento instrumental de todo e qualquer grupo. Depreciar e tratar um grupo como mercadoria, para supostamente beneficiar outro grupo, é imoral e auto-destrutivo.

Segundo, ao casar imagens sexuais com imagens de violência contra não-humanos, essas campanhas tentam erotizar a exploração animal. Vivemos numa cultura em que a violência, particularmente aquela contra as mulheres, é erotizada de várias formas. Perpetuar isso -- e ainda estender isso à exploração dos não-humanos -- é profundamente preocupante.

Terceiro, essas campanhas têm tudo a ver com promover a PETA e nada a ver com a exploração dos animais não-humanos. A PETA começou sua campanha pela pele nua no início dos anos 90. A indústria da pele está mais forte do que nunca. Nos últimos dez anos, houve um aumento dramático do número de lojas vendendo o produto e do número de estilistas usando-o, combinado a uma queda significativa da média de idade de seus compradores. Em uma pesquisa da Gallup, de 2004, "63% das respostas afirmaram que comprar e vestir roupas feitas com pele de animais é moralmente aceitável'". Embora bons resultados para os não-humanos não justifiquem o sexismo, o sexismo não produziu qualquer bom resultado para os não-humanos.

Quarto, essas campanhas não vão fazer nada para encorajar a uma discussão séria sobre a exploração dos não-humanos, incluindo a importância do veganismo, os problemas do bem-estar animal, a condição de propriedade dos não-humanos, o pensamento especista, etc. Em vez disso, elas vão fazer com que qualquer pessoa pensante, que ainda não tenha repudiado o "movimento" por achá-lo estúpido, ofensivo e criançola, o repudie agora. Não é de admirar que outros progressistas evitem e marginalizem o tal "movimento".

A idéia de que a PETA acha apropriado terminar o vídeo de um strip- tease com uma citação de Martin Luther King sobre a injustiça é mais um sinal de que a organização está disposta a trivializar qualquer coisa e qualquer pessoa, na sua busca sem trégua de autopromoção. Talvez a PETA devesse recordar que o Dr. King conseguiu um importante avanço na causa pela justiça através de inteligência, tenacidade, dignidade e coragem, sem nunca "andar nu" para conquistar direitos civis, nem se engajar no sensacionalismo e na vulgaridade espalhafatosa que já se tornaram a marca registrada da organização.

Tenho criticado o sexismo da PETA desde o começo dessas campanhas, no início dos anos 90. E toda vez que levantei a questão com vários PETófilos, inclusive Ingrid Newkirk, eles me disseram que não há nada de errado com essas campanhas porque as mulheres participam delas de livre e espontânea vontade, e que andar nua "pelos animais" é uma expressão de feminismo. Dizer isso é tão ridículo quanto dizer que os atores afro-americanos que perpetuavam estereótipos racistas, em comédias dos anos 20 e 30, estavam obtendo vitórias para a igualdade racial. O fato dessa exploração ser "aprovada pela vítima" não significa que não seja exploração. Só significa que o sexismo está tão impregnado na nossa sociedade que muitas mulheres estão cegas para ele. Não é de surpreender.

Quem dentre vocês considerar a PETA "radical" precisa repensar sua compreensão do termo. Ser "radical" envolve ir à raiz ou à fonte. Uma solução radical é aquela que vai à raiz do problema e propõe uma mudança fundamental. As campanhas da PETA não se distinguem das abordagens tradicionais do bem-estar animal. O fato da organização também promover o sexismo e tentar ofender qualquer um só para conseguir a atenção da mídia não a torna "radical". A PETA não está agindo de forma a mudar o paradigma predominante de hierarquia especista e opressão –- ao contrário, está reforçando esse paradigma.

A PETA pode ter começado como uma organização que valia a pena, mas tornou-se um fim em si mesma. Vem usando os não-humanos explorados como meras "escoras" numa série interminável de autopromoções que a tornaram multimilionária. Abandonou qualquer pretensão de ser abolicionista, em qualquer sentido sério. A PETA está atrapalhando, e não ajudando, a causa dos direitos animais. Se você apoiar a PETA, deveria pensar sobre manter ou não esse apoio.

Mas, se o fato da PETA dar um prêmio à "visionária" planejadora de matadouros e exploradora de animais Temple Grandin, ou se a posição da PETA de que direitos animais significa animais mortos, não fizer você chegar à conclusão de que Newkirk e seus amigos foram longe demais, a ponto de perderem totalmente o rumo, então talvez um strip- tease frontal feito por uma mulher exaltando as virtudes do bem- estar animal, justaposto a cenas de exploração de não-humanos e terminando com o Dr. Martin Luther King, também não vão incomodá-lo.

Gary L. Francione
© 2007 Gary L. Francione
Trad.: Regina Rheda


Esta coluna é atualizada quinzenalmente, às segundas-feiras
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